sábado, 15 de setembro de 2012

Hail Apple!

Finalmente, depois de enrolar por uns dez meses, terminei de ler a biografia do titio Steve. E foi muito legal. Deu pra ver bem como ele era um grandessíssimo cuzão. Escroto pra caralho. Sabia manipular as pessoas como ninguém, fazendo-as trabalhar mais e melhor para cumprir com suas idéias loucas. De um certo modo, ele era o cliente/chefe mais mimado e desagradável que qualquer um poderia ter.

Mas, ainda assim, ele era um gênio.

Um gênio em descobrir e perceber o que acontecia à sua volta e criar um produto que não apenas fosse bonito e prático, mas que também funcionasse. E isso meio que virou o DNA da Apple, criar produtos que façam direito tudo que os dos concorrentes estão fazendo de errado, unindo funcionalidade e elegância, fazendo algo que as pessoas efetivamente queiram ter.

Sim, eu sou um Apple fanboy. Mas com motivo. Os produtos deles podem não ser perfeitos, mas eles funcionam. Funcionam infinitamente melhor que as outras merdas que existem por aí, isso eu te garanto. E, por eu querer viver uma vida mais fácil num mundo funcional, uso produtos Apple. Foda-se que Windows é melhor para games. Foda-se que usar Linux me ensina mais sobre o funcionamento de computadores (isso que eu trampo com programação). Foda-se que um telefone Android é mais “aberto”. Eu uso Apple porque, para mim, é melhor e ponto final.

E sim, este post inteiro vai ser eu punhetando uma para a Apple.


Nunca confie num homem com uma mão debaixo da mesa. Nunca.

Bem, mais ou menos isso.

Na verdade, quero falar de dois pontos: sobre a repercussão retardada que eu vi nas internets sobre a espetacular vitória da Apple sobre a Samsung na corte americana e sobre a visão que muita gente tem de que produtos Apple são para “criancinhas retardadas que só se importam com a modinha”.

Comecemos pelo primeiro ponto. O caso de quebra de patentes da Apple contra a Samsung.

Bem.

Então.

De algum modo mágico, a Apple virou a vilã dessa história.

As pessoas se convenceram de duas coisas:

Uma, que a Apple está praticando concorrência desleal, processando para fora do mercado os concorrentes que chupinham seus produtos. Essas pessoas também acreditam em coisas como duendes, papai noel e sistemas judiciários funcionais com decisões imediatamente executadas. Além de não entenderem o que é uma apelação judicial.

Basicamente, a Samsung vai apelar da decisão, o que faz a coisa toda enrolar mais uns meses, e até um juiz bater o martelo (literalmente) e mandar a Samsung pagar o que deve e calar a boca, sem mais apelações, deu tempo para ela tirar todos os smartphones que infrigiram as patentes da Apple do mercado, tornando a “parte 2” dessa história toda inútil.

Qual é a “parte 2”? É a parte onde a Apple tenta tirar do mercado todos os smartphones da Samsung que quebraram intencionalmente as patentes da Apple. Então, se você não sabia, a decisão do júri lá só gira em torno da multa. Para tirar esses aparelhos do mercado, a Apple tem que fazer outro processo (não sei se esse é o termo certo, algum advogado me corrija depois).

Então, essa visão que a Apple vai processar os concorrentes à falência é uma puta viagem de adolescente deslumbrado com teorias da conspiração. Não é assim que o mundo funciona.

Por enquanto, só falei da parte logística da coisa toda. Vamos para a parte, digamos, ética.

A Samsung chupinhou SIM os produtos da Apple. Basta ver o famoso slide que a Apple apresentou para os jurados durante o julgamento. Ou ver A PORRA DA DECISÃO DO JÚRI.

Sutil, não?

Isso gera a questão de “o que você faria se roubassem seu trabalho?”

Acho que não tenho que levantar essa questão para todos que já trabalharam de freela neste mundo. Principalmente aqueles que trabalham numa área criativa.

Por exemplo:

“Ah, mas é só um desenhinho/sitezinho/layoutezinho, meu sobrinho fez curso online disso, ele faz de graça.”

Ou…

“Então, gostamos do seu trabalho, mas como não vamos usar agora, também não vamos te pagar, ok?”

Vocês sabem do que eu estou falando. Se freelancers pudessem proteger judicialmente seu trabalho contra clientes pilantras, eles iam levar bem menos na bunda.

“Mas é um absurdo conseguir patentear ‘deslizar o dedo para destravar o telefone’!”

Mesmo? O que foi patenteado foi “um método para destravar uma touchscreen sem foder tudo”. Agora, vamos fingir que a Apple não criou/patenteou isso. Tente inventar um jeito de destravar um telefone com touchscreen QUE NÃO SEJA ACIONADO SEM QUERER PELA SUA BUNDA. É fácil tirar valor das descobertas quando já sabemos a solução. Ou seja, não é uma patente vazia. Há um propósito por trás.

O que eu quero dizer com isso é que, assim como o fundo azul-turquesa pastel e a fonte Helvetica Neue do seu design tem um propósito (melhorar a leitura, valorizar o conteúdo), diversos detalhes de software e hardware nos produtos da Apple (e de qualquer empresa) têm um objetivo prático. E, antes do primeiro produto com tais especificações, ninguém pensava na diferença que esses detalhes faziam.

“Ah, e a patente das bordas arredondadas? Isso é ridículo.”

Ok, vamos por partes. Eu não sou advogado. E não entendo como funciona o sistema jurídico americano, principalmente em relação à patentes, copyright e essas merdas. E também não sou engenheiro nem designer de produtos.

Tendo dito isto, fui lá ver a tal patente das bordas arredondadas (não consigo deixar um link direto pra patente, é preciso buscar ela nesse banco de dados - o número dela é D593087).

Até onde eu consegui entender, me parece que a patente não protege exatamente “bordas arredondadas”, mas sim a “quininha” do iPhone 3G/3GS. A partezinha prateada que você vê quando olha de frente para o aparelho. Só aquilo. E não “gadget com bordas arredondadas”. Só a porra da quina.

Ok, concordo que é tonto conseguir patentear isso, afinal, é só uma porra de um detalhezinho do design geral das coisas. Mas, convenhamos, também não é muito difícil fazer uma coisa diferente. E, caso vocês não tenham lido com cuidado a decisão do júri, essa foi a única patente que foi declarada como “quebrada sem querer”, ou seja,  a única patente que a Samsung quebrou inconscientemente, enquanto que o resto foi decidido que foi de propósito.

Resumindo, esse não foi aquilo que eu chamaria de um grande momento do sistema de patentes americano, ou melhor, do sistema de patentes, ponto. Mas não é como o povo tá berrando por aí, que agora ninguém mais vai poder fazer bordas arredondadas além da Apple. Ninguém mais vai poder fazer gadgets com uma quininha arredondadinha no mesmo ângulo que o da patente da Apple. Se isso era crucial para o seu design, desculpa, vai ter que pagar royalties ou uma licença pra Apple. Ou, se posso dar uma alternativa para o você, desiste dessa carreira e vai trabalhar com algo que não precise de criação, como colher lixo, dirigir ônibus ou telemarketing.

“Mas a Apple também roubou de outras empresas, como a Xerox.”

Errado. A Apple pagou à Xerox. Em ações. E a Xerox ganhou uma bela grana nessa. Se você pagou, não é mais roubo.

E outras coisas que as pessoas falam que a Apple “roubou”, ou já foram acertadas judicialmente ou, na verdade, são diferentes o bastante para serem qualificadas como “outra coisa”. O que não aconteceu com os telefones da Samsung.

“Mas a Apple não foi a primeira a fazer X, Y ou Z.”

Ela foi a primeira a fazer direito. A fazer com um propósito. Com um objetivo maior que “só para falar que tem”. Vou voltar ao assunto mais pra frente, então vamos deixar por aqui.

Eu poderia ficar respondendo argumento por argumento tonto que eu vi por aí, mas a real é: a Samsung roubou designs da Apple, e isso é errado. Eticamente, moralmente e legalmente errado. Ela tem que pagar por isso. Ninguém gosta de ser roubado, por isso fizeram leis protegendo a propriedade de cada um. Ponto.

Mas, sendo bem sincero, existe sim um problema aí.

Se alguém devia ser considerado o vilão dessa história, devia ser a porra do sistema de patentes e copyright, que não faz o menor sentido e está completamente ultrapassado. Com o palavreado certo, é possível patentear qualquer coisa. Basta conferir o cara que patenteou um “aparelho circular facilitador de transporte”, também conhecido como “roda”.

Mas o sistema não é culpa da Apple. Assim como não é responsabilidade dela tentar mudar ele.

Quando você está participando de um jogo, você segue as regras dele. Mão na bola é falta, você não tenta começar uma revolução durante o jogo onde você acha que futebol vai ficar mais dinâmico se inserirem elementos de vôlei.

A não ser que você esteja jogando Calvinbol.
Enfim, chega de falar de patentes e roubo de trabalho alheio. Vamos para a segunda coisa que eu vi as pessoas tirando do cu e jogando na internet sobre a vitória da Apple.

Que a Apple vai acabar com a inovação do mercado de smartphones.



Isso é tipo falar que a religião vai acabar com as guerras.

Sério, se alguma empresa merece um troféu por ter inovado e revolucionado essa merda de mercado de smartphones, essa empresa é a Apple.

Vamos começar revendo como eram os smartphones antes e depois do iPhone.

É, tô preguiçoso hoje, foda-se.

Agora vamos para a real questão em torno desse argumento: ao proteger a sua invenção, a Apple limita o que outros podem criar, pois eles vão ficar com medo de serem processados pela Apple.

Bem.

Então.

Novidade pra você, amiguinho.

Se você não consegue se esforçar e pensar em algo diferente, chegando ao ponto de ser processado por quebra de patentes ou plágio, VOCÊ NÃO ESTÁ INOVANDO PORRA NENHUMA. Você só está imitando o que deu certo na esperança de pegar a rabeira de um mercado criado por outros. O que leva à questão que muitos concorrentes do iPhone usam como campanha: “sou quase igual, mas melhor”.

Nesse momento que devemos dar uma salva de palmas à Microsoft, que ela está tentando fazer diferente. E, na minha opinião, inovação vem de “diferente”, e não de “quase igual”.

A alternativa é aquilo que a Samsung e outras empresas (inclusive a Apple, sendo bem sincero) fizeram com inúmeros produtos: modificar ele o bastante para não ser qualificado como uma quebra de patente. E isso não é inovação. É mais do mesmo.

E, além disso, a Apple está disposta a licenciar suas patentes para quem quiser usar nos seus produtos. Assim como a Nokia fez com todo mundo (incluindo a Apple) e a Microsoft fez com o Google no Android.

Enfim. Chega de falar da magnífica vitória da Apple sobre a Samsung. Caso alguém queira ler uma análise melhor e mais inteligente, escrita por alguém do meio, vai aqui.

Vamos ao segundo ponto. O modo como muita gente despreza usuários de produtos Apple como “seguidores de modinha”.

Ok, não duvido que existam usuários Apple que são, de fato, pessoas superficiais que só seguem “modinhas”. Assim como devem ter usuários Linux que nem sabem usar o terminal direito, mas usam só para parecer mais “h4x0rz t0 t3h m4x0rz”. Ou ainda pessoas que têm pênises enormes que dirigem Ferraris. Não devíamos generalizar tão rápido as pessoas.

Mas esse é um argumento muito “tucano”, como gosto de falar. Basicamente, estou apelando para “a paz entre os povos, cada um é cada um, vamos todos conviver numa utopia de aceitação”, sem tomar partido nenhum.

Então vou tentar ser mais macho (sinônimo de escroto), bater o pau metafórico na mesa e fazer uma declaração em voz (caixa) alta:

PRODUTOS APPLE SÃO OS MELHORES QUE EXISTEM! …ISTEM! …ISTEM!

POR ISSO QUE AS PESSOAS COMPRAM! …OMPRAM! …OMPRAM! …OMPRAM!

NÃO SEI COMO DESCER DAQUI! ..QUI! ...QUI! ...QUI!

Pronto.

Tendo dito isto, vou falar sobre minha experiência com a Apple. Os dois momentos que me transformaram em um Apple fanboy. E não teve nada a ver com “modinha” nem porra nenhuma. Teve a ver com “perceber que a vida pode ser melhor”.

Primeiro momento: iPod.

Meu primeiro iPod foi o iPod Nano Gorditos (3ª geração). Até hoje é meu design de iPod favorito. Me identifico com ele. Sei lá, ele é adiposo como eu.

Antes de ganhar ele, eu tentei uns 700 mp3 players genéricos de 50 reais do ching-ling. E todos eram uma bosta. Davam pau, a música ficava zoada, só saía som de um lado do fone, enfim. Problema atrás de problema.

Mas tinha uma coisa que realmente me deixava absolutamente puto: o shuffle. Que não funcionava, ou simplesmente não existia. Aliás, até já falei disso antes.

A maior picaretagem desses shuffle falsos era que ele randomizava as músicas UMA vez, e não toda vez que eu apertava play. Funcionava assim: colocava as músicas lá, apertava o shuffle, ele misturava. Desligava o troço, dia seguinte, apertava o shuffle de novo, estava na mesma ordem de ontem. Não importava quantas vezes eu apertase a porra do shuffle ou desligasse e religasse o troço, a ordem se mantinha - diferente da ordem que eu coloquei os arquivos, mas ainda assim com uma repetição. O que tornava a coisa toda inútil.

Só que aí vem a pergunta: por que não testar de outra marca, mais melhor de boa (isto é um erro gramatical sarcástico, caso alguém queira reclamar), ao invés de insistir nos ching-ling ou ter ido direto para a Apple?

Boa pergunta. Não tenho resposta. Na época, já tinha um Macbook, e já era fã de Macs. Provavelmente foi algo como “integração iTunes - iPod”.

Enfim, ganhei o iPod e, só de colocar músicas nele já foi uma experiência digna de um jorro de luz multicolorida caindo dos céus sobre o meu ser. Foi só escolher as playlists do iTunes e fim. The end. Estavam lá as músicas que eu queria ouvir por aí.

Daí teve o momento “descobri que a vida é boa”, com a click wheel. Era tão legal ficar girando aquela coisa. Bem melhor que ficar apertando o botão para ir um de cada vez. Sei lá, acho que dava uma sensação de brincar de abrir um cofre, ou um sentimento nostálgico por telefones de discar, ou minha imaginação fértil de adolescente loser me fazia imaginar mamilos femininos, mas eu me divertia muito com a click wheel. Pena que é uma tecnologia que vai morrer, já que tá tudo virando touchscreen.

Em seguida, veio o momento das lágrimas de emoção e felicidade Disney. O shuffle. Nossa. Foi lindo. Finalmente, cada hora vinha uma música diferente depois de Bohemian Rhapsody (a música que sempre iniciava o meu dia, na época - hoje em dia estou numa fase Gangnam Style).

Foi mais ou menos assim, se não me engano.

Ou seja, o iPod fez com que eu finalmente gostasse de sair pela rua ouvindo música.

Antes dele, eu tive os ching-ling de merda, que mais me irritavam do que me distríam da realidade, ou o meu discman, que soluçava a cada três passos que eu dava. E não, não tive walkman antes disso.

Bem, só para ser justo, houveram coisas que eu não gostei. O iPod não conseguia atualizar instantaneamente minhas smart playlists, o que me forçava a conectar ele todo santo dia no Mac (na verdade, até hoje o iPhone também é bem burro com smart playlists, mas não é isso que vai fazer com que eu desista da Apple). E não gostei do fonezinho branco, achava ele meio incômodo.

Houve também uma coisa que o iPod trouxe para minha vida, mas que só fui começar a ouvir pra valer depois de algumas semanas com ele: podcasts. Eu sou um grande rato de podcasts hoje em dia, acho até que ouço mais que música. E foi o fato do iTunes baixar eles automaticamente quando atualizam e sincronizar eles com o iPod que facilitou o processo. Imagina ter que baixar o arquivo no site do podcast e arrastá-lo até o mp3 player toda santa vez que o podcast fosse atualizado? Tenho mais o que fazer da minha vida.

Vamos agora para o segundo momento de “digivolvendo para um Apple fanboy”: o iPhone.

Nunca fui muito de usar celular. Ou mesmo telefone. Já não gosto de conversar ao vivo, imagina por telefone. Sei lá, não tenho muito saco.

Mas faz parte da vida moderna ter um celular, logo eu ganhei um quando fui pra faculdade (minha avó ficava preocupada que acontecesse alguma coisa com o netinho querido dela, tão dependente e incapaz de se virar sozinho) (e ela estava coberta de razão, até hoje tenho que pedir ajuda pra amarrar os tênis). Era o clássico Nokia com snake da BCP. Usei ele por anos, acho que até me formar.

Em seguida herdei um celular da minha avó. Era um bem simplão, não lembro agora se era da Samsung ou da Siemens. Enfim, era bom o bastante.

Aí veio o anúncio do iPhone.

Olhei para o iPhone, para quanto ele custava, para todas as suas funcionalidades e para o quanto eu usava o meu celular. E percebi que seria estúpido comprar ele. Afinal, eu usava muito pouco o celular. Recebia ligações de vez em nunca, e SMSs só da Vivo com propaganda. Ver meu e-mail em qualquer lugar? Pra quê? Eventualmente eu volto pra casa, meu e-mail não vai pra lugar nenhum. Música? Tava feliz com meu iPod Gorditos. E eu tinha um DS, fodam-se os games da App Store (como no começo não existia a App Store, essa desculpa do DS só surgiu depois).

*** Antes de eu continuar, uma pequena observação: se você é desses retardados de merda que fala “A-Pê-Pê” Store, me faça um favor e se mata enfiando uma chave de fenda enferrujada na própria uretra e sangrando até a morte. Ou com o tétano te matando. Sério. Se não tem coragem de fazer isso, me chama que eu terei o maior prazer em ajudar. Com o bônus de eu ficar te chutando nas laterais das suas articulações, para seus membros ficarem em posições estranhas, uma coisa meio bonecão de posto. A pronúncia correta é “Ép”. Não é uma porra duma sigla. É um diminutivo para “Application”. Logo, App. Pronunciado “Ép”. Obrigado. ***

Seguindo essa lógica, não fazia sentido algum eu sequer ter um smartphone. Seria um grande investimento que eu acreditava que não ia aproveitar.

Só que, dois anos depois do lançamento do primeiro iPhone,  o meu celular tava ficando velho, com problemas no speaker, dava uns chiados estranhos. Então resolvi correr atrás de um novo. Novamente, olhei pro iPhone (o 3GS, na época), e vi que não valia a pena ainda. Por isso, fui buscar um celular comum (conhecidos, hoje em dia, como dumbphones, pela elite geek chata).

O vendedor acabou me convencendo a levar um modelo da Samsung com touchscreen, o Corby (não que seja difícil me convencer de comprar qualquer coisa, é só ver o tipo de roupas que eu compro quando vou em lugares como a C&A). Ele usou algum argumento como “é mais moderno e next generation” ou coisa parecida.

Ei, pelo menos não estou usando crocs.

Enfim, achei interessante arranjar um com touchscreen por causa da versatilidade que eu vi essa tecnologia trazer através do iPhone.

MAS.

Puta merda.

Caralho.

Como aquele celular era estúpido.

Não me lembro de todos os detalhes, mas me lembro claramente do que me deixou absolutamente insandecido de raiva.

O teclado.

Que aparecia na touchscreen.

Era.

Numérico.

Para digitar letras.

CARALHOPORRACUÂNUSCACETEBUCETAQUEMEEEEEERRRDAAAAAAA!!!

Ok. Respirando. Pronto.

Vamos de novo, passo-a-passo.

• Primeiro, você põe um touchscreen num celular.

• Segundo, você faz com que a tela só tenha um tipo de teclado. O numérico. Para todas as funções de digitação.

• Terceiro, você faz o seu cartão de natal da APAE.

Eu realmente entendo as empresas quererem desconto nos impostos contratando gente com sérias deficiências mentais para planejar os produtos delas, mas tem hora que força a barra.

No momento que esse Corby estúpido não me apresentou nenhum teclado QWERTY quando quis testar mandar SMSs, ele me fez perceber a real genialidade da Apple. Eles não colocaram touchscreen no iPhone pensando que ia ser só “diferentoso” ou “prafrentex”, como o vendedor me disse sobre essa bosta da Samsung. Eles fizeram isso pensando no usuário.

Hora de entender qual o glorioso propósito para titio Steve e Sir Jony Ive terem escolhido o protótipo de iPhone com touchscreen ao invés do que ia ter uma click wheel: VERSATILIDADE.

Deixando a interação do usuário com o aparelho para ser definida pelo software, você libera espaço para a tela, diminui o gadget e simplifica a vida do usuário por disponibilizar apenas o que será necessário para usar o software rodando no momento.

Ou seja, se vou discar um número de telefone, a tela exibe um teclado numérico e, se vou digitar um SMS ou um e-mail, o teclado se torna o clássico QWERTY para eu digitar PALAVRAS. ESCRITAS COM LETRAS.

Foi nessa hora que eu definitivamente vesti a camisa e me batizei na água santa de Cupertino, me tornando um Apple fanboy. Mesmo depois do iPod Gorditos, eu ainda não estava tão comprometido com a causa. Mas, depois do iPhone 4, acredito piamente que os produtos Apple que tenho fazem minha vida melhor. Sério.

Querem saber porquê? Porque os produtos deles são pensados na experiência do consumidor.

Eles olham para os próprios produtos e tentam simplificar a experiência. Torná-la mais acessível. Mais fácil. Melhor. Não ficam inventando utilidades que ninguém usa, ou acrescentam saídas e portas e tecnologias só porque é novidade.

E ainda fazem mais uma coisa, muito importante, na minha opinião: eles educam os consumidores. Mostram pra eles como é design bonito, como é um produto com elegância e como largar tecnologia velha pra trás. Se não fosse isso, ainda teríamos computadores com disquete e todos teriam design by Romero Britto.

Enfim, como a Apple consegue criar a melhor experiência e educar o consumidor? IGNORANDO TODO MUNDO. Ignorando os consumidores, os investidores, as análises de mercado, a mídia e os concorrentes. O que importa é eles se sentirem satisfeitos com o que estão criando.

Sim, sim, eles eventualmente lançam coisas só para agradar os investidores, assim como acabam cedendo a certas pressões dos clientes para manter ou mudar certos produtos. Mas, no geral, a Apple está cagando e andando. Ela só quer fazer o melhor produto.

E é por isso que eu admiro, adoro, venero e boqueteio a Apple.

Antes que alguém me julgue, ele me pagou um drinque e disse que eu era bonito.

Se você não gosta da Apple, ok, você tem o direito. Mas só vou te levar a sério se seu argumento girar em torno de “não supre minhas necessidades com um computador/gadget”, como no caso de gamers hardcore de PC, ou “tive produtos Apple, e realmente não são para mim”, o que tudo bem também. Sério. Nem todo mundo gosta de bacon, chocolate e pizza.

Mas se seu argumento for “porque é só modinha” ou “porque não é aberto” ou “porque é mais caro”, e você nunca teve um produto Apple, me faça um favor: enfia a sua cabeça na buceta da sua mãe e esquece ela lá dentro, que alguma coisa deu muito errado quando tiraram você de lá.

Para finalizar, uma última coisa que eu admiro na Apple, e que eu quero que todos pensem antes do fim.

A Apple, atualmente, é uma das, senão a, maior empresa do mundo. Tem mais dinheiro guardado que o governo Norte-Americano. Seu valor de mercado em Wall Street bateu o recorde histórico. E possui margens de lucro recorde. Tudo isso é impressionante.

Mas o mais impressionante disso tudo é que ela é uma empresa que fabrica e vende produtos direto para o consumidor.

Ela não vende matéria-prima, como petróleo. Ou vende produtos para outras empresas. Ou é uma rede de revendedores de tudo e mais um pouco.

Eles vendem coisas. Tecnológicas. Gadgets. Computadores.

Pára pra pensar um pouco: como é possível que uma empresa que vende tocadores-de-musiquinha (expressão que um tio meu usou para definir o iPod) tenha mais valor e mais dinheiro que uma petrolífera?

Os tempos mudaram? Nem tanto, ainda usamos carros movidos a gasolina, sem contar os inúmeros produtos derivados do petróleo.

O mercado financeiro está louco? Talvez. Aliás, a resposta aqui é “provavelmente”, mas a real é que o mercado financeiro não faz o menor sentido mesmo (algum dia exploro esse tema com mais detalhe).

Eles não vão conseguir manter os números que eles estão tendo, logo, são uma bolha que vai explodir? Muito provável.

Mas isso não muda o fato que, no momento, uma empresa que fabrica e vende produtos para consumidores está no topo do mundo. E esses produtos não são comestíveis.

E sabem o que é o mais legal disso?

Eles chegaram lá fazendo aquilo que eles acreditavam ser o melhor para eles. Criando aquilo que eles acreditavam ser a melhor experiência para o consumidor. Mostrando para o consumidor o que ele queria, ao invés de ficar correndo atrás de números do departamento de vendas ou pesquisas de mercado com grupos-de-público-foco-alvo.

Criando coisas legais, elegantes, fáceis de usar e que funcionam. E não empacotando o que tinha e cortando custos aleatórios para vender a maior quantidade de produtos possível antes do cliente ligar reclamando.

Agora compara isso com a filosofia de mercado da empresa onde você trabalha.

Pois é.