sexta-feira, 26 de julho de 2013

Cidadão Kent

Oi. Depois de assuntos sérios, voltemos às nerdices.

O assunto de hoje é o filme novo do Superman, “Man of Steel”. Se você não viu ainda, vou contar uma série de detalhes da história, então se você não gosta de spoilers, o Superman na verdade é o Clark Kent e você deve parar de ler agora.

Muito bem, vamos falar do filme.

Eu gostei do filme. Menos do que eu achei que ia gostar, mas me diverti bastante. Fui com uma expectativa meio alta também, e isso sempre estraga as coisas. Mas gostei do filme.

Quando saí do cinema.

Agora que já passou algum tempo e estou digerindo a experiência toda, estou começando a ficar incomodado com uma série de coisas. Na verdade, tiveram algumas coisas que me incomodaram ainda no cinema, mas que agora estão crescendo sem parar e me irritando.

Mas vamos por partes. Minha proposta, neste post, é recontar a história do filme do meu jeito. Sim, eu, este grande fã do Superman que nunca leu nenhuma HQ dele e que só viu aproximadamente metade dos episódios da série animada da Warner. Sem contar toda a minha credencial como escritor/roteirista, com todos os meus um fanzine de sucesso e o glorioso e aclamado prêmio de roteiro de mangá da AnimeFriends 2003 (ou 2004, não lembro e não me importo).

E aqui é onde ficaria algum prêmio decente para minhas capacidades literárias... Se eu tivesse algum

Em outras palavras,o blog é meu e eu escrevo o que eu quero e foda-se.

Muito bem, vamos do começo.

O começo é bom e eu deixava do jeito que está.

Por “começo”, estou falando da coisa toda em Krypton, com o Jor-El, a Lara e o Zod, contando o nascimento do Kal e o fim do planeta. Por mim, tá perfeito, deixa do jeito que está, até a parte que mostra a cápsula espacial chegando na Terra.

Daí temos o que eu chamo de “segundo ato”, que é a vida do Clark na Terra até a chegada do Zod. A partir daqui que eu mudaria as coisas. E faria o seguinte: ao invés de acompanharmos ele, como está no filme, eu deixaria a Lois conduzir a história.

Começaríamos com a Lois chegando no Canadá para reportar sobre a nave que encontraram debaixo do gelo. Acompanharíamos ela naquela coisa toda dela ver o Clark indo para o meio do nada durante a noite, com ela entrando no túnel no gelo e etc, mas sem mostrar o que ele está fazendo em momento algum. Ela seria atacada pelo robozitos de segurança e coisa e tal, o Clark aparece pra salvá-la e cauterizar o ferimento dela. Veríamos a nave indo embora e a Lois sendo encontrada.

Seqüência seguinte, ela discutindo com o Perry White Morpheus sobre a matéria, ela “vazando” a história e sendo afastada do Planeta Diário. Aí começava o que estou chamando de “Cidadão Kent”.

Para quem não viu “Cidadão Kane”, e não vou criticar quem não viu, a história gira em torno do repórter Jerry Thompson explorando a vida do milionário Charles Foster Kane, tentando descobrir porque sua última palavra foi “rosebud” antes de morrer (spoiler: é o apelido do pênis dele). E acompanhamos a vida de Kane através das diversas entrevistas que Thompson conduz com as pessoas que se envolveram com o milionário. Em outras palavras, flashbacks. Minha descrição não faz jus ao filme, quem tem saco de ver filme em PB eu recomendo, que é realmente bom.

E para quem não tem saco de ver filme em PB, vai largar a mão de ser idiota que muitos dos melhores filmes da história são em PB.

Enfim, voltando ao Superman. Uma das críticas que mais vi sobre o filme foram os flashbacks, que seriam excessivos e desconectados com o que acontece no “presente”, dando uma impressão meio aleatória para eles. Devo dizer que não me incomodei tanto com eles, mas concordo que poderiam ter sido melhor trabalhados.

Como?

Sendo narrados pelas pessoas que a Lois foi descobrindo ao investigar o cara com poderes mágicos que a salvou dentro da nave debaixo do gelo.

Funcionaria que nem “Cidadão Kane”, com ela encontrando e entrevistando uma pessoa, que narraria o episódio muito louco em que sua vida foi salva (ou seu caminhão foi destruído) pelo moreno smexy de peito peludo. Veríamos a trajetória do Clark em retrospectiva, até chegar na Martha, a mãe dele. Nesse momento poderíamos ter a história da morte do pai terráqueo (Jonathan) e, em seguida, a cena do cemitério, em que ela finalmente se reencontra com Clark, que contaria do dia que o pai revelou que ele é um alienígena.

Sim, eu sei que, do jeito que os flashbacks estão, eles não encaixariam perfeitamente nessa minha proposta, mas a idéia seria adaptar de acordo com a necessidade. E acho que assim fica uma coisa mais interessante, onde vamos criando essa imagem do Super sem vermos ele efetivamente. É como se recríassemos o Clark na nossa cabeça, fugindo de tudo o que já sabemos dele.

E tem uma coisa que eu “forçaria” nesse ato, que é demonstrar que “Superman não mata”. Conforme vou falar mais pra frente, acho importante construir essa idéia desde já.

Enfim, aí terminaria o ato “Cidadão Kent”. Na verdade, até esticaria mais um pouco, até a parte da Lois falando com o Perry White Morpheus que ela desistiu da história.

Só que ficou faltando uma seqüência: o Clark aprendendo o seu passado na nave com o Jor-El.

Antes de eu encaixar ela na minha versão do filme, tem duas coisas que me incomodaram profundamente nessa seqüência.

A primeira é a Lara-El não aparecer. Eu realmente acho uma certa puta sacanagem só o Jor-El ficar aparecendo como holograma-consciente-resolvedor-de-buraco-no-plot. Eu entendo o argumento “o Russel Crowe é mais caro, temos que aproveitar a grana que pagamos e fazer ele aparecer e falar bastante”, mas eu realmente acho estúpido não aparecer o holograma da Lara e o Clark/Kal NÃO PERGUNTAR SOBRE A MÃE NÃO ESTAR LÁ.

Até poderia ter a desculpa que naquele pen-drive kryptoniano não cabia a consciência dela, mas não cola: ficou uma coisa machista. Talvez Krypton seja mesmo só uma sociedade uber-patriarcal de merda.

A outra coisa que me deixou profundamente irritado foi a parte do discurso do Jor-El onde ele fala “você representa a liberdade de escolha, sem um futuro pré-definido” e em seguida diz “por isso sua missão é salvar e guiar as pessoas deste planetinha”.



Muitas memórias desagradáveis de familiares falando coisas como “faça a faculdade que quiser, desde que seja engenharia ou medicina”.

Jor-El, em nome de todo filho/filha que ouviu algum tipo de variação do seu discursinho hipócrita, vai tomar bem no meio do olho do seu cu.

O que eu faria ele dizer ao invés disso? Acho que ficaria só na questão do “você representa a libertação do povo de Krypton dos seus erros” e não falaria nada sobre missão nem porra nenhuma. O Clark/Kal perguntaria sobre o porquê de estar na Terra e Jor-El e Lara respondem “isso é você quem decide e constrói”.

Fica clichê melosinho e com um certo ar de chantagem emocional passivo-agressiva onde eles estão dando a entender que “se você escolher o caminho errado, vamos ficar profundamente decepcionados”? Fica, mas acho menos irritante que a versão hipócrita que tá lá.

Corrigido o que me incomoda nessa seqüência, falta encaixar ela na minha estrutura do filme. Eu a transformaria em outro flashback (quietos, não discutam), que ele contaria na sala de interrogação para a Lois, depois da ameaça em escala global do Zod e depois dele ter se entregado para o exército. Do jeito como a história está indo, funciona. Acho.

“Mas ele não pode contar para os militares sobre o planeta dele.”

Não vejo porque não, pra dizer a verdade. Até porque ele estaria contando para a Lois, que ele sabe que acredita nele. Ah, ele contaria também sobre aprender a voar, que eu gosto bastante dessa seqüência, é um dos momentos que mais me identifiquei com o Superman, já que eu provavelmente faria as mesmas caras de felicidade divertida que ele.

Agora que terminamos com o passado do Clark e ele virou oficialmente o Superman, podemos resolver o resto do filme, o ato final, que é a chegada e a treta com o Zod (sim, o Zod já chegou, mas deixem estar).

No geral, gosto de como o Zod é retratado no filme, assim como as tretas do Superman com ele, a Faora e o “camiseta vermelha”. E eu gosto da coisa da atmosfera terrestre versus a atmosfera kryptoniana, apesar de ter visto algumas pessoas (acho que umas duas) reclamarem disso. Eu prefiro isso que kryptonita. De uma maneira meio tonta, faz mais sentido que “esta pedra verde/preta/rosa/furta-cor de Krypton”. Espero que não tirem kryptonita do cu no próximo filme, a fraqueza dele tem que ser o Batman e fim.

Só que, como não podia deixar de ser, tem algumas coisas que me incomodaram. Profundamente.

A primeira: por que eles levaram a Lois para a nave?

Não lembro da explicação dada no filme. Se alguém se lembra, por favor me ilumine, talvez até tenha sido algo muito válido e que faça todo o sentido do mundo.

Mas, no momento, não consigo pensar em nenhuma explicação lógica o bastante para ela ter sido levada pra lá.

Para ser uma refém e chantagearem o Super? Bem, então eles realmente não sabem usar uma refém, pois não me lembro de ninguém apontando uma arma na cabeça da Lois exigindo informação dele. Sem contar que eles tinham sete bilhões de reféns, não precisavam da Lois na nave - eles dão a entender que podem matar todos os humanos desde que chegam na Terra, bastaria seguir o exemplo do Grand Moff Tarkin.

Tudo o que eu vi acontecer foi eles assistirem o Superman passar mal e prenderem ele, COMO ELES ESPERAVAM QUE FOSSE ACONTECER. Ou seja, se eles sabiam que, no mínimo, Kal ia perder os poderes na nave, não ia ser difícil prum bando de soldados kryptonianos prenderem ele, o que tiraria a necessidade de ter uma refém. Na nave.

Ok, então ela não era uma refém. Existe outra explicação possível para terem levado ela: extrair as informações que eles queriam dela (no caso, o local da cápsula com que Kal-El chegou na Terra), caso não conseguissem com ele.

Bem, eles demonstraram que possuem uma tecnologia capaz de invadir e ler a mente de qualquer um. E não tinha como eles terem certeza de que ela saberia onde estava a cápsula. Mas eles tinham certeza mais que absoluta que Kal saberia. Tipo, sem a menor sombra de dúvida. Logo, não precisavam da Lois lá, pois eles conseguiriam a informação com o Kal de qualquer jeito.

No final das contas, o verdadeiro motivo da Lois estar na nave é: “nós, roteiristas, precisamos fazer com que o Superman consiga escapar” e ela era a solução mais próxima, além de servir pra ela ser mais “útil” que uma mocinha em perigo esperando o príncipe pra salvá-la. Nada contra essa parte dela ser mais “útil”, acho muito válido, mas preferia que os roteiristas tivessem se esforçado um pouco mais para justificar a ida dela à nave.

O problema é que não tenho nenhuma alternativa melhor. Podia ser o clássico “ela quis ir e encheu tanto o saco que a Faora levou ela junto”, mas essa é uma alternativa pior, que ia fazer todo mundo (tanto os personagens do filme quanto o público) ficar meio de saco cheio com a Lois. Outra possibilidade é a Terra (subentenda: os EUA) ter preparado uma comitivazinha pra ir na nave como embaixadores da Terra (América) e a Lois conseguiu sei lá como ser a representante da mídia da Terra (Iú És Ei! Iú És Ei! Iú És Ei!). Só que essa também é ruim, já que ninguém em sã consciência iria preparar embaixadores depois de ter recebido uma ameaça de extermínio.

No final, por mais que eu queira manter a importância da Lois como parte da solução (ou seja, ela ajudando o Super a fugir), acho que o melhor seria o Superman ter conseguido fugir “sozinho”, com a ajuda do pai-holograma e a mãe-holograma, e a Lois nunca ter ido pra nave. Sei lá, ele enfiou o pen-drive do pai, que estaria escondido, numa das diversas entradas USB da nave.

Enfim, segunda coisa que me incomodou, e que, novamente, não me lembro com todos os detalhes e posso estar falando do cu: o fato do Zod ter levado a nave “última esperança de Krypton” para a treta, o que, em última estância, colaborou para o Superman ter destruído ela.

Acho que essa é bem auto-explicativa: se aquela nave era tão importante, por que caralho levar ela pro meio da merdaiada?

Aí que entra em cena minhas memórias fabricadas do filme e eu precisaria de mais gente me corrigindo (a pessoa com quem vi o filme me disse que estou lembrando errado, mas queria ter mais gente apontando o dedo na minha cara e falando que estou enganado) ou confirmando o que eu lembro: o Zod foi com outra nave até a Nave Jesus, logo ele podia simplesmente ter largado a Nave Maomé lá na neve e ter ido com a outra nave até a treta, mantendo a Nave Luke Skywalker a salvo.

Só que eu posso estar errado e, na verdade, ele foi de carona pra lá e ficou de voltar com a nave Frodo mesmo. Aí não tinha muito o que fazer. A não ser, por exemplo, ter estacionado a Nave Harry Potter perto de Metropolis e ter ido saltitando pra treta.

Ou, quem sabe, ter deixado pra ir pegar a Nave Siddhartha depois que tudo estivesse 100% garantido e salvo. Acho até que essa teria sido a melhor solução, principalmente para criar o dilema para o Clark/Kal se ele ressuscita ou não os kryptonianos.

Mas era importante para a luta final deixar o Zod sem ter nada a perder, então eu entendo os roteiristas terem destruído a Nave Acabaram Os Salvadores Do Meu Repertório E Não Estou A Fim De Pesquisar Mais. Mas que pareceu uma péssima decisão do Zod, pareceu.

E, assim, chegamos à terceira coisa que me incomodou nesse ato final, e que foi o que mais me irritou no filme inteiro: a seqüência da Grand Central Station.

A parte que o Superman mata o Zod.

Muito bem.

Caralho.

Como eu me irritei com essa parte.

Comecemos com o motivo mais banal possível: milhões de pessoas já tinham morrido até aquela parte do filme, por que caralhacete aqueles transeuntes tontos que não sabem fugir duma cidade sendo destruída seriam tão importantes assim?

Sério, o Super não percebeu que eles arrasaram a cidade inteira enquanto lutavam, não? Acho até que era para ter umas manchas de sangue alheio nas roupas deles, ou mesmo um membro arrancado de alguém que foi explodido quando um dos dois saiu voando dentro de um prédio.

Como sou um fresco, não tive muita coragem de procurar imagens de "membros decepados ensangüentados" no Google, por isso desenhei alguns. Só que depois de dez minutos, cansei, e deixei só esses. Me deixem em paz.

Ou seja, que bosta, heim, Superman? Saiu destruindo tudo e agora que você fica preocupadinho que uns quatro ou cinco inocentes vão morrer?

Na verdade, o problema não é bem pesar a vida de poucos contra a vida de milhões (apesar de que é exatamente isso que eu fiz nos parágrafos anteriores), mas sim que faltou “drama” nessa cena. Faltou impacto cinematográfico-emocional. Ou seja, pelo menos pra mim, ficou uma coisa meio “sério que você matou o Zod só por isso?”

Voltando ao que eu falei lá na parte do “Cidadão Kent”: do jeito que o filme está, acho que não foi bem passada a idéia de que “Superman não mata”. Por causa disso, imagino que quem não conhece essa faceta dele, não entende direito o porque dele ter sofrido tanto ao matar o Zod, o que tira boa parte do peso emocional dessa seqüência.

A outra coisa é que temos (ou eu tive, pelo menos) a sensação que o Superman só sofreu com a morte do Zod, e não percebeu todas as outras milhões de mortes que aconteceram, em certo grau, por causa dele.

Faltou o Super ter olhado em volta, visto o rebosteio que ele causou na cidade lutando com o Zod (ou mesmo ter percebido todas as mortes que foram causadas pelo Zod antes da treta ter começado) e isso ter pesado ainda mais na consciência dele para matar o cara, e não só os transeuntes tontos sendo ameaçados.

E, por fim, temos os transeuntes tontos.

Sim, é moralmente discutível pesar a morte de milhões contra a morte de quatro/cinco pessoas, mas eu realmente acho que poderia ter sido algo mais exagerado, como o Zod ameaçando derrubar mais alguns prédios com a visão de calor. Ou uma usina nuclear, sei lá.

Só que ameaçar algumas estruturas de concreto não causa tanto impacto emocional quanto ameaçar pessoas de carne e osso com olhares de desespero e choro para a câmera captar, então vale mais a pena ameaçar os tais transeuntes tontos.

Mas aí eu sinto que foi desperdiçada uma chance de ouro de terem “hollywoodizado” ao máximo essa parte.

Estou falando do Zod ter ameaçado um pai com o seu filho, e ter tido aquela troca de olhares entre o Super e a criança, deixando a coisa bem melosa pra caralho, com o pai em tal posição que percebemos que ele está disposto a dar a vida pelo filho.

Sério, como foi que não fizeram essa cena assim?

Hollywood, tem hora que você me decepciona.

E, quanto mais penso em todo o potencial perdido dessa seqüência, principalmente no sentido de não ter sido trabalhada a coisa toda do “Superman não mata” e o apelo emocional de “pais estão sempre dispostos a dar a vida pelos filhos”, fico irritado. Pra cacete.

No fundo, repensando o filme inteiro, a sensação que eu tenho é de “potencial desperdiçado”. Poderíamos ter tido um filme mais interessante, com um Superman mais humanizado e uma narrativa mais trabalhada. Mas parece que quiseram cortar uns caminhos e fazer do jeito mais fácil.

E eu também tenho plena consciência que a minha versão da história não é tão melhor assim, até por ser um tipo de “salada tonal”, onde o ritmo da narrativa muda demais de um ato para outro.

Só que, como um bom nerd, tenho que reclamar e inventar minha versão da história e acreditar que ela é melhor que a que está lá. Afinal, isso é algo que nerds fazem, não é mesmo?

quarta-feira, 19 de junho de 2013

A lei que o Brasil mais precisa

Sim, outro post. Já. É o que acontece quando tenho assunto.

E sim, esse título é metido e pretensioso. Mas é que estou tentando chamar a atenção.

Enfim.

Na verdade, este é um “projeto de lei” antigo meu, que eu penso nele faz tempo. Até já pensei em escrever sobre ele no blog antes, mas achava que não havia muito propósito em compartilhar a idéia com o mundo. Achava que, magicamente, a sociedade ia ler minha mente, validar minha lei e mudar o país pra melhor. E também achava que não adiantava nada compartilhar a idéia que não ia passar de mais uma “idéia papo de buteco pra mudar a realidade”.

Mas, considerando a situação atual do buteco, é capaz de me ouvirem.

Ainda acho que essa idéia não vai dar em nada, mas agora, com os protestos e etc, me sinto mais confiante em compartilhar a proposta.

Chega de enrolar.

A lei se chamaria “Lei Quem É Que Manda Nesta Merda” e consiste, basicamente, de um teto salarial para o Poder Legislativo atrelado ao salário mínimo e que só pode ser alterado através de um referendo.

Pronto. Resolveu o Brasil. The end.

Ok, vamos explicar.

Primeiro, se tem uma coisa que eu acho o fim da picada é que o poder legislativo tem controle sobre o próprio salário.

Não sei se existe isso escrito em algum lugar, mas acho que é um tipo de regra óbvia para o bom funcionamento de qualquer empresa: você não deixa os funcionários decidirem o próprio salário. Ponto. Que se você deixar, eles vão querer o máximo possível e vão quebrar a empresa.

Tudo bem, na verdade eu não acho que isso aconteceria de verdade. No fundo, acho que os funcionários e os patrões conseguiriam chegar num consenso e estabelecer um salário razoável pra todo mundo.

Acontece que no cenário do Brasil e o seu poder legislativo, não há um diálogo com os patrões. Que somos nós. O povo brasileiro.

Ou seja, voltando ao paralelo com uma empresa, é como se os funcionários pudessem decidir o próprio salário sem consultar os patrões. E eles não se importam com os patrões. E eles (os funcionários, o legislativo) são, em sua maioria, uns grandes filhos da puta.

O que leva eles a aumentarem o próprio salário quando bem entendem.

Daí a minha solução: limitar o quanto eles ganham.

Mas como decidir um limite? Simples, atrelando esse limite ao quanto os patrões e a empresa ganham: o salário mínimo. Exemplo, limitar o salário deles a dez salários mínimos mensais.

Porque, voltando novamente ao meu paralelo empresarial, outra vantagem desses funcionários é que eles conseguem determinar quanto que a empresa ganha.

Estou falando de impostos.

Como eles conseguem aprovar (acho eu, se alguém que manja mais de legislação quiser me corrigir, por favor o faça) qualquer imposto, eles ficam com a faca e o queijo na mão: podem decidir quanto ganham e o quanto a empresa faz de dinheiro.

Não é a tôa que a corrupção é tão alta no Brasil.

Aliás, não sei como funcionam em outros países, nem sei se existe esta lei que estou propondo em algum outro lugar e, sinceramente, se eu parar pra pesquisar agora, vou desistir de continuar escrevendo e quero terminar essa coisa. Depois eu pesquiso.

Voltando: ligando o salário deles com o salário mínimo, o único meio deles ganharem mais é aumentando o salário mínimo, o que resulta num ganho para todos (mais ou menos, eu sei que não é tão simples, mas continuem comigo).

Só que eles continuam sendo os caras que aprovam ou vetam leis. Se eles quiserem, é só “corrigir” essa lei para, por exemplo, aumentar o salário deles para cinqüenta salários mínimos mensais.

Aí que entra a cartada final: forçar esta lei a só ser mudada através de referendo.

E adivinha o que a população muito provavelmente ia votar?

NÃO, NÉ, CARALHO.

O mais legal seriam as propagandas políticas desse referendo.

Ou seja, o poder de decidir o salário desses funcionários ia voltar para os patrões.

Nós.

O povo brasileiro.

E essa é a minha “Lei Quem É Que Manda Nesta Merda”, a lei que pode resolver todos os problemas do Brasil.

Sim, eu sei que ela tem seus problemas, como, por exemplo, um desastre econômico decorrente de um aumento desenfreado do salário mínimo. Mas sei lá, eu gosto dessa minha lei.

Afinal, ela mostra pra esses filhos da puta quem é que manda de verdade nesta merda.

E quem, sabe, com essa lei, eu páro de chamar o Brasil de “esta merda”, e começo a chamar ele de “este país”.

terça-feira, 18 de junho de 2013

Você não sabe o que é melhor pra mim, mesmo que você saiba o que é melhor pra mim

Oi.

Então.

Protestos.

Muito legal. Mesmo. Apoio total da minha parte. Acredito muito que estava mais do que na hora de levantarmos a bunda e tentarmos mudar o país.

Não importa que demorou, não importa se esta é ou não a melhor hora, o que importa é que aconteceu. Foram os vinte centavos da virada, as gotas d'água.

Eu sei que já fizeram imagens desse tipo, mas queria fazer a minha.

Por ser um cagão de marca maior e pessoas à minha volta ficarem deveras preocupadas comigo (ou melhor, preocupadas com a incapacidade da PM), não fui a nenhum protesto ainda. Mesmo com vontade. Mas é que dá um medão. Eventualmente eu crio umas bolas e vou participar.

De qualquer maneira, resolvi escrever aqui no blog para refletir sobre algo que estou vendo ser jogado por aí para as pessoas levantarem a bunda e participar dos protestos: o argumento de que “estão protestando por um país melhor para você, então você devia ir protestar também.”

Devo dizer que essa postura me incomoda. Por mais que ela seja verdade.

Basicamente, estou falando do clássico problema de que “humanos não gostam de serem mandados”.

Seguinte: é melhor para todos um país onde a liberdade de expressão é respeitada e a corrupção é punida?

Claro que sim.

Mas todo mundo, acredito, tem um pequeno “Do Contra” que, ao ouvir alguém chegar e falar “Vai lutar pelos seus direitos que é o que é melhor para você!” responde com algo como “Vai à merda, eu faço o que eu quero, e eu quero mais é ser explorado e oprimido! Você não manda em mim! Enfia essa sua liberdade no cu!”


“Então, como você quer convencer as pessoas a participar?”

Aí que está o problema.

Numa realidade utópica, poderíamos explicar os ideais dos protestos com detalhes, dados e evidências e então convidarmos educadamente as pessoas a participar.

(Ou melhor, numa realidade utópica, nem precisaríamos estar protestando, mas vamos com uma utopia por vez.)

Só que: um, muitas pessoas não têm saco ou educação (nos dois sentidos da palavra, sobre ser culto e ser gentil) para ouvir até o fim e dois, as pessoas protestando estão com o sangue fervendo, e fica difícil conversar assim.

Qual a melhor solução, então? Como convencer as pessoas a apoiarem os protestos?

(Sim, eu sei que já tem gente pra caralho participando, mas se você quer a minha opinião, ainda não é o bastante)

Para mim, a melhor solução é tratar os indecisos e os opositores dos protestos como aquilo que eles são: adultos responsáveis.

Logo, ao invés de apontar o dedo e falar “vai apoiar os protestos que estão lutando por você”, acho que deveríamos PERGUNTAR: “Você sabe por que estão protestando?”

Se a pessoa é contrária aos protestos, a resposta vai girar em torno de “por causa de vinte centavos” ou “porque são um bando de baderneiros causando balbúrdia”. Se a pessoa for indecisa, ela possivelmente vai responder com outra pergunta (“por causa de vinte centavos?”) ou com um sincero “não sei”.

E o que respondemos? Com a “nossa verdade”, com o porquê de nós estarmos apoiando os protestos.

E é o que eu vou fazer agora, explicar a “minha verdade”, o porque de eu estar apoiando o movimento.

Eu, por exemplo, não levava os protestos muito a sério quando começaram, pois me pareciam que eram só sobre os vinte centavos.

Mas, de acordo com o que foi acontecendo e fui lendo mais sobre o movimento, cheguei a conclusão que não só esses protestos são importantes, mas como eu devo apoiar e incentivar eles (do meu modo).

E houve um “tipping point” pra mim também: a resposta da PM e dos políticos.

Fiz uma versão sem minha cara feia, caso alguém queira.

Para mim, mais importante que transporte público ou corrupção (que são coisas importantes, não estou negando o valor delas) é a liberdade de expressão. E o governo reprimir ela sempre me deixou muito puto pra caralho mesmo plus plus.


O mais importante, para mim, é respeitar o direito das pessoas de pensarem e discutirem suas idéias. Impor uma verdade é, a meu ver, reduzir uma pessoa ou um povo a algo menos que “humano”. Por mais que eu tenha minhas ressalvas com uma liberdade de expressão “perfeita”, ainda acho que algo que deva ser protegido a qualquer custo.

Mas eu não sabia como demonstrar minha revolta, já que sempre fui muito desiludido com o poder de um indivíduo em conseguir uma mudança maior no esquema geral das coisas.

Só que, desta vez, eu não apenas me revoltei, mas senti um fiapo de esperança de que agora, com todas essas pessoas e essas causas e esses movimentos e essas motivações, uma mudança pode acontecer.

E é por isso que eu apóio os protestos.

Não ao ponto de arriscar minha saúde, mas acho que já estou chegando lá.

Resumindo, já que o post tá ficando maior que eu esperava:

Não acho que a postura “se você não é parte da solução, você é parte do problema” que vejo muitos propagandearem por aí é boa para a “causa”. Acho que devemos respeitar a inteligência de todos, e apresentar nossas motivações para protestarmos. E, ao final, estender a mão e convidar para o movimento, demonstrando as diversas maneiras que uma pessoa pode apoiar ele - não é obrigatório ir pra rua e correr o risco de apanhar da polícia.

Estou sendo um tanto deslumbrado e ingênuo? Talvez. Mas acho que é melhor fazer as pessoas refletirem com perguntas do que ficarem irritadas com “ordens”.

terça-feira, 21 de maio de 2013

Memórias póstumas de uma piada mal compreendida

Olá.

Não sei se dá pra perceber pelo título, mas este post é uma expansão do meu post “O desinteressante fim de uma piada mal contada”. Lá eu falei sobre uma piada minha que deu errado porque eu caguei tudo. Quer saber mais, vai ler lá.

Desta vez, vou falar sobre uma piada minha que, acidentalmente, se tornou um sucesso, e pelos motivos errados.

Tudo começou com o orkut.

Foto da última vez que usei o orkut.

Alguém lembra do orkut?

Então, o orkut era esse site que nem o Facebook, mas diferente de maneiras que não entendo porque não uso nem um nem o outro direito, e que fez sucesso uns dez anos atrás aqui no Brasil.

Ele tinha esse conceito de comunidades, que eram um tipo de mini-forum que girava em torno de um tema determinado pelo criador dela.

Acontece que existiam muitas, mas muitas comunidades muito tontas.

Coisas óbvias, que 90% da raça humana se encaixa, como “Odeio acordar cedo” ou “Odeio o Caetano Veloso”, ou coisas egocêntricas estúpidas, tipo “Conheço a Shirslayne” ou “Sou foda” e similares.

Enfim, nenhum link no parágrafo anterior que eu não tô a fim de me recadastrar naquela merda só pra procurar comunidade tonta.

Vamos ao que interessa: a comunidade que eu criei que fez um sucesso filha da puta.

“Tenho dez dedos nas mãos”.

A original. Eu que fiz. Não existe mais, caso queiram saber.

A idéia era ser uma sátira das demais comunidades e de uma corrida tonta que existia na época de tentar fazer a comunidade mais popular do orkut.

Ou seja, queria fazer uma comunidade que englobasse a maior quantidade de pessoas e que fosse realmente tonta e sem propósito.

Acredito que consegui, apesar de já existir, na época, coisas como “Moro no planeta Terra” ou “Respiro ar”.

Mas eu não me agüentei e acrescentei uma piadinha na descrição.

Basicamente, eu coloquei que existiam dois motivos para fazer aquela comunidade:

1 - Fazer a comunidade mais estúpida do orkut e

2 - Fazer uma comunidade que o Lula não pudesse entrar.

Pois é.

Era 2002. Ano de eleições. A que o Lula ganhou do Serra.

Ou seja, as pessoas encararam a comunidade como se fosse um tipo de plataforma anti-Lula, ou anti-PT.

NÃO ERA.

ERA UMA PIADA.

TONTA.

Eu só quis dar um toquezinho a mais, uma cerejinha no topo.

Mas as pessoas encararam como o foco principal da comunidade.

Nossa, como eu fiquei irritado.

As discussões do começo, que eram coisas como “Qual seu dedo favorito?” se tornaram “Força Serra!” e similares.

Enfim, eu já não cuidava muito da comunidade, e devo dizer que até fiquei feliz por alguma coisa que eu fiz ter ficado popular, mas ficava aquele gosto amargo na boca de “sucesso acidental”.

E eu não sei explicar isso direito. Dava vontade de gritar algo como “Seus burros, essa comunidade não é sobre política, é sobre a futilidade das comunidades do orkut, o vazio da conquista da fama e a efemeridade da vida humana! Gostem dela pelo motivo certo! Porra!”

Ou seja, eu queria que as pessoas gostassem da minha comunidade (entendam: de mim) do jeito certo.

É que nem a história do cara mais bonito do mundo que gostava de fazer pentes. Ele queria ser reconhecido pela qualidade dos pentes, não por ser o cara mais bonito do mundo.

O tempo passou e eu desencanei do orkut, passei a comunidade para o Koizumi, um amigo meu (atenção, amigo, se quiser que eu ponha seu nome aqui, eu ponho, só queria proteger sua privacidade) [Editado: ele deixou pôr o nome dele] e parei de me estressar.

Algum tempo depois, a comunidade foi roubada (as pessoas faziam isso, dá pra acreditar?) dele, e mudaram ela de nome e sei lá o que mais.

Talvez eu não devesse me irritar mais, mas essa história me irrita até hoje. E me irrita quando vejo acontecer com outras pessoas.

Estou falando de quando o “público em geral” não entende uma piada ou uma sátira ou uma crítica, mas você entende.

Sim, eu sei que não dá pra saber com certeza qual a intenção do autor da obra que você acredita ter entendido, mas tem vezes que é bem óbvio o contexto da coisa toda, só que ninguém entende.

É, tô parecendo adolescentezinho que fala que aquela música daquela banda foi feita pra ele, que o vocalista entende ele e o resto do mundo está errado.

Só que no meu caso, não foi um músico, mas o Tolkien quem me entendeu... He's so dreamy...

Só que, neste blog, eu estou certo, então foda-se.

E, aparentemente, eu não sou o único a perceber essas coisas - tem esse cara no Cracked, o Gladstone, que fala bastante sobre comédia, já escreveu algumas vezes sobre piadas e sátiras mal-compreendidas pelo povo.

Normalmente, essa falta de compreensão do contexto da coisa toda leva as pessoas a se revoltarem, ficarem chocadas ou se sentirem ofendidas. Só que, às vezes, como no caso da minha comunidade do orkut, as pessoas simpatizam com a coisa toda e, ao invés de ódio tonto, trazem um tipo esquisito de reconhecimento tonto.

Sinceramente, acho que é mais fácil lidar com o ódio tonto que com o reconhecimento tonto. Acho até que me irrito mais com o segundo, pois o primeiro não traz nada de bom e é mais fácil de descartar como “pessoas burras”. O segundo gera um tipo de contradição, onde as pessoas gostam do que você fez, mas não entenderam nada. Sei lá, isso irrita.

O que me leva, finalmente, à uma piada de uma certa obra que poucos entenderam direito, mas que virou um tipo de ícone dos fãs dessa obra pelo motivo errado. E essa história toda me enche de raiva.

E esta obra se chama My Little Pony: Friendship is Magic.

E estou falando da piada do “20% mais legal”.

E já estou ficando com o sangue fervendo de raiva.

Enfim, “20% mais legal”. Vamos começar explicando o que é isso para quem não assiste MLP: FiM, essas pobres almas sem cor na vida.

No décimo quarto e melhor episódio da primeira temporada (o melhor da temporada, tem outro que acho mais mágico na temporada seguinte), somos apresentados ao seguinte plot: Rarity, após ver o vestido que Twilight Sparkle pretendia usar no Grand Galloping Gala, em Canterlot, decide fazer novos vestidos para todas as amigas, para que elas usem roupas minimamente decentes em um evento tão “high society” quanto o Grand Galloping Gala.

Rarity então faz os cinco vestidos, todos muito fofoluchos e devertedos, combinando com a personalidade de cada uma.

Mas, como qualquer pessoa que já trabalhou com algo artístico para um cliente sabe que sempre acontece, as cinco não gostaram. Acharam que não ficou como elas esperavam. Sendo que é um presente. E elas não falaram nada no começo da coisa toda. Só aceitaram. E agora estão reclamando.

Vadias.

Enfim, para não deixar as amigas decepcionadas, Rarity decide refazer os vestidos seguindo o que elas pedem.

Já estou sentindo aquele frio na espinha seguido de aperto no estômago de ódio pulsante que sinto quando ouço as palavras “o cliente pediu alterações”.

Resumindo, para eu não ficar descrevendo o episódio inteiro, até porque é mais fácil ir lá assistir: os vestidos ficam do jeito que as amigas gostam, uma coisa horrorenda e ridícula, e elas fazem um desfile e a Rarity vira a grande piada de Ponyville, com a carreira e o amor pela arte destruídos. Mas depois dá tudo certo.

Devo dizer que este que foi o episódio que me tornou fã de MLP: FiM, pois me identifiquei com a situação toda que a Rarity (minha pônei favorita, principalmente por causa deste episódio) passou e percebi que o show tem uns roteiristas muito bons, que não tem medo de fazer uma piada para um público adulto sem ser uma referência velada tonta a sexo ou drogas.

Mas enfim, ainda não expliquei o que é a coisa do “20% mais legal”.

Na parte em que Rarity está refazendo os vestidos das amigas, tem toda uma seqüência cantada com as bobagens que elas pedem para fazer nos vestidos. Aí tem a parte da Rainbow Dash.

Ah, a parte da Rainbow Dash.

RAINBOW DAAAAAAAAASH!

A Rarity tenta extrair dela o que ela quer no vestido e tudo o que ela consegue é a frase “tem que ficar 20% mais legal”.

Ai, caralho.

Sério, eu gosto da Rainbow Dash, mas que eu fiquei com uma raiva incandescente dela nessa hora, eu fiquei.

Mas dei risada também, pois foi muito boa a relação com o que acontece no mundo real, e provavelmente está acontecendo em uma agência de propaganda/design/webdesign neste exato instante, com alguém fazendo exatamente a mesma cara que a Rarity.

Esta cara. É desta cara que eu estou falando.

Só que aí entrou em cena o fandom retardado.

Que, de algum modo inexplicável, achou essa coisa do “20% mais legal” uma “sacadinha”, porque esse é “o estilo Rainbow Dash” e sei lá o que mais. E, em seguida, virou um tipo de frase de efeito dos fãs, onde “a vida é 20% mais legal” e outras merdas também podem ser “20% mais legal”.

 Então. NÃO. ERRADO. Porra. Merda. Cu. Caralho.

Não é uma sacadinha divertidinha de como a Rainbow Dash é serelepe e sempre surpreende de maneira supimpa.

É um paralelo com cliente merda.

Todas elas fazem um paralelo com clientes merda.

A Twilight Sparkle é o cliente pedante que quer tudo politicamente correto demais, o que deixa o produto tonto e efadonho.

A Applejack e a Pinkie Pie são os clientes que não entendem que uma coisa é uma coisa e outra coisa é outra coisa, então tentam colocar elementos de coisas que elas entendem (no caso, fazenda e festas) em algo que não tem nada a ver (vestidos de gala). É tipo o cara que quer uma foto do cachorrinho no site da empresa.

A Fluttershy é o cliente que quer uma coisa altamente complexa e difícil e demorada e desnecessária e não entende como a coisa que quer é altamente complexa e difícil e demorada e desnecessária (e, normalmente, não quer pagar o extra que essa coisa custaria, além de reclamar da demora).

E, por último, a Rainbow Dash é o cliente que realmente não sabe o que quer e espera que você mostre pra ele o que ele quer. O que é uma missão impossível. O que leva ele a ficar irritado com você, e a soltar comentários vagos e sem propósito, como “não está alegre o bastante” ou “podia ser mais real” ou “tem que ficar 20% mais legal”.

Ou seja, se você acha isso uma “sacadinha rainbow-dashiana”, você provavelmente nunca teve que lidar com esse tipo de cliente merda ou você É esse tipo de cliente merda. Seu merda.

Mas enfim, esse foi outro exemplo de “piada que saiu pela culatra”, e a Hasbro (entre outras empresas), obviamente, não perdeu tempo em aproveitar o sucesso dela. E ela não está errada em fazer isso.

Eu só gosto de pensar que a roteirista do episódio, toda vez que vê alguma coisa do fandom envolvendo a frase “20% mais legal”, sente uma mistura de ira flamejante com orgulho envegonhado, querendo estrangular todos os fãs e forçá-los a entender a piada do jeito certo. Que nem eu ficava quando olhava o sucesso da minha comunidade do orkut.

Só que as pessoas são tontas.

sábado, 13 de abril de 2013

Two milkmen go comedy!


Este vai ser um daqueles raros posts em que eu tento falar bem de alguma coisa.

No caso, de um game: Zero Escape: Virtue’s Last Reward (ZE:VLR).

Cacete, como esse jogo é muito bom pra caralho mesmo plus plus.

Esse jogo é, ó, tchik, tchik! Até fiz cosplay de um dos personagens!

Se você não tem um 3DS, vá comprar um pra jogar esse jogo. Pode ser um Vita também, mas recomendo o 3DS por dois motivos: primeiro, poder jogar o primeiro jogo da série, 999: 9 Hours, 9 Persons, 9 Doors e segundo, ter um console portátil que vale a pena.

Antes de eu continuar babando ovo em cima desse jogo, uma ressalva: você passa uns 80% do jogo lendo.

Basicamente, é um livro com alguns puzzles MUITO BONS no meio.

Mas é uma história boa.

Ok, é uma história boa o bastante. Não vai jogar esperando algo profundo como um Crime e Castigo ou um Cem Anos de Solidão que não é essa a proposta.

Aliás, não sei qual que realmente é a proposta dos criadores do jogo. O que eu sei é o que eu senti da história jogando o jogo: que é um exemplo fantástico do que um game pode fazer com uma narrativa.

Ok, essa afirmação ficou confusa. Mas acho que é o melhor que eu consigo. Quem sabe dá pra entender com a explicação.

Comecemos do princípio: qual a grande diferença entre games e as demais “artes narrativas”?

O nível de interatividade do “consumidor” (aqui significando “consumidor de uma obra artística”) com a obra.

Sim, sim, existem aqueles livros de “faça sua aventura” e aquelas instalações de arte contemporânea onde você só aprecia a arte se esfregar as genitais em esculturas de pedra sabão e também aquelas peças horrorendas de teatro com interação com a platéia, puta merda, como eu odeio isso, devia ter uma lei proibindo essa bosta.

Instalações com interação do público. Arte.

Só que eu vou manipular a semântica da coisa toda e separar os games das demais artes com isto: “um game, para ser um game, pressupõe a interação do jogador, enquanto que nem todo livro é um ‘faça sua aventura’, nem toda instalação é uma narrativa e nem toda peça de teatro interage com a platéia, ainda bem, senão nunca entrava num teatro, nossa, eu realmente odeio essas peças com interação do público, prefiro rolar pelado em cacos de vidro sujos de curry.”

Tendo definido isso, vamos para o próximo passo, que é pensar no que pode fazer a narrativa de um game boa.

Uma das respostas mais comuns e que é a visão que muitos desenvolvedores e muitos  jogadores têm é “liberdade de escolha” associada com “conseqüências condizentes” (nunca vi ninguém usar essas expressões desse jeito, mas é o melhor modo que consegui para resumir a coisa toda).

“Liberdade de escolha” quer dizer, neste contexto, deixar o jogador decidir o que fazer com o personagem para a história acontecer. Se o jogador quer cumprir uma missão ou não, se ele deve matar ou salvar determinados personagens, se ele quer comer donuts ou bagels - enfim, deixar essas decisões nas mãos dos jogadores.

Essa parte, da liberdade, tem sido explorada através da existência de “momentos de escolha” num jogo, onde o jogador tem duas ou mais opções para direcionar a história. A tendência, imagino, é deixar esses momentos mais discretos (sem aparecer uma caixinha de texto onde você literalmente escolhe uma opção ou outra), mais incorporados ao jogo, além de ir aumentando o leque de escolhas, deixando o jogador fazer o que bem entender (mesmo que essas escolhas não façam o menor sentido, já que sempre vai ter um espírito de porco que vai querer fazer algo realmente estúpido).

A questão é que “liberdade de escolha” é inútil sem “conseqüências condizentes”. Traduzindo: do que me adianta tomar uma decisão se o resultado de todas as opções é o mesmo final?

Aí está um grande problema para os desenvolvedores trabalharem, pois não tem como determinar TODA SANTA CONSEQÜÊNCIA dos atos de um personagem. Isso gera um pepinão para os roteiristas de jogos, pois (novamente) sempre vai ter um tonto pra questionar a quantidade limitada de conseqüências para a decisão retardada dele.

Mas enfim, essa é uma das sinas da narrativa em games - como prever e programar as conseqüências das ações dos jogadores.

E toda a história de ZE:VLR gira em torno de suas escolhas e suas conseqüências, só que de uma maneira bem “arcaica”, onde a história caminha até um ponto e então são apresentadas opções e você clica na touchscreen qual opção você quer. Chega ao ponto do personagem resumir as (prováveis) conseqüências da sua escolha pra você pensar bem no que quer fazer.

Até aí, nada muito inovador.

O que me fez alucinar na narrativa de ZE:VLR é que o jogo “brinca” com as suas decisões e suas conseqüências - mudando o que acontece mesmo quando você já sabe o que deveria acontecer.

Atenção: spoilers.

Basicamente, o seu personagem desenvolve, durante o jogo, o poder de “saber” o resultado das suas decisões antes de tomar uma decisão - mas apenas se você já jogou até o final o “universo” onde seu personagem tomou tal decisão. Deu pra entender?

Assim, vamos supor que você podia escolher entre fazer um misto quente ou um misto frio  para o café da manhã. Você resolveu fazer o frio, pois não queria se dar ao trabalho de esquentar o sanduíche. Isso permite você sair um pouco mais cedo de casa, mas, para seu azar dois drogados armados dirigindo um carro a oitenta quilômetros por hora estavam passando na sua rua bem na hora que você sai e metem uma bala na têmpora esquerda e você morre. Vamos chamar este de “Universo Roteiro Real Que Vi Alguém Escrever Na Quanta E Se Você, Autor Dessa Pérola, Estiver Lendo Este Post, Sério, Puta Idéia Lixo” (URRQVAENQESVADPELEPSPIL).

Agora, vamos pensar no que acontece se você escolhe fazer o quente. Você liga a sanduicheira polishop, põe o sanduíche pra esquentar e ela explode na sua cara, e você morre. Vamos chamar este de “Universo Não Estou Com Muito Saco De Bolar Uma Morte Melhor” (UNECMSDBUMM).

Ok, temos os dois universos definidos. Só que, em ZE:VLR existem mais dois universos relacionados à esses dois: o Universo Onde Você Sabe Que Você Vai Ser Baleado Ao Sair De Casa (UOVSQVVSBASDC) e o Universo Onde Você Sabe Que A Sanduicheira Vai Explodir (UOVSQASVE).

Mas você só tem acesso ao UOVSQVVSBASDC se você jogar o URRQVAENQESVADPELEPSPIL, assim como você só tem acesso ao UOVSQASVE se você jogar o UNECMSDBUMM. Não perguntem como você tem acesso à esses diferentes universos se você morre no final deles - faz parte da diegese do jogo e pronto.

Enfim, vamos ao ponto que interessa: como mudar seu destino nos UOVSQs. Vamos ver o primeiro, UOVSQVVSBASDC:

Você sabe que, se sair de casa um pouco mais cedo, por causa do tempo que ganhou não esquentando seu misto, você vai levar um tiro e morrer. Então você toma a decisão mais sensata, que é esquentar o misto. Seu sanduíche esquenta, você come ele DEVAGARZINHO, aproveitando cada mordida e mastigando tudo até só sobrar uma pasta nojenta e sem gosto na sua boca. Aí, antes de sair, você olha pela janela e não vê nada de anormal. Olha pro relógio e percebe que está uns quarenta minutos atrasado, mas é melhor isso que morrer. Sai de casa, pega seu ônibus e, nele, você encontra os dois drogados que te balearam no URRQVAENQESVADPELEPSPIL. Você leva um puta susto do cão, mas percebe que os dois não estão drogados, não estão num carro a oitenta por hora e não estão armados. Estão conversando sobre a reunião no Drogaditos Anônimos de onde saíram e de como Tupã ajudou eles a superarem as drogas e os ímpetos de saírem correndo com o carro acima do limite de velocidade em áreas residenciais atirando aleatoriamente pela janela com um revólver. Você chega no seu ponto, vai pro trabalho e a vida continua, sem mais nada de anormal.

Agora, vamos ver o que acontece no segundo, UOVSQASVE:

Você sabe que, se esquentar seu misto, a sanduicheira vai explodir e você vai morrer. Então você ignora ela, come o misto frio mesmo, e vai trabalhar. Nada de mais acontece durante o seu dia, até a hora de voltar pra casa. Você volta e encontra apenas cinzas, pois você tinha se esquecido do Pepe, o garoto peruano que te ajuda a cuidar da casa nos dias ímpares e que gosta muito de sanduíches de salame quentes, e que você tinha ensinado a usar a sanduicheira para quando ele ficasse com fome. Um bombeiro explica que uma sanduicheira explodiu e queimou a casa inteira. Você se sente péssimo, mas a vida continua.

Enfim, vamos parar a história do UOVSQASVE por aqui e explicar o que aconteceu nesses dois casos.

Basicamente, a realidade mudou simplesmente porque você teria conhecimento prévio das consequências dos seus atos.

No UOVSQVVSBASDC, só de saber que você ia levar um tiro ao sair mais cedo de casa, a “realidade” se adaptou à isso e mudou a vida dos dois drogados, meio que invalidando sua decisão de esquentar o sanduíche - e também consertando sua sanduicheira, fazendo com que ela não explodisse.

Enquanto isso, no UOVSQASVE, só de saber que a sanduicheira iria explodir, a “realidade” não apenas sumiu com os drogados, mas criou um garoto peruano que te ajuda com a limpeza da casa nos dias ímpares.

Resumindo, a realidade se adapta de acordo com o conhecimento que você possui das conseqüências dos seus atos.

E é assim que a história de ZE:VLR vai acontecendo - você vai jogando a história até chegar em um momento de decisão e vive as conseqüências da sua escolha até o fim (normalmente envolve a morte de alguém). Ao término desse cenário, o jogo te mostra o esquema das escolhas já jogados da história, e você volta para o último momento de decisão, para você poder fazer uma escolha diferente. Só que certas coisas estarão diferentes no universo dessa escolha diferente, coisas até que não tem a ver com a sua decisão - simplesmente porque você já conhece as conseqüências da sua decisão inicial.

Se você não entendeu até agora como isso funciona, vai jogar o jogo que é mais fácil.

Enfim, o que me impressionou nessa coisa toda foi a sensação da “realidade” saber o que eu sei e tentar se antecipar a mim, criando obstáculos e fatores novos para minha experiência.

Ou seja, é como se o jogo soubesse o que eu sei sobre ele, e mudasse de acordo com isso para eu ter uma experiência nova sempre.

Ok, antes de vocês acharem que ZE:VLR tem o sistema de AI mais hiperdesenvolvido da história, saibam que eu estou multiplicando o que acontece de verdade no jogo por um bilhão, além do que a história e a esquemática de escolhas dele é um “ambiente” altamente controlado, sem muuuuuuuita liberdade (você tem sempre duas ou três escolhas fixas, você não pode, por exemplo, escolher socar todo mundo na cara enquanto cantarola “Orinoco Flow” se essa não for uma opção disponibilizada pelo jogo), mas que tem umas horas que você fica “Caralho! Como assim, ela fez isso? Quando eu escolhi X, ela não fez isso! É só porque eu escolhi Y desta vez? Uádafãqui!”

Se bem que essa devia ser uma opção em qualquer jogo.

E, assim, chegamos no ponto que eu queria chegar: um jogo onde a história se adapta de acordo com o que você sabe dela.

Uma história de mistério que o assassino muda de acordo com as pistas que você encontra, ou ainda se é a segunda vez que você está jogando ele. Uma história de aventura onde o traidor (sempre tem um) muda de acordo com o caminho que você faz. Um líder de ginásio que muda dependendo do seu Pokémon inicial.

Já existem jogos assim, brincando com isso, mas o que eu realmente quero é um jogo que eu me sinta manipulado pela história, onde ele chega na minha cara e, com um sorrizinho cínico, chuta minhas expectativas no saco. E foi isso que ZE:VLR conseguiu.

Acho importante ressaltar que só quero isso no aspecto da história, ou, no máximo, em posicionamento de inimigos e itens. Que um Mario que cada vez que você morre surgem blocos invisíveis aleatórios mudando a fase por completo não é um game, mas um exercício masoquista.

Fechando a idéia toda: mais que quantidade de escolhas, acho que um aspecto de narrativa em games que devia ser trabalhado é a idéia de conseqüências condizentes E INESPERADAS, que se adaptam de acordo com o jogador. Sim, eu sei e já falei que é impossível prever e programar todas as variáveis possíveis das decisões dos jogadores, mas se limitar a quantidade de escolhas e focar em dar conseqüências mais impressionantes/surpreendentes/coerentes, acho que a experiência do jogo ganha mais que com excesso de liberdade de escolha.

É só não cair numa armadilha Shyamalanesca - mais importante que “surpresinha no final” é “história boa”.

sábado, 30 de março de 2013

Da necessidade de salvar putaria

Meu HD morreu outro dia. Sem nenhuma salvação, de acordo com o pessoal da assistência técnica.

Caso queiram saber, invadi um velório só pra tirar esta foto. E enterrar o HD perdido.

Não sei o quanto confio no diagnóstico deles, mas não é como se eu tivesse escolha. O problema é que eu fiquei meio nóia depois da história de chantagem que aconteceu com o Penn, onde o pessoal da assistência técnica do note dele ameaçou ele de publicar “fotos indecentes” caso ele não pagasse o que pediam (isso que ele já apareceu pelado na TV) (nota sobre o link: ele contou essa história num dos podcasts dele, acho que peguei o episódio certo, não tenho certeza).

Mas não estou aqui para falar de funcionários inescrupulosos de assistências técnicas, mas dos arquivos que eu perdi. Mais especificamente, os quinze gigas de putaria que eu tinha salvo.

Quinze gigas é pouco, até. Teve época que minha coleção chegava perto dos oitenta. E imagino que muita gente tenha mais de um tera de putaria.

Isso que eu nem salvo muitos vídeos, a maior parte da minha coleção sempre foi hentai. Um puta monte de mangá de putaria - sim, eu me masturbo pra desenhinhos.

Se bem que não tenho culpa que algumas são desenhadas assim.

Só que fazem alguns anos que eu tenho deixado de salvar putaria. Comecei a “ler” online os hentais, assim como vejo vídeos em streaming. A não ser que seja um mangá de mais de 100 páginas ou um vídeo de mais de meia hora, eu vejo online ao invés de baixar e salvar. E o mangá ou o vídeo em questão tem que ser muito bom ou muito divertido para eu querer manter.

Mas ainda assim eu tinha uma coleçãozinha de putaria no meu mac (sim, eu conspurco meus produtos Apple com iPorn), e ela se perdeu para sempre com a morte o meu HD.

Só que nem uma lágrima foi derramada por essa perda.

Fiquei surpreso comigo mesmo. Nem liguei de perder a putaria toda. A maior parte das coisas não-putaria importantes eu tinha backup, então nem estressei, mas eu sempre fiz questão de NÃO fazer backup de putaria. Sei lá, me sentia muito loser de fazer isso.

Ou eu sempre soube, no fundo, o pensamento que eu materializei com a perda desse HD: não é mais necessário salvar putaria.

Sério, pra quê eu vou gastar espaço do meu HD com putaria? Deixem os milhares de servidores ao redor do mundo cuidar disso, eu acesso a putaria “on demand”.

O único problema disso é que, se acabar a luz ou der pau na internet, não tem como acessar a putaria. Na época da putaria analógica, sua coleção de revistas estava sempre disponível, não importa a situação. O mesmo não vale para a putaria digital - tanto que você perde tudo quando o HD morre.

Então, talvez, quem sabe, eu faça uma pastinha chamada “putaria de emergência” para quando estiver sem internet. Quando acabar a luz, sei lá, eu tento usar a imaginação ou ainda, quem sabe, faço o esforço hercúleo de me abster de putaria por mais de três horas (meu recorde são onze horas, vinte e dois minutos e quarenta e quatro segundos - fiquei tão desesperado que apelei depois para o Deviantart).

Ou foda-se.

Hora de encararmos a verdade.

Os tempos mudaram. Não precisamos mais salvar ou guardar putaria.

Porque a internet nos dá tanta, mas tanta putaria “on demand”, e dos mais diversos tipos e gostos, que não faz o menor sentido salvar qualquer coisa.

Afinal de contas, se tem algo que a ciência nos mostrou, é que nós enjoamos do mesmo tipo de putaria o tempo inteiro. É por isso que começamos com a Playboy e terminamos no “Blind Albine Egyptians Facializing Blonde Dwarves From Liechenstein 6: Special On Ice Edition”. Então, por que caralho salvar qualquer putaria? Vamos enjoar dela mesmo, e ela só vai ficar lá ocupando espaço do HD, até o dia que ele morre e perdemos ela.

Portanto, da próxima vez que estiver admirando suas pastas de putaria, pense se realmente vale a pena torrar o espaço do HD com isso. Guarda aqueles vídeos que têm um lugar especial no seu coração, como o “Dirty Sluts Synchronized Fucking Olympics - Atlanta 1996 Edition” (primeiro vídeo com mais de cinco minutos que você conseguiu baixar no Kazaa, quando ainda tinha internet discada), aqueles que te fazem rir, como o “The Simpsons - a XXX Parody” e, principalmente, aquele que “sempre funciona”, para dias que a internet não está muito inspirada (o fato de existirem certas putarias com essa classificação devia ser analisado como exemplo de comportamento monogâmico na raça humana - ou eu sou o único que tem isso?) e o resto que se foda.

quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

O desinteressante fim de uma piada mal contada.

Oi.

Feliz ano novo.

Demorei, mas voltei. Tava ocupado. Jogando WiiU, assistindo Breaking Bad e cultivando um cavanhaque.

Me sentindo muito Walter White, te contar. Só que sem a careca. E o câncer. E a metanfetamina. E as bolas. Me deixem em paz, só quero sonhar. 

Enfim.

Tinha uma outra coisa que eu estive fazendo, que me afastou do blog. Um tumblr. Chama “Jesus é da Fiel”.

Basicamente, a piada dele é misturar imagens de Jesus com o Corinthians.

A idéia nasceu dos adesivos de carros com os dizeres “Deus é fiel”. Eu sempre fiquei tentando fazer alguma piada tonta com eles, seja algo como “Rex é fiel” ou “Deus é inexistente”, mas um dia me veio a idéia de misturar futebol e brincar com “Deus é da Fiel”.

Eu gosto muito dessa linha de brincadeira, pois assim eu consigo tirar sarro das duas maiores comunidades que existem no Brasil: cristãos e corinthianos.

E essa piada também trabalha em cima do bairrismo todo que existe em torno de religião e de futebol, que faz com que as duas coisas fiquem cada vez mais parecidas.

Rituais, cantos, peregrinações, idolatria, violência contra outros grupos… enfim, são coisas muito similares. Acho que a principal diferença é que, no caso das torcidas de futebol, eles idolatram um ícone que existe de verdade (o clube), ao contrário das religiões.

Novamente, aquela imagem de Deus.

Se bem que essa questão toda pode ser resumida como pertencimento. Na verdade, não sei se essa é a palavra mais correta para o contexto que eu quero. Estou falando do “sentimento de pertencer a um determinado grupo e de desprezar/rivalizar com grupos rivais”. Fica mais fácil de entender se eu usar bairrismo de novo, mas queria uma palavra mais abrangente. Foda-se, vou chamar esse sentimento de pertencimento de agora em diante.

Bem, pertencimento não é exclusividade de religiões e torcidas. Dá pra falar mais ou menos a mesma coisa sobre fãs de estilos de música, leitores de quadrinhos ou consumidores de tecnologia. Ou mesmo nacionalismo. Pertencimento é algo fundamental da natureza humana. Nosso grupo contra o outro - mas nem sempre com violência. É possível existir convivência pacífica, acredito. Só que sem fé. Fé fode tudo. Sempre.

Enfim, me alonguei demais nessa tangente. Não era o plano falar sobre pertencimento. Li recentemente um texto sobre o assunto, por isso que estou com ele na cabeça, se quiserem, vão ler lá.

Voltando ao tumblr. Piada com religião e futebol, podendo ser elaborada para algo mais intelectualóide, a coisa toda do pertencimento.

O melhor jeito que eu encontrei para disseminar a brincadeira foi fazer essas montagens tontas e subir num tumblr, a rede social mais popular de todos os tempos da última semana.

Não apenas uma, mas duas referências (o título, pra quem não conhece) não-pejorativas à cultura nacional no mesmo post? Quem sou eu e o que eu fiz comigo mesmo? 

Só que aí eu tive outra idéia: não deixar (muito) explícito que é uma piada. Deixar no ar se é alguém fazendo uma piada ou se é um corinthiano religioso zoado da cabeça (redundância).

Então eu deixei o tumblr mais ou menos bem feitinho, e coloquei uma descrição pseudo-séria. E subi as primeiras imagens.

Devo dizer que me diverti bastante fazendo essas montagens tontas no Pixelmator (Photoshop genérico para mac), mais até que as que eu faço aqui pro blog. E me esforcei em fazer elas minimamente decentes. Sim, têm umas tosqueiras, mas eu tentei minimizar elas.

Daí veio o extenso trabalho de divulgação. Falei pra umas cinco pessoas e tuitei. É, eu sei, isso é um grande nada de divulgação. Mas eu achava que a piada era boa o bastante para ter um pouquinho de boca-a-boca, até por causa do modo como o tumblr se “auto-divulga”, com reblogs e likes.

Só que ouve uma pequena diferença em relação ao modo como eu divulgo o blog. Eu não deixei explícito que fui eu quem criou o tumblr. Fiquei na moita, e por um motivo muito bom, na minha opinião: pertencimento. De novo.

Basicamente, fiquei com medinho de algum corinthiano mais exaltado ou um cristão ofendido me esfaquear na rua. Sim, paranóia tonta. Ou será mesmo? O que vemos de notícias de violência gerada por causa de futebol e religião assusta.

Resumindo, fui covarde e fingi que não tinha nada a ver com essa coisa. Só anunciei “olhem, pessoas, a coisa interessante que achei”.

Mas achei que isso não fosse importar, que a idéia era boa o bastante para pertencer a um anônimo.

Enfim, achei que essa piada ia ser a minha segunda grande sacada viral internética para o mundo (algum outro dia falo da primeira).

E, depois de umas três semanas subindo imagens, desisti por completo do tumblr.

Ele ainda tá lá, e liguei o botão de “participe”, para quem quiser se dar ao trabalho, mas não pretendo voltar a mexer nele. Não num futuro próximo, pelo menos.

Ou seja, ele foi um grande fracasso. Para mim.

Como que eu sei isso depois de apenas três semanas atualizando ele?

Simples, percebi que a piada é ruim. Ou melhor, que ela foi muito mal-executada. E que ela é ruim mesmo.

Vamos começar com o problema mais claro dessa e de toda piada ruim que existe: ter que explicar ela.

Uma piada extraordinária é entendida no momento que você vê/ouve ela. Outras piadas muito boas são compreendidas um pouco depois, quando você digere ela e percebe as nuances dela. E tem aquelas que são piadas internas, onde você precisa de uma certa quantidade de referências para entender ela.

E essas últimas que são as mais difíceis de darem certo, e foi o caso desta piada.

Sem eu explicar a origem dela, dos adesivos de carro, como que alguém ia SEQUER PERCEBER QUE É UMA PIADA?

O esperto aqui também teve a brilhante idéia de deixar indefinida a coisa toda disso ser uma piada, para as pessoas REALMENTE ficassem na dúvida se era algo real ou tiração de sarro.

Ou seja, pessoas olhavam para essa coisa e achavam que ou era algo brega e tonto de gente brega e tonta. Ou, como muita gente não tem as bolas de falar com todas as letras, PARECIA COISA DE POBRE. Ainda pior, parecia uma tiração de sarro com os “financeiramente menos favorecidos”. Uma coisa preconceituosa conservadora nazista horrorosa.

Basicamente, a piada que as pessoas viam era “ser corinthiano e religioso são coisas de pobre, logo vamos rir de pobre”. E querer compartilhar uma coisa dessas, mostrando para o mundo que você é preconceituoso com “os mais humildes” não é legal.

Não vou bancar o inocente fingindo que não percebi essa leitura quando tive a idéia da piada. Mas acho que me perdi demais na brincadeira com os adesivos de carro.

O mais estranho é que, no final das contas, também não fui a fundo na coisa toda de “parecer brega”. Sei lá, acho que trabalhar com designers e ilustradores por muito tempo de impediu de deixar a coisa toda pior. Eu cogitei fazer um banner dourado em Zapfino. Colocar algumas coisas em Comic Sans. Fazer o fundo ser um escudo do Corinthians distorcido e pixelado repetido infinitamente. Mas uma parte do meu cérebro me impediu de fazer isso, até pela coisa de parecer minimamente real. E de que eu não queria induzir os visitantes a uma crise explosiva de vômito seguida de ataques epiléticos.

Também ia ter aquela coisa horrorosa de mudar o ponteiro do mouse. Nossa, isso dá vontade de morrer.

Enfim. Vamos para o outro problema que o gênio aqui criou.

Chamar o tumblr de “Jesus é da Fiel” ao invés de “Deus é da Fiel”.

Isso criou um distanciamento com a origem da piada, pois o adesivo mais comum é “Deus é fiel”, e não “Jesus é fiel”. Só que eu pensei que, como existem mais imagens de Jesus, ia ser mais fácil fazer montagens com Jesus e, para manter um tipo de coerência com as imagens, o tumblr devia ser com Jesus ao invés de Deus.

Péssima idéia. Desconectou tudo. Ficou uma expressão vazia.

Até porque, convenhamos, a figura dos dois já se fundiu no inconsciente coletivo (OBS.: como saber se alguém não sabe a opinião da sociedade: a pessoa usa a expressão “inconsciente coletivo”). Eu podia muito bem ter chamado o troço de “Deus é da Fiel” e usado trocentas imagens de Jesus que ninguém ia ligar.

Resumindo: uma piada que, fora do contexto (acho que, no caso desta, até mesmo dentro do contexto), parece algo preconceituoso e que ainda por cima foi distanciada do contexto necessário para ela ser entendida, É UMA PIADA RUIM.

E piadas ruins merecem morrer.

É difícil para quem criou a piada, mas é necessário. E é disso que eu estou falando aqui.

Fiquei bem chateado quando percebi que essa idéia era tonta. Ou, pelo menos, que ela foi executada mal e porcamente. Dá aquela crise básica de gente depressiva de que “nada do que eu faço presta”.

O pior é a parte de “mas se eu desistir agora, o que isso faz de mim?”

A resposta: um criador/autor/piadista melhor.

Essa que é a real, uma das lições que eu mais tenho dificuldade de aprender, mas que eu me esforço para incorporar no meu ser: eu posso desistir.

Certos projetos não dão certo. Certas idéias são ruins. Certas piadas não têm graça. Não adianta nada ficar preso nelas, tentando manter elas vivas eternamente, gerando só mal-estar e dor de cabeça.

Não vou bancar agora “o ser superior iluminado”, como se eu tivesse tido essa visão sozinho. Já vi outras pessoas falarem disso, inclusive um escritor que eu gosto muito, o Nick Hornby.

É foda conseguir desistir de certas coisas. Até é uma característica do cérebro humano, ficar insistindo no que está dando errado. Mas é importante aprender a deixar certas coisas pra trás.

Ok, desistir de tudo o tempo inteiro também é uma bosta. Não é isso que eu tô sugerindo. Só tô falando que aquela sua idéia épica de um romance de mil e quinhentas páginas que você criou baseado num sonho que teve aos doze anos e que agora, aos trinta e cinco, você já mudou tanto que não faz mais a menor idéia de qual era o objetivo inicial dela, já pode morrer em paz, e que isso não te faz um autor pior.

Sim, eu sei que é só um tumblr tonto com uma piada tosca, mas eu queria falar dessa coisa toda de desistir da idéia ruim. E sim, eu sei que o troço durou pouco tempo pra eu ter uma real noção do sucesso ou fracasso dele. Mas eu tenho mais o que fazer.

Como, por exemplo, escrever para o blog. Que eu continuo arrastando, mantendo vivo com o que dá, até o momento que eu desistir dele também. Se bem que, por enquanto, ele ainda é uma boa idéia.

Acho. Talvez. Não sei. Foda-se, eu estou certo.