quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

O desinteressante fim de uma piada mal contada.

Oi.

Feliz ano novo.

Demorei, mas voltei. Tava ocupado. Jogando WiiU, assistindo Breaking Bad e cultivando um cavanhaque.

Me sentindo muito Walter White, te contar. Só que sem a careca. E o câncer. E a metanfetamina. E as bolas. Me deixem em paz, só quero sonhar. 

Enfim.

Tinha uma outra coisa que eu estive fazendo, que me afastou do blog. Um tumblr. Chama “Jesus é da Fiel”.

Basicamente, a piada dele é misturar imagens de Jesus com o Corinthians.

A idéia nasceu dos adesivos de carros com os dizeres “Deus é fiel”. Eu sempre fiquei tentando fazer alguma piada tonta com eles, seja algo como “Rex é fiel” ou “Deus é inexistente”, mas um dia me veio a idéia de misturar futebol e brincar com “Deus é da Fiel”.

Eu gosto muito dessa linha de brincadeira, pois assim eu consigo tirar sarro das duas maiores comunidades que existem no Brasil: cristãos e corinthianos.

E essa piada também trabalha em cima do bairrismo todo que existe em torno de religião e de futebol, que faz com que as duas coisas fiquem cada vez mais parecidas.

Rituais, cantos, peregrinações, idolatria, violência contra outros grupos… enfim, são coisas muito similares. Acho que a principal diferença é que, no caso das torcidas de futebol, eles idolatram um ícone que existe de verdade (o clube), ao contrário das religiões.

Novamente, aquela imagem de Deus.

Se bem que essa questão toda pode ser resumida como pertencimento. Na verdade, não sei se essa é a palavra mais correta para o contexto que eu quero. Estou falando do “sentimento de pertencer a um determinado grupo e de desprezar/rivalizar com grupos rivais”. Fica mais fácil de entender se eu usar bairrismo de novo, mas queria uma palavra mais abrangente. Foda-se, vou chamar esse sentimento de pertencimento de agora em diante.

Bem, pertencimento não é exclusividade de religiões e torcidas. Dá pra falar mais ou menos a mesma coisa sobre fãs de estilos de música, leitores de quadrinhos ou consumidores de tecnologia. Ou mesmo nacionalismo. Pertencimento é algo fundamental da natureza humana. Nosso grupo contra o outro - mas nem sempre com violência. É possível existir convivência pacífica, acredito. Só que sem fé. Fé fode tudo. Sempre.

Enfim, me alonguei demais nessa tangente. Não era o plano falar sobre pertencimento. Li recentemente um texto sobre o assunto, por isso que estou com ele na cabeça, se quiserem, vão ler lá.

Voltando ao tumblr. Piada com religião e futebol, podendo ser elaborada para algo mais intelectualóide, a coisa toda do pertencimento.

O melhor jeito que eu encontrei para disseminar a brincadeira foi fazer essas montagens tontas e subir num tumblr, a rede social mais popular de todos os tempos da última semana.

Não apenas uma, mas duas referências (o título, pra quem não conhece) não-pejorativas à cultura nacional no mesmo post? Quem sou eu e o que eu fiz comigo mesmo? 

Só que aí eu tive outra idéia: não deixar (muito) explícito que é uma piada. Deixar no ar se é alguém fazendo uma piada ou se é um corinthiano religioso zoado da cabeça (redundância).

Então eu deixei o tumblr mais ou menos bem feitinho, e coloquei uma descrição pseudo-séria. E subi as primeiras imagens.

Devo dizer que me diverti bastante fazendo essas montagens tontas no Pixelmator (Photoshop genérico para mac), mais até que as que eu faço aqui pro blog. E me esforcei em fazer elas minimamente decentes. Sim, têm umas tosqueiras, mas eu tentei minimizar elas.

Daí veio o extenso trabalho de divulgação. Falei pra umas cinco pessoas e tuitei. É, eu sei, isso é um grande nada de divulgação. Mas eu achava que a piada era boa o bastante para ter um pouquinho de boca-a-boca, até por causa do modo como o tumblr se “auto-divulga”, com reblogs e likes.

Só que ouve uma pequena diferença em relação ao modo como eu divulgo o blog. Eu não deixei explícito que fui eu quem criou o tumblr. Fiquei na moita, e por um motivo muito bom, na minha opinião: pertencimento. De novo.

Basicamente, fiquei com medinho de algum corinthiano mais exaltado ou um cristão ofendido me esfaquear na rua. Sim, paranóia tonta. Ou será mesmo? O que vemos de notícias de violência gerada por causa de futebol e religião assusta.

Resumindo, fui covarde e fingi que não tinha nada a ver com essa coisa. Só anunciei “olhem, pessoas, a coisa interessante que achei”.

Mas achei que isso não fosse importar, que a idéia era boa o bastante para pertencer a um anônimo.

Enfim, achei que essa piada ia ser a minha segunda grande sacada viral internética para o mundo (algum outro dia falo da primeira).

E, depois de umas três semanas subindo imagens, desisti por completo do tumblr.

Ele ainda tá lá, e liguei o botão de “participe”, para quem quiser se dar ao trabalho, mas não pretendo voltar a mexer nele. Não num futuro próximo, pelo menos.

Ou seja, ele foi um grande fracasso. Para mim.

Como que eu sei isso depois de apenas três semanas atualizando ele?

Simples, percebi que a piada é ruim. Ou melhor, que ela foi muito mal-executada. E que ela é ruim mesmo.

Vamos começar com o problema mais claro dessa e de toda piada ruim que existe: ter que explicar ela.

Uma piada extraordinária é entendida no momento que você vê/ouve ela. Outras piadas muito boas são compreendidas um pouco depois, quando você digere ela e percebe as nuances dela. E tem aquelas que são piadas internas, onde você precisa de uma certa quantidade de referências para entender ela.

E essas últimas que são as mais difíceis de darem certo, e foi o caso desta piada.

Sem eu explicar a origem dela, dos adesivos de carro, como que alguém ia SEQUER PERCEBER QUE É UMA PIADA?

O esperto aqui também teve a brilhante idéia de deixar indefinida a coisa toda disso ser uma piada, para as pessoas REALMENTE ficassem na dúvida se era algo real ou tiração de sarro.

Ou seja, pessoas olhavam para essa coisa e achavam que ou era algo brega e tonto de gente brega e tonta. Ou, como muita gente não tem as bolas de falar com todas as letras, PARECIA COISA DE POBRE. Ainda pior, parecia uma tiração de sarro com os “financeiramente menos favorecidos”. Uma coisa preconceituosa conservadora nazista horrorosa.

Basicamente, a piada que as pessoas viam era “ser corinthiano e religioso são coisas de pobre, logo vamos rir de pobre”. E querer compartilhar uma coisa dessas, mostrando para o mundo que você é preconceituoso com “os mais humildes” não é legal.

Não vou bancar o inocente fingindo que não percebi essa leitura quando tive a idéia da piada. Mas acho que me perdi demais na brincadeira com os adesivos de carro.

O mais estranho é que, no final das contas, também não fui a fundo na coisa toda de “parecer brega”. Sei lá, acho que trabalhar com designers e ilustradores por muito tempo de impediu de deixar a coisa toda pior. Eu cogitei fazer um banner dourado em Zapfino. Colocar algumas coisas em Comic Sans. Fazer o fundo ser um escudo do Corinthians distorcido e pixelado repetido infinitamente. Mas uma parte do meu cérebro me impediu de fazer isso, até pela coisa de parecer minimamente real. E de que eu não queria induzir os visitantes a uma crise explosiva de vômito seguida de ataques epiléticos.

Também ia ter aquela coisa horrorosa de mudar o ponteiro do mouse. Nossa, isso dá vontade de morrer.

Enfim. Vamos para o outro problema que o gênio aqui criou.

Chamar o tumblr de “Jesus é da Fiel” ao invés de “Deus é da Fiel”.

Isso criou um distanciamento com a origem da piada, pois o adesivo mais comum é “Deus é fiel”, e não “Jesus é fiel”. Só que eu pensei que, como existem mais imagens de Jesus, ia ser mais fácil fazer montagens com Jesus e, para manter um tipo de coerência com as imagens, o tumblr devia ser com Jesus ao invés de Deus.

Péssima idéia. Desconectou tudo. Ficou uma expressão vazia.

Até porque, convenhamos, a figura dos dois já se fundiu no inconsciente coletivo (OBS.: como saber se alguém não sabe a opinião da sociedade: a pessoa usa a expressão “inconsciente coletivo”). Eu podia muito bem ter chamado o troço de “Deus é da Fiel” e usado trocentas imagens de Jesus que ninguém ia ligar.

Resumindo: uma piada que, fora do contexto (acho que, no caso desta, até mesmo dentro do contexto), parece algo preconceituoso e que ainda por cima foi distanciada do contexto necessário para ela ser entendida, É UMA PIADA RUIM.

E piadas ruins merecem morrer.

É difícil para quem criou a piada, mas é necessário. E é disso que eu estou falando aqui.

Fiquei bem chateado quando percebi que essa idéia era tonta. Ou, pelo menos, que ela foi executada mal e porcamente. Dá aquela crise básica de gente depressiva de que “nada do que eu faço presta”.

O pior é a parte de “mas se eu desistir agora, o que isso faz de mim?”

A resposta: um criador/autor/piadista melhor.

Essa que é a real, uma das lições que eu mais tenho dificuldade de aprender, mas que eu me esforço para incorporar no meu ser: eu posso desistir.

Certos projetos não dão certo. Certas idéias são ruins. Certas piadas não têm graça. Não adianta nada ficar preso nelas, tentando manter elas vivas eternamente, gerando só mal-estar e dor de cabeça.

Não vou bancar agora “o ser superior iluminado”, como se eu tivesse tido essa visão sozinho. Já vi outras pessoas falarem disso, inclusive um escritor que eu gosto muito, o Nick Hornby.

É foda conseguir desistir de certas coisas. Até é uma característica do cérebro humano, ficar insistindo no que está dando errado. Mas é importante aprender a deixar certas coisas pra trás.

Ok, desistir de tudo o tempo inteiro também é uma bosta. Não é isso que eu tô sugerindo. Só tô falando que aquela sua idéia épica de um romance de mil e quinhentas páginas que você criou baseado num sonho que teve aos doze anos e que agora, aos trinta e cinco, você já mudou tanto que não faz mais a menor idéia de qual era o objetivo inicial dela, já pode morrer em paz, e que isso não te faz um autor pior.

Sim, eu sei que é só um tumblr tonto com uma piada tosca, mas eu queria falar dessa coisa toda de desistir da idéia ruim. E sim, eu sei que o troço durou pouco tempo pra eu ter uma real noção do sucesso ou fracasso dele. Mas eu tenho mais o que fazer.

Como, por exemplo, escrever para o blog. Que eu continuo arrastando, mantendo vivo com o que dá, até o momento que eu desistir dele também. Se bem que, por enquanto, ele ainda é uma boa idéia.

Acho. Talvez. Não sei. Foda-se, eu estou certo.