terça-feira, 7 de abril de 2015

Engenharia, design e cabos de força

Olá. Este vai ser um post bem “first-world problem”, mas eu tenho que descarregar o meu ódio no coração, Ikki.

Esta história começa ainda ano passado, em novembro de 2014, quando meu Hard Drive externo de backup morreu. Resolvi, então, arranjar dois HDs de backup substitutos: um para o Time Machine (o software de backup que vem com o OSX), como o antigo, e um para eu clonar com o Carbon Copy Cloner. Caso queiram saber o porquê de arranjar esses dois, o motivo é que eles suprem necessidades diferentes, porém complementares: o do Time Machine é um tipo de versionador, que mantém todas as versões dos meus arquivos salva para que, caso necessário, eu ache versões antigas de arquivos meus; já o clone é para ser um HD de boot para eu conseguir ligar o meu computador caso meu HD principal morra e assim eu conseguir trabalhar no computador (hahaha, trabalhar, claro) até conseguir substituir o HD principal. O ideal seria que eu ainda tivesse uma solução de backup online, que supre a emergência chamada “incêndio”, mas tô com preguiça no momento, sem contar o custo.

Enfim, comprei os HDs num dos xing-lings da Paulista (não tenho mais saco de passear pela Santa Ifigênia e nunca fui muito fã do Mercado Livre, antes que vocês me julguem por pagar um pouco mais caro por hardware) (agora que acabei de escrever esta expressão, “xing-ling”, que percebi como ela é preconceituosa. Aceito sugestões de substitutas, mas a melhor que me ocorre por enquanto é “stand center”, em homenagem ao falecido) e, ao voltar para casa, tive que encarar um dos meus grandes traumas: cabos e mais cabos e mais cabos. E mais cabos. Cabos.

Não sei dizer exatamente quando, mas a partir de um certo ponto da minha vida resolvi manter os cabos do computador e etc minimamente organizados, prendendo sobras com braçadeiras plásticas e tagueando tudo com fita crepe ou similar. Não conseguia deixar no nível que algumas pessoas mais obsessivas, mas ficava contente com os meus resultados.

Só que eu sempre tive um grande arqui-inimigo nessa coisa toda de organizar os cabos: os adaptadores de corrente alternada, ou como eu sempre chamei, os “power bricks”.

Se ao menos eles perdessem seus poderes de maneira estúpida, ia ser ótimo.

Mais especificamente, os power bricks tipo wall wart (daqui em diante chamados de PBWW).

Seguinte: esses PBWW são uma grande merda. Uma merda gigantesca. Eles são um ótimo exemplo daquilo que eu chamo de Produtos Projetados Para Ninguém™, onde o pessoal que cuidou de desenhar isso não levou em conta como as pessoas usam o produto. Antigamente chamava coisas assim de Produto Projetado Por Engenheiros™, e antes disso chamava de Produto Projetados Por Desãããinnn-ers™, mas hoje em dia eu sei que muita coisa tosca por aí não é culpa nem do engenheiro nem do designer, provavelmente é culpa do pessoal de vendas, do chefe ou, na gigantesca maioria dos casos, do cliente.

Enfim, para melhor justificar porque eu acho os PBWW uma grande merda, vou falar um pouco do meu escritoriozinho aqui, onde crio estas peças de texto que vocês encontram neste blog.

Comecemos listando o que tenho aqui que precisa de uma tomada: um iMac, um modem, um roteador wi-fi, uma multifuncional, um hub USB e, desde novembro passado, dois HDs de backup. Total: sete.

Alguém aqui tem sete tomadas enfileiradas em casa, uma do lado da outra?

Não. Ninguém tem. É óbvio que ninguém tem.

Tudo bem, também é preciso ressaltar que nem todo mundo tem sete aparelhos para plugar na tomada, imagino que a maior parte das pessoas fique na casa dos três (PC, modem e impressora), mas ainda assim é difícil conseguir uma tomada exclusiva para cada aparelho.

Mas é preciso conectar tudo na tomada.

Solução? Benjamins. Extensões. Estabilizadores. Filtros de linha. Gambiarras. Aquela maravilha.

No meu caso, a solução foi um no-break (aliás, sabiam que no-break é o nome que brasileiro deu para essa coisa, e que o nome em inglês é completamente diferente - Uninterruptible Power Supply, ou UPS?) com alguns benjamins (meu no-break só tem quatro entradas e tenho sete aparelhos, caso tenham esquecido). Por muito tempo foi um estabilizador, mas um dia perdi trabalho por causa de uma queda de energia e aprendi a lição e arranjei um no-break.

Só que aí aparece meu grande arqui-inimigo, meu nêmesis, minha pedra no sapato, minha fonte de fúria incontrolável: os PBWW.

A parte de trás do meu no-break…

…onde tenho que encaixar estes quatro PBWW do apocalipse, além de outros plugues minimamente inteligentes, mas…

…acontece isto.

Ahem.

Essa merda egocêntrica de PBWW é tão metida a estrelinha brilhante que brilha lá no céu que ocupa de duas a três tomadas da merda do no-break! Puta que pariu! Tá se achando a porra da última bolacha do pacote, sua bosta? Tá se achando a foda? Sinistra? Avassaladora? No escuro é um perigo? Caralho! Você é só a porra do plugue da merda do hub usb, porque cacetaralho você tem que ocupar toda a existência com sua mesquinharia galopante? Caralho! Porra! Cu! Cacete! Merda! Cocô! Xixi! Toba! Aaaaaaaaaaah!

[Respira fundo]

Ah…

Ok.

De volta à historinha.

Fiz do jeito que deu a conexão da coisa toda, criando uma lambança horrorosa de benjamins e extensões que parecia que ia explodir a qualquer momento quando alguma coisa soltasse uma fagulha elétrica indesejada, mas enfim, foda-se, tava tudo plugado e funcionando.

arranjamos gatos de estimação.

E eles ADORAM a parte de trás do computador. É um tipo de Disney para os gatos, eles adoram passear sobre todos os cabos, principalmente aqueles que estão super-não-bem presos no benjamim que está plugado na extensão que conecta na tomada mais exposta do no-break.

Ou seja, fiquei com um puta cagaço dos gatos causarem uma explosão no no-break e tacarem fogo em tudo, inclusive neles mesmos.

O que me trouxe de volta à minha eterna briga com os PBWW. Esses malditos. Os PBWW, não os gatos. Vocês entenderam.

A origem do problema com os PBWW é que temos uma falta de conversa entre o pessoal dos produtos eletrônicos (que precisam de adaptadores de corrente alternada) e o pessoal das soluções elétricas (no-breaks, extensões, etc). E este problema de comunicação nasce do fato dos dois grupos terem o mesmo briefing:

“Faça o produto mais slim possível.”

Os designers/engenheiros de produtos eletrônicos estão sempre tentando diminuir o tamanho de suas criações. Só que, ao mesmo tempo, essas maravilhas tecnológicas continuam precisando de energia elétrica do jeito certo, o que gera a necessidade de um adaptador de corrente alternada, senão o troço não vai. E essa porra de adaptador é enormemente gigantesca. Solução: esconder o adaptador no cabo, já que a foto do produto que vai na caixa e nas campanhas publicitárias nunca mostra o cabo do maldito.

Já os designers/engenheiros de soluções elétricas querem entrouxar (essa palavra existe de verdade! Eu sempre usei ela me achando o Guimarães Rosa, como se tivesse inventado ela. Grande lição de humildade para mim, vivendo e aprendendo) a maior quantidade de tomadas nos seus produtos, mas sem deixar o aparelho do tamanho de um frigobar. Resultado: um monte de tomada, uma do lado da outra, apertadinhas como sardinhas numa lata.

Daí, quando o consumidor quer plugar seus produtos eletrônicos na sua solução elétrica (nota mental: usar essa expressão como eufemismo para sexo em um post futuro), ele não consegue aproveitar todas as tomadas extras porque algum imbecil concluiu que o melhor lugar para esconder o adaptador era na porra do plugue.

E assim chegamos na parte que mais me irrita nesta história toda, e que vocês provavelmente estão pensando: já existe uma solução para este problema.

É só pôr a porra do adaptador no meio do cabo (ou próximo ao final do cabo), deixando o plugue com um tamanho aceitável. Óbvio.

Ó-BÊ-VÊ-Ô!

Aqui um exemplo inteligente de posicionamento de power brick, feito pela HP (dando crédito para quem merece).

Mas nãããããããooo, temos que ser especiais e fazer o plugue gigante para nosso produto não-tão-fundamental-assim ficar pequeno (e nem sempre bonito, tem muito produto eletrônico que é minúsculo e horroroso) e ocupar três tomadas da solução elétrica do consumidor.

Adivinha só: vocês não são especiais. São só uns imbecis que não pararam para ver como o consumidor usa os seus produtos. Provavelmente nem pensaram no cabo de força, só mandaram a fábrica chinesa fazer a opção mais barata e ligaram o botão do foda-se. Seus merdas.

E não é a única solução, já que também tem a “meu produto é grande sim, e daí”, que é bater o pau na mesa e aumentar o tamanho do produto, colocando o adaptador dentro dele. E, se as vendas do PS4 (e mesmo do PS3, em certo grau) forem indicativos, se seu produto é bom (e é a única opção para quem quer jogar Tales of), as pessoas compram seu produto gigante e arranjam espaço para ele, além da vantagem de não gastarem dezevinte tomadas com ele.

Porém, a verdade é que a estupidez do cabo de força nunca vai ser efetivamente um fator decisivo na hora da compra. Não vejo a NET ou a Vivo fazendo uma propaganda com a frase “nosso modem não ocupa duas tomadas!” ou mesmo alguém num stand center ou na Santa Ifigênia pedindo pro vendedor abrir as embalagens e comparar os cabos de força. No fim, é só um problema que temos que conviver com, por mais que seja um “first-world problem” (esta expressão só pode ser usada em inglês, até para reforçar seu significado). Nem eu vou realmente desconsiderar um produto com base nisso, tanto que comprei direto os HDs que pareciam ser os mais confiáveis (da Seagate com case da Samsung), e teria comprado eles mesmo se o vendedor tivesse me mostrado um concorrente com um plugue inteligente.

Mas que irrita o fato de existir uma solução e os fabricantes de produtos eletrônicos cagarem e andarem pra isso, irrita.

Antes de terminar o post, queria mostrar a solução que eu encontrei na Kalunga e que resolveu os meus problemas, este “polvo” de tomadas:

Não achei vendendo online (achei num lugar, mas não tinha foto e não queria indicar sem ter 100% de certeza que era o certo), mas aqui tem o site do fabricante.

Basicamente, alguém percebeu este problema, provavelmente OBSERVANDO SEUS CONSUMIDORES, QUEM DIRIA, e criou a solução.

Lindo. Perfeito. E recomendado por este blog.

Sr. Forceline, pode pôr este selo na embalagem do seu produto!