quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

Faixas de pedestres e flatulência cerebral.


Este é o post que eu fui e voltei e fui e não conseguia terminar. Agora consegui. Não tá fantástico, mas eu precisava acabar ele, de um jeito ou de outro. Enfim.

Nova Iorque. De novo.

Uma das primeiras coisas que me chamou a atenção foi o trânsito de lá. Ou o que eu pude ver do trânsito indo de van do aeroporto até o hotel.

E me pareceu ainda pior que o trânsito de São Paulo.

É, eu sei. Soa impossível, mas realmente parecia pior. Carros cortando as faixas de um lado para o outro, fechando cruzamentos e… bem… essas duas coisas que me chamaram a atenção a princípio. Coisas que você nunca vê em São Paulo.

Como este é o único jeito das pessoas entenderem sarcasmo hoje em dia, aqui está a hashtag.

Depois teve outra coisa que me incomodou muito: os motoristas ignorarem, em grande parte, a faixa de pedestre. Estou falando de parar o carro em cima da faixa no farol vermelho. Parecia que isso simplesmente “é parte do processo”, ou seja, é esperado por todos que os carros parem em cima da faixa. Aqui, pelo menos, ainda dá multa, fazendo com que a maioria dos motoristas evite parar na faixa. Acho.

Enfim, nos primeiros dias, eu tava bem incomodado com o trânsito de Nova Iorque. Me parecia que o pedestre era ainda mais ignorado que em São Paulo.

Só que, depois de alguns dias, eu acabei percebendo uma coisa muito interessante sobre o trânsito lá: não havia semáforos de três fases, como aqui, com o “turno do pedestre”. Lá só tinham duas fases, ambas para os carros. O pedestre? Bem, ele atravessava quando o sinal de pedestre deixava. E era no mesmo momento que os carros que estão indo paralelamente aos pedestres que estão atravessando a rua. Ou seja, o sinal dos carros e o dos pedestres que vão na mesma direção “ficam verdes” ao mesmo tempo. Não sei se deu pra visualizar. Não sou tão bom pra descrever as coisas como o Tolkien.

Só que fica a pergunta: “E se o motorista quiser virar? Vai ter um bando de pedestres atravessando a rua (na faixa, devo ressaltar), o que o motorista nova-iorquino faz?”

Ele pára e espera.

*** Nota não relacionada: o acento agudo de “pára”, do verbo parar, é um dos acentos mais importantes da língua portuguesa, e nunca vou deixar de usar ele, e o novo acordo ortográfico pode ir pra puta que pariu. ***

Sério.

Deixem essa idéia se aprofundar na sua massa cinzenta.

Motoristas parando para pedestres atravessarem sem uma luz mágica específica mandando eles fazerem isso.

No começo, eu ainda parava, olhando para o motorista com cara de cachorro faminto, esperando ele fazer sinalzinho com a mão para eu atravessar (ou não).

Mas o resto da horda de pedestres continuava atravessando como se não houvesse amanhã.

Ou seja, é esperado que o motorista pare para o pedestre atravessar. Por isso, não há semáforo de três fases. O sinal é para todos. E o pedestre tem prioridade.

Acho que é até por causa disso que o trânsito lá é tão horrível - em mais de uma ocasião eu vi só uns dois carros conseguirem passar pelo semáforo por causa da enorme quantidade de pedestres atravessando, gerando um acúmulo de automóveis nos faróis.

Observando mais o comportamento dos pedestres, percebi também que eles (a gigantesca maioria, pelo menos) realmente atravessam na faixa de pedestres. Por aqui é bem um “se dá, sai correndo e atravessa agora”, mas lá as pessoas realmente pareciam dispostas a andar até a faixa e esperar o sinal de pedestres abrir. Acho até que foi um dos momentos que mais me senti turista, quando atravessei uma rua fora da faixa.

Olha só como sou turista, atravessando fora da faixa.

Quando percebi isso, mudei um tanto de idéia sobre trânsito de Nova Iorque. Me pareceu mais civilizado que o de São Paulo.

Agora, porém, olhando em retrospecto, não sei se isso realmente faz o trânsito de NY melhor.

Quero dizer, é legal que o pedestre tem essa prioridade, mas, como já disse, acabava atrapalhando bastante a circulação dos carros. Só que comecei a achar esse esquema relativamente mais perigoso para o pedestre.

É que, a partir de um momento, o pedestre começa a confiar demais no sinal verde e vai atravessando cegamente. Vai que, bem nesse momento, temos um motorista distraído, enviando um SMS enquanto ouve um audiobook e olha o caminho indicado pelo seu GPS?

Pois é.

Aqui chegamos ao assunto que eu realmente queria elaborar, algo que eu fico minhocando bastante toda vez que eu saio a pé por aí (todo dia).

O quanto que eu confio a minha vida nessa luzinha mágica do semáforo?

Muito, aparentemente.

A ponto de ir atravessando a rua sem olhar para os dois lados antes, olhando apenas para o semáforo de pedestres. E arriscando minha vida no processo.

Afinal de contas, o que vai me dar uma visão melhor da rua e do fluxo de carros, o sinal de pedestres ou A PORRA DA RUA?

Mas eu cresci me condicionando a ficar alternando o olhar do semáforo e a rua, sempre tentando ver o melhor momento de atravessar. Se o farol de pedestres tá vermelho, mas não tem carro vindo, eu atravesso. Só que, se o farol de pedestres tá verde, eu não confiro a rua, eu simplesmente vou na fé, crente que o processo civilizatório (o sinal vermelho) vai me proteger.

Os nova-iorquinos elevaram o nível disso, aparentemente, já que nem tem a “fase do pedestre atravessar”. Abriu o sinal, vamos que vamos, a civilização segura as pontas.

Enfim, isso é o glorioso Contrato Social. Nos submetemos a uma série de regras para conseguirmos viver em sociedade. Não quero parecer muito metido, então nem vou me aprofundar no assunto. Se te interessa, vai ler Hobbes. Não, o outro Hobbes.

Mas eu acho que as regras do processo civilizatório superestimam demais o cérebro humano. Afinal de contas, ao confiarmos demais nas engrenagens da sociedade, esquecemos de um fato imutável e absoluto:

Cérebro peida.

O cérebro de todo mundo peida.

E, quando o cérebro peida, a gente perde um momento do desenrolar do tempo-espaço contínuo e isso potencializa a merda.

E sabem o que ajuda a fazer o cérebro peidar?

Excesso de informação.

Muito bem, deixa eu explicar melhor. Voltar para à questão do trânsito. Faixa de pedestre.

Lá estou eu me preparando para atravessar a rua. Tenho duas fontes de informação para dividir meu cérebro. O semáforo e os carros vindo. Uma hora olho pra um e outra pra outro.

Quando meu cérebro conclui que eu posso atravessar, lá vou eu.

Só que, de repente, meu cérebro peida. Olho só para o semáforo. Tá verde pra mim. Não olho a rua. Só que um cara deu aquela aceleradinha pra passar no farol quando ele tá fechando. Pronto, ataque do coração pra todo mundo.

Agora, vamos piorar a situação.

Além do farol e dos carros, estou ouvindo um podcast ou uma música. E estou jogando alguma bobagem no iPhone, como Jetpack Joyride. Ou, quem sabe, estou lendo um livro ou um mangá. E estou bebendo alguma coisa. E, além disso, tem uma “moça da vida” vestida que nem atendente de telemarketing na sexta feira, ou seja, só um tapa-sexo, querendo atravessar a rua também. Ou, ainda, tem alguém com um pug na calçada, algo que sempre me chama a atenção. Sem contar o cheiro nojento de óleo com yakissoba do carrinho na esquina.

Meu cérebro me diz para voltar pra casa.

Resumindo, estou alimentando meu cérebro com feijoada requintada, salada de repolho estragado e torta de batata doce.

Mas eu confio na sociedade. Bato o olho no semáforo, olho de relance para ver se os carros estão parando, e atravesso a rua. Ainda estou vivo.

Acho que estou me perdendo de novo.

O ponto que estou querendo chegar, ou melhor, o questionamento que estou levantando (me senti o lorde filósofo, agora), é o quanto confiamos no nosso cérebro, no cérebro do motorista e no processo civilizatório para fazer uma coisa tão banal quanto atravessar a rua.

Porque nenhum deles é realmente confiável.

Quanto aos nossos cérebros, eles se distraem com qualquer coisa. Não foram feitos para multi-tasking, não importa o quanto nos enganamos quanto à isso. E, quando estamos interagindo no trânsito, a menor distração pode ser fatal.

E a sociedade tenta organizar o seu funcionamento com regras e sinais para nos guiar.

Só que, olhando com calma, um acaba funcionando contra o outro.

Excesso de sinais de trânsito acaba criando pessoas que prestam mais atenção neles que nas outras pessoas, gerando situações perigosas, onde resolvemos atravessar um sinal verde sem antes ter certeza que é realmente seguro.

Sim, o Cracked já falou disso não apenas uma, mas duas vezes. Mas achei tão interessante que quis dar a minha visão dessa merda toda.

Então, basicamente, estou tentando avisar a todos a serem mais cuidadosos no trânsito, preservar mais a vida dos outros, e pararmos de nos distrair com qualquer coisa, dando prioridade às nossas vidas.

Certo?

Mais ou menos.

Que, sinceramente, tenho muitos podcasts para ouvir. Se eu não ouvir enquanto estiver andando por aí, não vou ouvir nunca. E isso é importante. Pra mim.

Assim como tem gente que precisa, sei lá, ler Cinqüenta Tons de Cinza enquanto anda por aí, assim como tem gente que precisa ouvir o jogo do Curíntia enquanto dirige.

E, para isso, precisamos desses sinais cuidando da gente enquanto estamos ocupando nosso cérebro com outras coisas. Mais importantes. Que nossa segurança.

Enfim.

Melhor parar antes que eu aceite os imbecis que tentam mandar SMSs enquanto dirigem.

Não sei mais onde quero chegar com este post.

Vamos concluir assim:

Até inventarem meios de teletransporte ou roupas super resistentes que nos protejam do impacto de um carro a oitenta quilômetros por hora, precisamos equilibrar a atenção que damos para o trânsito e para outras coisas, como podcasts, livros e moças de telemarketing.

Temos todos que seguir a lição que aquela pessoa muito importante para todos nós nos ensinou quando éramos mais jovens:

Seja cuidadoso ou seja atropelado.

Se entender essa imagem, quinhentos pontos de internet pra você.

sexta-feira, 23 de novembro de 2012

Não sei mais qual o objetivo deste blog, mas acho que preciso continuar ele.

Oi.

Historinha pra vocês.

Tava escrevendo outro post sobre NY, e comecei a ficar irritado, que o texto não tava chegando a lugar algum.

Por causa disso, comecei a ficar me auto-flagelando, falando que é perda de tempo escrever pra esta bosta de blog, já que isto aqui nunca vai me levar a nada.

Daí fiquei me cobrando por ter que achar que tudo tem que ter um retorno financeiro, afinal de contas, a vida vale mais que dinheiro.

O que me levou a me martirizar por ser tão influenciado pela minha criação japonesa rígida e retrógrada de bosta e esta sociedade tonta em que me encontro, onde a única coisa que posso gostar de verdade é grana.

Fazendo então com que eu ficasse um tanto puto com a década que eu perdi fazendo terapia e tomando anti-depressivo, já que, claramente, eu ainda sou um caso perdido.

Lembrando-me então de um dos meus livros favoritos, Admirável Mundo Novo, de Aldous Huxley, que se passa numa sociedade utópica onde as pessoas não tem problemas emocionais, mas se algum escapar, é só tomar soma, a droga perfeita.

Aí, fiquei pensando que uma solução viável para o tráfico de drogas é legalizar e estatizar o comércio das mesmas, cobrando preços ridiculamente baratos, de modo a esmagar a concorrência do tráfico e, ao mesmo tempo, mantendo todos os usuários sob controle do governo.

Então eu me lembrei do Penn Jillette e sua posição libertarianista sobre política, onde o governo tem mais é que ficar na dele e não se meter na vida dos cidadãos, o que sempre me deixou confuso quanto ao “limite”, ou seja, até que ponto o governo deve ajudar/controlar a vida das pessoas, sendo que nunca cheguei a conclusão nenhuma.

Só então que eu parei e fui jogar videogame. Comprei um PS3 lá na América só pra jogar mais Tales. No caso, Tales of Graces f. Depois, quando eu terminar ele, pretendo comprar Tales of Xillia.

Aí, depois de cento e vinte horas de jogo, eu vi que não escrevi porra nenhuma pro blog.

E fiquei me sentindo mal. Sei lá porquê.

Tentei retomar o post que eu comecei.

Me irritei de novo.

E resolvi sair escrevendo tudo que me veio na cabeça em parágrafos curtos.

E saiu este post.

Enfim.

Vou continuar com o blog. Acho que eu preciso escrever. Ainda não é uma terapia. Muito pelo contrário, é algo que só faz eu me sentir pior. Mas acho que se eu não escrevesse essa merdaiada, ia ficar me sentindo ainda mais miserável. Ou não.

Yeah. Whatever.

DRAMA BOMB!

quarta-feira, 7 de novembro de 2012

This post will change your life!

Bem, talvez seja meio cretino falar sobre minha mui fantástica e deveras divertida viagem para Nova Iorque quando a cidade acabou de ser atingida por uma das piores tempestades da sua história, mas sei lá. Dei sorte, voltei na hora certa, e prefiro falar de coisas legais.

Como, por exemplo, The Book of Mormon. A melhor peça de teatro que eu já vi na minha vida.

Ganhou da outra peça que eu vi, Chapeuzinho Vermelho, em 1991.

É muito bom pra caralho mesmo em excesso ao quadrado alfa plus com microcápsulas de amaciante com cheiro de eucalipto.

A melhor definição que existe para The Book of Mormon é a frase do Jon Stewart que está em alguns cartazes do teatro: “É tão bom que dá raiva”.

Sério, é revoltante de tão bom. Dá vontade de ir assistir algo como apresentação de Macunaíma através de dança performática na feirinha da Vila Madalena só pra recuperar o próprio ego e assim voltar a tentar criar qualquer coisa.

Para quem não sabe, The Book of Mormon é um musical da Broadway criado por Matt Stone e Trey Parker, criadores de South Park (junto com Robert Lopez, compositor e letrista). Conta a história de dois jovens mórmons indo cumprir sua missão na Terra.

Se você conhece pelo menos um pouco de South Park e a visão que Matt e Trey têm de religião, dá pra saber como é o tom da história. Aliás, se você conhece pelo menos um pouco sobre mormonismo e a Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias (como é chamada no Brasil), você já sabe que é algo hilário por si só.

Mas The Book of Mormon não é só engraçado. Tem todo um lado questionador, que te faz refletir sobre religião, e possui uma pitada de análise social, mas sem “brasileirar” e ficar pedante. Sem contar as músicas chiclete que eu estou ouvindo em loop desde que eu voltei (só pra constar, comprei o CD, uma vez que ele está ligado a uma experiência).

Se algum dia você tiver a chance de ver, vá. Mesmo que a alternativa seja fazer sexo com a Scarlett Johansson coberta de chantilly (ou o Hugh Jackman coberto de chocolate, caso prefira) numa cama King Size com enchimento de notas de cem dólares dentro da Estação Espacial Internacional, sério, vá ver The Book of Mormon que vai ser uma experiência mais gratificante. Até porque a questão da cama se torna irrelevante em gravidade zero.

A parte mais difícil é escolher entre o chantilly e o chocolate.

Aliás, até recomendo começar a aprender inglês para entender bem o que eles falam/cantam e a orçar um dos seus rins, que o ingresso é caro pra cacete (sem contar toda a questão de ir pra Nova Iorque - não, não estou querendo exibir minha conta bancária, só quero exibir minha capacidade de economizar dinheiro ao invés de gastar em baladas, bebidas e vômito).

Resumindo, é tão bom assim. Aqui está um link para a apresentação que eles fizeram da primeira música (Hello!) no Tony deste ano para vocês terem uma idéia do clima da peça. Diria para evitarem qualquer outra música, que todas as outras têm spoilers, em maior ou menor grau.

Falando em spoilers, me esforcei bastante para não escrever nenhum, justamente para não desanimar ninguém de ir, nem estragar a experiência de quem conseguir ir e ficar esperando o final, onde é revelado que tudo não passa de uma visão de um budista meditando.

Mas tem um assunto que eu quero desenvolver neste post, e é capaz dos meus leitores mais perspicazes acabarem sacando certas coisas da história, então diria para lerem com cuidado o que vem a seguir. Ou, como meu mui didático professor de direção me instruiu sobre o uso da embreagem, “vai na manha”.

Posso começar? Legal.

Já faz algum tempo que eu tenho pensado em escrever sobre religião no blog. Já fiz umas piadinhas, mas queria fazer um post inteiro sobre o assunto. Afinal de contas, é algo que eu tenho opiniões bem fortes.

Bem, caso ainda não tenha dado pra perceber, sou ateu. Eu não acredito em Deus. Deus não existe. Ponto.

Imagem de Deus. É uma imagem em branco. Vazia. Representando o nada. Porque não há Deus. Deus não existe. Daí, uma imagem em branco. Não discute.

Sim, sim, eu sei que na verdade é impossível realmente saber se Deus existe ou não, tornando todo mundo agnóstico, na prática, mas como o mesmo pode ser dito de qualquer coisa, como duendes, fadas, fantasmas e o Acre, prefiro cortar o caminho e afirmar duma vez que Deus não existe e ponto.

Enfim, não vou discutir a existência divina, não é essa a idéia hoje. Meu objetivo é refletir a utilidade da religião.

Mais que ateu, por muito tempo eu me classifiquei como “anti-teísta”, ou seja, alguém que é ativamente contra a crença em Deus. Eu era daqueles que vestia a camisa do Richard Dawkins e afirmava com um tom de orgulho e desprezo na voz que religião é “a raiz de todo o mal” e devia ser expurgada da face da Terra. Achava que todo e qualquer tipo de organização religiosa devia ser considerada criminosa, perseguida e extinta.

No fundo, ainda penso isso.

Mas com motivo.

Meu principal problema com religião é que a premissa dela gira em torno da “verdade”. Cada religião existente tenta estabelecer uma “verdade” sobre o mundo. Meu Deus que criou o mundo, meu Deus que determinou o caminho da humanidade, meu Deus que escreve o certo por linhas tortas.

Por isso que dá merda.

A partir do momento que alguém chega pra você e fala que sua visão de mundo é errada, que a sua “verdade” não é real, você fica meio puto. Você passa por aquele sentimento de “então eu estive desperdiçando minha vida acreditando nisso, é isso o que você está falando?” e acaba ficando na defensiva, querendo proteger com unhas e dentes a sua crença.

Aliás, mais que a sua crença, ela (provavelmente) é a crença da sua família e de seus amigos. Tá falando que minha mãe mentiu pra mim? É isso, seu filho da puta?

Estão entendendo como isso é uma pilha de merda explosiva?

Por isso que eu gosto da Ciência, com sua premissa de encontrar evidências e se atualizar de acordo com o que for descoberto. Houve uma época que os cientistas e os médico acrediavam que lobotomia frontal era um dos melhores tratamentos existentes contra males psicológicos? Sim. Hoje em dia, não mais. Ainda bem que encontraram novas evidências e perceberam que existem caminhos melhores.

Se bem que podiam agilizar e achar meios melhores para outros procedimentos médicos.

Nessas horas que aparece alguém falando que isso, na verdade, é só uma pequena parcela dos religiosos, que a maior parte das pessoas não leva tão ao pé da letra o conceito da “verdade” que o livro sagrado da sua religião vende.

Então POR QUE CARALHO CONTINUAR COM ESSES LIVROS ESTÚPIDOS?

Sabe, se a maior parte das pessoas só “pesca” o que interessa dos livros religiosos, ignorando todo o resto, pra quê manter viva essa merda? Atualiza essa porra, cria um livro novo, sei lá.

Bem, deixa eu focar um pouco senão vou me perder no argumento. De novo.

Voltando para a questão anterior: a "verdade". Religião, a meu ver, nasceu com o mesmo propósito que a ciência: explicar o mundo e como ele funciona.

Só que ela também ganhou o papel de servir como “justificativa política”. Ou seja, por que o Josuílson é o rei? Porque Deus quis. Ponto.

Assim, por muito tempo e em diversos lugares do mundo, religião, ciência e política foram a mesma coisa. Ainda são, na verdade.

Só que parte dos humanos percebeu que ficar associando tudo o que acontece a figuras mágicas invisíveis não satisfazia sua curiosidade. Então foram analisar. Entender. Buscar evidências. Testar hipóteses. Achar a melhor explicação para um fenômeno natural. Se encontrassem novas evidências, mudariam a explicação. Atualizariam ela. Assim a ciência se separou da religião.

E, poucos séculos atrás, parte da população de certos lugares se encheu o saco de ter que ficar abaixando a cabeça pra gente escrota que estava no poder só porque “Deus quis”. Eles foram lá e tomaram o poder. Criaram uma idéia nova: o Estado laico. O Estado desligado da religião. A política se separa da religião também.

Resumindo: acho que estamos num tipo de período de transição, onde (espero) a religião vá perder definitivamente seu papel de “ciência” e de “política”.

Só que aí fica a pergunta: então pra que a religião vai servir?

Bem, se eu for bem sincero, minha primeira resposta é “porra nenhuma, amassa, joga fora, taca fogo e mija em cima depois”.

Muito importante a parte do mijo, não esquecer.

Só que não dá pra fazer isso. Pelo menos, não tão imediatamente.

Voltando: para que serve religião?

Se ela não explica como o mundo funciona nem justifica a hierarquia social, pra que serve essa porra?

Bem, tem a resposta básica “para cuidar do lado espiritual das pessoas”.

Pena que eu não acredito nisso também. Quero dizer, não acredito na existência de um “lado espiritual”. Existe a consciência, ligada ao cérebro e etc e tal, mas não existe uma “alma” para ser cuidada por um padre.

Existe a versão cínica da resposta anterior, de que ela serve como uma “muleta” para as pessoas conseguirem levantar da cama pela manhã. A premissa é mais ou menos a seguinte: sem o conforto da crença numa eternidade após a morte ou na existência de um ser mágico para responsabilizarmos pelo que acontece no mundo, não conseguiríamos realizar nada porque ficaríamos pensando no propósito de viver.

É aquela coisa de, ao invés de tomar as rédeas da própria vida e fazer alguma coisa com ela, ficar responsabilizando os outros pelo que acontece. Se for uma coisa boa, é graças a Deus. Se for ruim, é culpa do Diabo. Tira um peso das costas.

Provavelmente este será o papel da religião de agora em diante: muleta.

Só que tem ainda mais uma utilidade que eu vejo a religião tendo nesse futuro-não-tão-próximo-quanto-eu-gostaria. Que é a utilidade que eu já vi algumas pessoas falarem, e que The Book of Mormon me fez considerar como algo válido:

Comunidade.

Religião é algo que une as pessoas. Faz elas se aproximarem. Cria vínculos. E isso é importante.

É importante porque…



Ok, acabei de perceber que não sei explicar como isso é uma coisa boa.

Mas é.

Vamos tentar assim:

O ser humano é um bicho social. Nós somos pré-programados pelos nossos genes para viver em um grupo, em maior ou menor grau. Nós precisamos fazer parte de uma sociedade para sobreviver.

Eu realmente acredito que buscamos nos relacionar, mesmo que seja só um pouquinho, com outros seres humanos. Faz parte da nossa vida. Queremos encontrar pessoas com quem nos identificamos, com quem vale a pena se relacionar, com quem conseguimos elaborar um diálogo além de “Esquentou, não?” “É, mas deu no jornal que vai chover de tarde.”

Ou seja, queremos pertencer a um grupo, a uma comunidade.

E religião é um meio de providenciar isso para as pessoas.

Atualmente, esses grupos giram em torno da “verdade” que eles acreditam em comum. O que pode levar para a merdaiada toda já descrita de “minha verdade é mais verdadeira que a sua verdade mentirosa, leve uma bala no seu globo ocular esquerdo.” E isso é ruim.

Mas, se tirarmos essa bosta de querer explicar o mundo e de vender uma verdade, a religião pode ser simplesmente um conjunto de rituais (muito importante, nós gostamos de rituais e afins) e ensinamentos de auto-ajuda para as pessoas se unirem e se ajudarem.

Se jogarmos fora tudo o que se tornou irrelevante na Bíblia, deixando ela com umas seis páginas, temos um tipo de “guia para uma vida moral de acordo com Jesus”, onde as pessoas que se identificam com os ensinamentos de Jesus, esse guru de auto-ajuda, podem se encontrar e conversar sobre suas vidas e como ele está ajudando elas.

Assim como fariam os seguidores de Maomé, do Dalai Lama ou do Deepak Chopra.

Sim, a meu ver, religião vai virar só mais um tipo de auto-ajuda, uma desculpa para as pessoas se encontrarem e conversarem. E isso, sinceramente, não é ruim.

Também não é bom, veja bem. Até porque parte desse bando de gurus retardados de auto-ajuda vendem  bobagens como “cura do câncer através do quiabo” ou “músculos mais fortes injetando purê de mandioquinha na veia”. Ou seja, essa merdaiada “New Age” tem que largar mão de querer ser ciência também. Mas temos que ir um passo de cada vez. O ideal seria que eles (os caras de auto-ajuda e as religiões) só vendessem auto-estima.

Enfim, para essa minha realidade utópica virar realidade, aquela coisa toda de separação da ciência, política e religião tem que acontecer antes.

Infelizmente, não creio que isso acontecerá enquanto eu estiver vivo. Mas espero que meu tataraneto possa viver num mundo onde não existam pessoas que tentam usar termodinâmica para desprovar evolução.

quinta-feira, 25 de outubro de 2012

There, and back again

Olá, pessoas.

Estive viajando. Fui para a América, mais especificamente, Nova Iorque. Passear. E foi legal pra caralho.

Recebendo a América de braços abertos. Falando nisso, só chamo os EUA de América porque irrita as pessoas.

E tem um puta monte de coisa que eu quero escrever e postar aqui no blog sobre essa viagem, o que vai transformar isto aqui num blog mais “normal”, falando da minha vida pessoal, tão agitada, emocionante e conturbada.

Se bem que a quantidade de blogs feitos com o objetivo de cuspir ódio na cara de terceiros provavelmente ultrapassa a quantidade de blogs voltados para experiências pessoais, até por causa do Facebook, que é onde as pessoas gostam de exibir a vida fantástica delas.

Mas eu não uso muito o Facebook, então vou usar o blog aqui. E sei lá quando vou postar o primeiro texto sobre a viagem (além deste, que é o post zero), mas me deu vontade de avisar vocês, todos os catorze leitores deste blog (é o que o Google Analytics me mostra) (e eu sempre achei muito estranho escrever quatorze, me parece errado, sei lá porquê) que eu não desapareci nem desisti do blog (ainda).

Aliás, até acho uma boa começar a colocar posts mais curtos, como este, para manter o blog mais movimentado. Principalmente agora que eu estou usando menos o Tuíter. Percebi que sou muito verborrágico pra ele.

Enfim.

Por enquanto é só. Mas eu volto. Eventualmente.

sábado, 15 de setembro de 2012

Hail Apple!

Finalmente, depois de enrolar por uns dez meses, terminei de ler a biografia do titio Steve. E foi muito legal. Deu pra ver bem como ele era um grandessíssimo cuzão. Escroto pra caralho. Sabia manipular as pessoas como ninguém, fazendo-as trabalhar mais e melhor para cumprir com suas idéias loucas. De um certo modo, ele era o cliente/chefe mais mimado e desagradável que qualquer um poderia ter.

Mas, ainda assim, ele era um gênio.

Um gênio em descobrir e perceber o que acontecia à sua volta e criar um produto que não apenas fosse bonito e prático, mas que também funcionasse. E isso meio que virou o DNA da Apple, criar produtos que façam direito tudo que os dos concorrentes estão fazendo de errado, unindo funcionalidade e elegância, fazendo algo que as pessoas efetivamente queiram ter.

Sim, eu sou um Apple fanboy. Mas com motivo. Os produtos deles podem não ser perfeitos, mas eles funcionam. Funcionam infinitamente melhor que as outras merdas que existem por aí, isso eu te garanto. E, por eu querer viver uma vida mais fácil num mundo funcional, uso produtos Apple. Foda-se que Windows é melhor para games. Foda-se que usar Linux me ensina mais sobre o funcionamento de computadores (isso que eu trampo com programação). Foda-se que um telefone Android é mais “aberto”. Eu uso Apple porque, para mim, é melhor e ponto final.

E sim, este post inteiro vai ser eu punhetando uma para a Apple.


Nunca confie num homem com uma mão debaixo da mesa. Nunca.

Bem, mais ou menos isso.

Na verdade, quero falar de dois pontos: sobre a repercussão retardada que eu vi nas internets sobre a espetacular vitória da Apple sobre a Samsung na corte americana e sobre a visão que muita gente tem de que produtos Apple são para “criancinhas retardadas que só se importam com a modinha”.

Comecemos pelo primeiro ponto. O caso de quebra de patentes da Apple contra a Samsung.

Bem.

Então.

De algum modo mágico, a Apple virou a vilã dessa história.

As pessoas se convenceram de duas coisas:

Uma, que a Apple está praticando concorrência desleal, processando para fora do mercado os concorrentes que chupinham seus produtos. Essas pessoas também acreditam em coisas como duendes, papai noel e sistemas judiciários funcionais com decisões imediatamente executadas. Além de não entenderem o que é uma apelação judicial.

Basicamente, a Samsung vai apelar da decisão, o que faz a coisa toda enrolar mais uns meses, e até um juiz bater o martelo (literalmente) e mandar a Samsung pagar o que deve e calar a boca, sem mais apelações, deu tempo para ela tirar todos os smartphones que infrigiram as patentes da Apple do mercado, tornando a “parte 2” dessa história toda inútil.

Qual é a “parte 2”? É a parte onde a Apple tenta tirar do mercado todos os smartphones da Samsung que quebraram intencionalmente as patentes da Apple. Então, se você não sabia, a decisão do júri lá só gira em torno da multa. Para tirar esses aparelhos do mercado, a Apple tem que fazer outro processo (não sei se esse é o termo certo, algum advogado me corrija depois).

Então, essa visão que a Apple vai processar os concorrentes à falência é uma puta viagem de adolescente deslumbrado com teorias da conspiração. Não é assim que o mundo funciona.

Por enquanto, só falei da parte logística da coisa toda. Vamos para a parte, digamos, ética.

A Samsung chupinhou SIM os produtos da Apple. Basta ver o famoso slide que a Apple apresentou para os jurados durante o julgamento. Ou ver A PORRA DA DECISÃO DO JÚRI.

Sutil, não?

Isso gera a questão de “o que você faria se roubassem seu trabalho?”

Acho que não tenho que levantar essa questão para todos que já trabalharam de freela neste mundo. Principalmente aqueles que trabalham numa área criativa.

Por exemplo:

“Ah, mas é só um desenhinho/sitezinho/layoutezinho, meu sobrinho fez curso online disso, ele faz de graça.”

Ou…

“Então, gostamos do seu trabalho, mas como não vamos usar agora, também não vamos te pagar, ok?”

Vocês sabem do que eu estou falando. Se freelancers pudessem proteger judicialmente seu trabalho contra clientes pilantras, eles iam levar bem menos na bunda.

“Mas é um absurdo conseguir patentear ‘deslizar o dedo para destravar o telefone’!”

Mesmo? O que foi patenteado foi “um método para destravar uma touchscreen sem foder tudo”. Agora, vamos fingir que a Apple não criou/patenteou isso. Tente inventar um jeito de destravar um telefone com touchscreen QUE NÃO SEJA ACIONADO SEM QUERER PELA SUA BUNDA. É fácil tirar valor das descobertas quando já sabemos a solução. Ou seja, não é uma patente vazia. Há um propósito por trás.

O que eu quero dizer com isso é que, assim como o fundo azul-turquesa pastel e a fonte Helvetica Neue do seu design tem um propósito (melhorar a leitura, valorizar o conteúdo), diversos detalhes de software e hardware nos produtos da Apple (e de qualquer empresa) têm um objetivo prático. E, antes do primeiro produto com tais especificações, ninguém pensava na diferença que esses detalhes faziam.

“Ah, e a patente das bordas arredondadas? Isso é ridículo.”

Ok, vamos por partes. Eu não sou advogado. E não entendo como funciona o sistema jurídico americano, principalmente em relação à patentes, copyright e essas merdas. E também não sou engenheiro nem designer de produtos.

Tendo dito isto, fui lá ver a tal patente das bordas arredondadas (não consigo deixar um link direto pra patente, é preciso buscar ela nesse banco de dados - o número dela é D593087).

Até onde eu consegui entender, me parece que a patente não protege exatamente “bordas arredondadas”, mas sim a “quininha” do iPhone 3G/3GS. A partezinha prateada que você vê quando olha de frente para o aparelho. Só aquilo. E não “gadget com bordas arredondadas”. Só a porra da quina.

Ok, concordo que é tonto conseguir patentear isso, afinal, é só uma porra de um detalhezinho do design geral das coisas. Mas, convenhamos, também não é muito difícil fazer uma coisa diferente. E, caso vocês não tenham lido com cuidado a decisão do júri, essa foi a única patente que foi declarada como “quebrada sem querer”, ou seja,  a única patente que a Samsung quebrou inconscientemente, enquanto que o resto foi decidido que foi de propósito.

Resumindo, esse não foi aquilo que eu chamaria de um grande momento do sistema de patentes americano, ou melhor, do sistema de patentes, ponto. Mas não é como o povo tá berrando por aí, que agora ninguém mais vai poder fazer bordas arredondadas além da Apple. Ninguém mais vai poder fazer gadgets com uma quininha arredondadinha no mesmo ângulo que o da patente da Apple. Se isso era crucial para o seu design, desculpa, vai ter que pagar royalties ou uma licença pra Apple. Ou, se posso dar uma alternativa para o você, desiste dessa carreira e vai trabalhar com algo que não precise de criação, como colher lixo, dirigir ônibus ou telemarketing.

“Mas a Apple também roubou de outras empresas, como a Xerox.”

Errado. A Apple pagou à Xerox. Em ações. E a Xerox ganhou uma bela grana nessa. Se você pagou, não é mais roubo.

E outras coisas que as pessoas falam que a Apple “roubou”, ou já foram acertadas judicialmente ou, na verdade, são diferentes o bastante para serem qualificadas como “outra coisa”. O que não aconteceu com os telefones da Samsung.

“Mas a Apple não foi a primeira a fazer X, Y ou Z.”

Ela foi a primeira a fazer direito. A fazer com um propósito. Com um objetivo maior que “só para falar que tem”. Vou voltar ao assunto mais pra frente, então vamos deixar por aqui.

Eu poderia ficar respondendo argumento por argumento tonto que eu vi por aí, mas a real é: a Samsung roubou designs da Apple, e isso é errado. Eticamente, moralmente e legalmente errado. Ela tem que pagar por isso. Ninguém gosta de ser roubado, por isso fizeram leis protegendo a propriedade de cada um. Ponto.

Mas, sendo bem sincero, existe sim um problema aí.

Se alguém devia ser considerado o vilão dessa história, devia ser a porra do sistema de patentes e copyright, que não faz o menor sentido e está completamente ultrapassado. Com o palavreado certo, é possível patentear qualquer coisa. Basta conferir o cara que patenteou um “aparelho circular facilitador de transporte”, também conhecido como “roda”.

Mas o sistema não é culpa da Apple. Assim como não é responsabilidade dela tentar mudar ele.

Quando você está participando de um jogo, você segue as regras dele. Mão na bola é falta, você não tenta começar uma revolução durante o jogo onde você acha que futebol vai ficar mais dinâmico se inserirem elementos de vôlei.

A não ser que você esteja jogando Calvinbol.
Enfim, chega de falar de patentes e roubo de trabalho alheio. Vamos para a segunda coisa que eu vi as pessoas tirando do cu e jogando na internet sobre a vitória da Apple.

Que a Apple vai acabar com a inovação do mercado de smartphones.



Isso é tipo falar que a religião vai acabar com as guerras.

Sério, se alguma empresa merece um troféu por ter inovado e revolucionado essa merda de mercado de smartphones, essa empresa é a Apple.

Vamos começar revendo como eram os smartphones antes e depois do iPhone.

É, tô preguiçoso hoje, foda-se.

Agora vamos para a real questão em torno desse argumento: ao proteger a sua invenção, a Apple limita o que outros podem criar, pois eles vão ficar com medo de serem processados pela Apple.

Bem.

Então.

Novidade pra você, amiguinho.

Se você não consegue se esforçar e pensar em algo diferente, chegando ao ponto de ser processado por quebra de patentes ou plágio, VOCÊ NÃO ESTÁ INOVANDO PORRA NENHUMA. Você só está imitando o que deu certo na esperança de pegar a rabeira de um mercado criado por outros. O que leva à questão que muitos concorrentes do iPhone usam como campanha: “sou quase igual, mas melhor”.

Nesse momento que devemos dar uma salva de palmas à Microsoft, que ela está tentando fazer diferente. E, na minha opinião, inovação vem de “diferente”, e não de “quase igual”.

A alternativa é aquilo que a Samsung e outras empresas (inclusive a Apple, sendo bem sincero) fizeram com inúmeros produtos: modificar ele o bastante para não ser qualificado como uma quebra de patente. E isso não é inovação. É mais do mesmo.

E, além disso, a Apple está disposta a licenciar suas patentes para quem quiser usar nos seus produtos. Assim como a Nokia fez com todo mundo (incluindo a Apple) e a Microsoft fez com o Google no Android.

Enfim. Chega de falar da magnífica vitória da Apple sobre a Samsung. Caso alguém queira ler uma análise melhor e mais inteligente, escrita por alguém do meio, vai aqui.

Vamos ao segundo ponto. O modo como muita gente despreza usuários de produtos Apple como “seguidores de modinha”.

Ok, não duvido que existam usuários Apple que são, de fato, pessoas superficiais que só seguem “modinhas”. Assim como devem ter usuários Linux que nem sabem usar o terminal direito, mas usam só para parecer mais “h4x0rz t0 t3h m4x0rz”. Ou ainda pessoas que têm pênises enormes que dirigem Ferraris. Não devíamos generalizar tão rápido as pessoas.

Mas esse é um argumento muito “tucano”, como gosto de falar. Basicamente, estou apelando para “a paz entre os povos, cada um é cada um, vamos todos conviver numa utopia de aceitação”, sem tomar partido nenhum.

Então vou tentar ser mais macho (sinônimo de escroto), bater o pau metafórico na mesa e fazer uma declaração em voz (caixa) alta:

PRODUTOS APPLE SÃO OS MELHORES QUE EXISTEM! …ISTEM! …ISTEM!

POR ISSO QUE AS PESSOAS COMPRAM! …OMPRAM! …OMPRAM! …OMPRAM!

NÃO SEI COMO DESCER DAQUI! ..QUI! ...QUI! ...QUI!

Pronto.

Tendo dito isto, vou falar sobre minha experiência com a Apple. Os dois momentos que me transformaram em um Apple fanboy. E não teve nada a ver com “modinha” nem porra nenhuma. Teve a ver com “perceber que a vida pode ser melhor”.

Primeiro momento: iPod.

Meu primeiro iPod foi o iPod Nano Gorditos (3ª geração). Até hoje é meu design de iPod favorito. Me identifico com ele. Sei lá, ele é adiposo como eu.

Antes de ganhar ele, eu tentei uns 700 mp3 players genéricos de 50 reais do ching-ling. E todos eram uma bosta. Davam pau, a música ficava zoada, só saía som de um lado do fone, enfim. Problema atrás de problema.

Mas tinha uma coisa que realmente me deixava absolutamente puto: o shuffle. Que não funcionava, ou simplesmente não existia. Aliás, até já falei disso antes.

A maior picaretagem desses shuffle falsos era que ele randomizava as músicas UMA vez, e não toda vez que eu apertava play. Funcionava assim: colocava as músicas lá, apertava o shuffle, ele misturava. Desligava o troço, dia seguinte, apertava o shuffle de novo, estava na mesma ordem de ontem. Não importava quantas vezes eu apertase a porra do shuffle ou desligasse e religasse o troço, a ordem se mantinha - diferente da ordem que eu coloquei os arquivos, mas ainda assim com uma repetição. O que tornava a coisa toda inútil.

Só que aí vem a pergunta: por que não testar de outra marca, mais melhor de boa (isto é um erro gramatical sarcástico, caso alguém queira reclamar), ao invés de insistir nos ching-ling ou ter ido direto para a Apple?

Boa pergunta. Não tenho resposta. Na época, já tinha um Macbook, e já era fã de Macs. Provavelmente foi algo como “integração iTunes - iPod”.

Enfim, ganhei o iPod e, só de colocar músicas nele já foi uma experiência digna de um jorro de luz multicolorida caindo dos céus sobre o meu ser. Foi só escolher as playlists do iTunes e fim. The end. Estavam lá as músicas que eu queria ouvir por aí.

Daí teve o momento “descobri que a vida é boa”, com a click wheel. Era tão legal ficar girando aquela coisa. Bem melhor que ficar apertando o botão para ir um de cada vez. Sei lá, acho que dava uma sensação de brincar de abrir um cofre, ou um sentimento nostálgico por telefones de discar, ou minha imaginação fértil de adolescente loser me fazia imaginar mamilos femininos, mas eu me divertia muito com a click wheel. Pena que é uma tecnologia que vai morrer, já que tá tudo virando touchscreen.

Em seguida, veio o momento das lágrimas de emoção e felicidade Disney. O shuffle. Nossa. Foi lindo. Finalmente, cada hora vinha uma música diferente depois de Bohemian Rhapsody (a música que sempre iniciava o meu dia, na época - hoje em dia estou numa fase Gangnam Style).

Foi mais ou menos assim, se não me engano.

Ou seja, o iPod fez com que eu finalmente gostasse de sair pela rua ouvindo música.

Antes dele, eu tive os ching-ling de merda, que mais me irritavam do que me distríam da realidade, ou o meu discman, que soluçava a cada três passos que eu dava. E não, não tive walkman antes disso.

Bem, só para ser justo, houveram coisas que eu não gostei. O iPod não conseguia atualizar instantaneamente minhas smart playlists, o que me forçava a conectar ele todo santo dia no Mac (na verdade, até hoje o iPhone também é bem burro com smart playlists, mas não é isso que vai fazer com que eu desista da Apple). E não gostei do fonezinho branco, achava ele meio incômodo.

Houve também uma coisa que o iPod trouxe para minha vida, mas que só fui começar a ouvir pra valer depois de algumas semanas com ele: podcasts. Eu sou um grande rato de podcasts hoje em dia, acho até que ouço mais que música. E foi o fato do iTunes baixar eles automaticamente quando atualizam e sincronizar eles com o iPod que facilitou o processo. Imagina ter que baixar o arquivo no site do podcast e arrastá-lo até o mp3 player toda santa vez que o podcast fosse atualizado? Tenho mais o que fazer da minha vida.

Vamos agora para o segundo momento de “digivolvendo para um Apple fanboy”: o iPhone.

Nunca fui muito de usar celular. Ou mesmo telefone. Já não gosto de conversar ao vivo, imagina por telefone. Sei lá, não tenho muito saco.

Mas faz parte da vida moderna ter um celular, logo eu ganhei um quando fui pra faculdade (minha avó ficava preocupada que acontecesse alguma coisa com o netinho querido dela, tão dependente e incapaz de se virar sozinho) (e ela estava coberta de razão, até hoje tenho que pedir ajuda pra amarrar os tênis). Era o clássico Nokia com snake da BCP. Usei ele por anos, acho que até me formar.

Em seguida herdei um celular da minha avó. Era um bem simplão, não lembro agora se era da Samsung ou da Siemens. Enfim, era bom o bastante.

Aí veio o anúncio do iPhone.

Olhei para o iPhone, para quanto ele custava, para todas as suas funcionalidades e para o quanto eu usava o meu celular. E percebi que seria estúpido comprar ele. Afinal, eu usava muito pouco o celular. Recebia ligações de vez em nunca, e SMSs só da Vivo com propaganda. Ver meu e-mail em qualquer lugar? Pra quê? Eventualmente eu volto pra casa, meu e-mail não vai pra lugar nenhum. Música? Tava feliz com meu iPod Gorditos. E eu tinha um DS, fodam-se os games da App Store (como no começo não existia a App Store, essa desculpa do DS só surgiu depois).

*** Antes de eu continuar, uma pequena observação: se você é desses retardados de merda que fala “A-Pê-Pê” Store, me faça um favor e se mata enfiando uma chave de fenda enferrujada na própria uretra e sangrando até a morte. Ou com o tétano te matando. Sério. Se não tem coragem de fazer isso, me chama que eu terei o maior prazer em ajudar. Com o bônus de eu ficar te chutando nas laterais das suas articulações, para seus membros ficarem em posições estranhas, uma coisa meio bonecão de posto. A pronúncia correta é “Ép”. Não é uma porra duma sigla. É um diminutivo para “Application”. Logo, App. Pronunciado “Ép”. Obrigado. ***

Seguindo essa lógica, não fazia sentido algum eu sequer ter um smartphone. Seria um grande investimento que eu acreditava que não ia aproveitar.

Só que, dois anos depois do lançamento do primeiro iPhone,  o meu celular tava ficando velho, com problemas no speaker, dava uns chiados estranhos. Então resolvi correr atrás de um novo. Novamente, olhei pro iPhone (o 3GS, na época), e vi que não valia a pena ainda. Por isso, fui buscar um celular comum (conhecidos, hoje em dia, como dumbphones, pela elite geek chata).

O vendedor acabou me convencendo a levar um modelo da Samsung com touchscreen, o Corby (não que seja difícil me convencer de comprar qualquer coisa, é só ver o tipo de roupas que eu compro quando vou em lugares como a C&A). Ele usou algum argumento como “é mais moderno e next generation” ou coisa parecida.

Ei, pelo menos não estou usando crocs.

Enfim, achei interessante arranjar um com touchscreen por causa da versatilidade que eu vi essa tecnologia trazer através do iPhone.

MAS.

Puta merda.

Caralho.

Como aquele celular era estúpido.

Não me lembro de todos os detalhes, mas me lembro claramente do que me deixou absolutamente insandecido de raiva.

O teclado.

Que aparecia na touchscreen.

Era.

Numérico.

Para digitar letras.

CARALHOPORRACUÂNUSCACETEBUCETAQUEMEEEEEERRRDAAAAAAA!!!

Ok. Respirando. Pronto.

Vamos de novo, passo-a-passo.

• Primeiro, você põe um touchscreen num celular.

• Segundo, você faz com que a tela só tenha um tipo de teclado. O numérico. Para todas as funções de digitação.

• Terceiro, você faz o seu cartão de natal da APAE.

Eu realmente entendo as empresas quererem desconto nos impostos contratando gente com sérias deficiências mentais para planejar os produtos delas, mas tem hora que força a barra.

No momento que esse Corby estúpido não me apresentou nenhum teclado QWERTY quando quis testar mandar SMSs, ele me fez perceber a real genialidade da Apple. Eles não colocaram touchscreen no iPhone pensando que ia ser só “diferentoso” ou “prafrentex”, como o vendedor me disse sobre essa bosta da Samsung. Eles fizeram isso pensando no usuário.

Hora de entender qual o glorioso propósito para titio Steve e Sir Jony Ive terem escolhido o protótipo de iPhone com touchscreen ao invés do que ia ter uma click wheel: VERSATILIDADE.

Deixando a interação do usuário com o aparelho para ser definida pelo software, você libera espaço para a tela, diminui o gadget e simplifica a vida do usuário por disponibilizar apenas o que será necessário para usar o software rodando no momento.

Ou seja, se vou discar um número de telefone, a tela exibe um teclado numérico e, se vou digitar um SMS ou um e-mail, o teclado se torna o clássico QWERTY para eu digitar PALAVRAS. ESCRITAS COM LETRAS.

Foi nessa hora que eu definitivamente vesti a camisa e me batizei na água santa de Cupertino, me tornando um Apple fanboy. Mesmo depois do iPod Gorditos, eu ainda não estava tão comprometido com a causa. Mas, depois do iPhone 4, acredito piamente que os produtos Apple que tenho fazem minha vida melhor. Sério.

Querem saber porquê? Porque os produtos deles são pensados na experiência do consumidor.

Eles olham para os próprios produtos e tentam simplificar a experiência. Torná-la mais acessível. Mais fácil. Melhor. Não ficam inventando utilidades que ninguém usa, ou acrescentam saídas e portas e tecnologias só porque é novidade.

E ainda fazem mais uma coisa, muito importante, na minha opinião: eles educam os consumidores. Mostram pra eles como é design bonito, como é um produto com elegância e como largar tecnologia velha pra trás. Se não fosse isso, ainda teríamos computadores com disquete e todos teriam design by Romero Britto.

Enfim, como a Apple consegue criar a melhor experiência e educar o consumidor? IGNORANDO TODO MUNDO. Ignorando os consumidores, os investidores, as análises de mercado, a mídia e os concorrentes. O que importa é eles se sentirem satisfeitos com o que estão criando.

Sim, sim, eles eventualmente lançam coisas só para agradar os investidores, assim como acabam cedendo a certas pressões dos clientes para manter ou mudar certos produtos. Mas, no geral, a Apple está cagando e andando. Ela só quer fazer o melhor produto.

E é por isso que eu admiro, adoro, venero e boqueteio a Apple.

Antes que alguém me julgue, ele me pagou um drinque e disse que eu era bonito.

Se você não gosta da Apple, ok, você tem o direito. Mas só vou te levar a sério se seu argumento girar em torno de “não supre minhas necessidades com um computador/gadget”, como no caso de gamers hardcore de PC, ou “tive produtos Apple, e realmente não são para mim”, o que tudo bem também. Sério. Nem todo mundo gosta de bacon, chocolate e pizza.

Mas se seu argumento for “porque é só modinha” ou “porque não é aberto” ou “porque é mais caro”, e você nunca teve um produto Apple, me faça um favor: enfia a sua cabeça na buceta da sua mãe e esquece ela lá dentro, que alguma coisa deu muito errado quando tiraram você de lá.

Para finalizar, uma última coisa que eu admiro na Apple, e que eu quero que todos pensem antes do fim.

A Apple, atualmente, é uma das, senão a, maior empresa do mundo. Tem mais dinheiro guardado que o governo Norte-Americano. Seu valor de mercado em Wall Street bateu o recorde histórico. E possui margens de lucro recorde. Tudo isso é impressionante.

Mas o mais impressionante disso tudo é que ela é uma empresa que fabrica e vende produtos direto para o consumidor.

Ela não vende matéria-prima, como petróleo. Ou vende produtos para outras empresas. Ou é uma rede de revendedores de tudo e mais um pouco.

Eles vendem coisas. Tecnológicas. Gadgets. Computadores.

Pára pra pensar um pouco: como é possível que uma empresa que vende tocadores-de-musiquinha (expressão que um tio meu usou para definir o iPod) tenha mais valor e mais dinheiro que uma petrolífera?

Os tempos mudaram? Nem tanto, ainda usamos carros movidos a gasolina, sem contar os inúmeros produtos derivados do petróleo.

O mercado financeiro está louco? Talvez. Aliás, a resposta aqui é “provavelmente”, mas a real é que o mercado financeiro não faz o menor sentido mesmo (algum dia exploro esse tema com mais detalhe).

Eles não vão conseguir manter os números que eles estão tendo, logo, são uma bolha que vai explodir? Muito provável.

Mas isso não muda o fato que, no momento, uma empresa que fabrica e vende produtos para consumidores está no topo do mundo. E esses produtos não são comestíveis.

E sabem o que é o mais legal disso?

Eles chegaram lá fazendo aquilo que eles acreditavam ser o melhor para eles. Criando aquilo que eles acreditavam ser a melhor experiência para o consumidor. Mostrando para o consumidor o que ele queria, ao invés de ficar correndo atrás de números do departamento de vendas ou pesquisas de mercado com grupos-de-público-foco-alvo.

Criando coisas legais, elegantes, fáceis de usar e que funcionam. E não empacotando o que tinha e cortando custos aleatórios para vender a maior quantidade de produtos possível antes do cliente ligar reclamando.

Agora compara isso com a filosofia de mercado da empresa onde você trabalha.

Pois é.

segunda-feira, 6 de agosto de 2012

Morcegos, aranhas e lidando com o que não funciona na HQ


Olá.

Voltei.

Nem pergunta.

Enfim. Vamos ao que interessa.

Vi The Dark Knight Rises. E gostei pra caralho. Muito bom pra cacete. Sensacional. Espetacular. Se você não viu, vá ver, ou leia os gloriosos spoilers que vou pôr neste post.

Não gostei mais que The Dark Knight, mas gostei muito, e de um jeito diferente.

No caso do The Dark Knight (de agora em diante chamado de Segundo), eu fui com uma espectativa razoavelmente alta e o filme deixou minhas expectativas no chinelo. Foi tipo uma corrida entre o Rubinho e [insira qualquer outro corredor de Fórmula 1 aqui]. O Coringa deu um puta show e eu realmente fiquei impressionado com a história, toda séria e tensa e etc. Enfim, não estou a fim de continuar babando ovo para o Segundo, mas ele fez o feito de superar minhas já altas expectativas, coisa muito rara de acontecer - já que eu possuo um olhar muito crítico e tenho a tendência a julgar profundamente cada detalhe dos filmes que assisto.

Como vocês percebem por aquele que considero o filme mais importante da minha vida.

Agora, no caso do The Dark Knight Rises (de agora em diante chamado de Terceiro), eu fui com uma expectativa bem baixa. Fui esperando um filme meh, algo próximo a Spider-man 3, mas um pouquinho melhor. E nem é por causa da sina do terceiro filme de super-herói (como visto em Aranha 3 e X-Men 3 - agora que estou pensando nisso, Motoqueiro Fantasma 3 vai ser um marco cultural lembrado por gerações, quando resolverem fazer), mas por causa da escolha do vilão.

Vejam bem, eu não gosto do Bane.

Eu realmente não gosto do Bane.

Eu odeio o Bane.

E não é porque ele quebrou a espinha do Batman nos quadrinhos ou coisa parecida. Aliás, eu sequer acompanho Batman nas HQs - li The Dark Knight Returns e tenho o Year One me esperando na estante, mas nunca li Batman pra valer. Meu principal contato com o Batman foi através da série animada de 1992 (20 anos atrás, estou me sentindo muito velho agora).

O meu problema com o Bane é que ele sempre me pareceu um exagero estúpido de moleque empolgado. Um personagem tonto criado por alguém de 13 anos de idade querendo maximizar a testosterona dele, querendo provar alguma coisa para alguém, ou inventando um poder novo toda vez que alguém apontava alguma fraqueza dele.

Tipo o processo criativo que gerou o Shadow e o Poochie.

Não, mas é sério. Ler a descrição dele na Wikipedia é um exercício de paciência com a mente púbere. Vou tentar resumir: forte como um elefante com esteróides, inteligente como o Stephen Hawking, fator de cura, memória fotográfica, fala seis línguas diferentes, é um mestre de disfarces, estrategista nível “jogador coreano de Starcraft”, criou um estilo próprio de arte marcial chamado “Derrota-Batman-Fu”, além de um de meditação e um de malhação e ainda consegue recitar as obras completas de Sheakspeare enquanto ganha uma corrida da Nascar num monociclo sob uma chuva de balas de uma minigun (como visto em Batman #738). E, nesse novo reboot, vão consertar o que faltava, tornando ele intangível, voador, imortal, psíquico, jogador profissional da NFL, rock star e capaz de se alimentar de qualquer fonte de carbono e cagar diamantes depois. Sem contar que em cada quadro que ele aparece tem uma gostosa diferente dando um boquete nele.

Sério, pensar no Bane me dá vontade de ver Sex & the City, de tanta testosterona burra acumulada num único personagem.

Deviam fazer um crossover dos dois, agora que estou pensando.

Isso que nem cheguei no pior de tudo, que é o motivo pelo qual ele não gosta do Batman: pesadelos com morcegos quando ele era criança. Sério.

Enfim, voltando ao Terceiro: eu acreditava que não importava o que o Nolan ou o Tom Hardy fizessem, não tinha como tornar esse personagem minimamente bom.

Mas…

MAS.

Eles conseguiram.

Caralho, não consigo acreditar nisso até agora.

Eles conseguiram fazer com que esse persongem ridículo, tonto, estúpido, babaca, vazio, desnecessário, retardado, patético e Jar Jar Bínkico ficasse fodão.

Ficou fodão ao ponto de que, quando é revelado que ele é só um brutamontes apaixonado seguindo o plano da mulher, fiquei decepcionado. Não por ele estar seguindo ordens de uma mulher, vejam bem, mas por não ter sido tudo idéia dele. Queria que ele fosse mesmo um estrategista nível “jogador coreano de Starcraft”, mas tive que me contentar com apenas “muito inteligente”.

E, quanto mais penso nisso, mais chego à conclusão que ele me pareceu fodão por terem jogado fora um puta monte de coisa das HQs, aliado a uma certa magia cinematográfica.

Primeiro, o que foi jogado fora.

Comecemos pelo químico com o nome mais original da história dos quadrinhos, o Veneno (Venom, no original). É a bomba que ele toma pelos tubinhos da máscara que deixam ele ainda mais forte. Trocaram por algo que, por mais que tenha seus problemas naquilo que chamamos de “mundo real”, é melhor que toda a baboseira do Veneno: Analgésicos. Pain-killers. Ou, como ia ser muito legal se tivessem os cojones para falar, Vicodin.

Pra quem não pegou a referência anterior. Do Vicodin. É o analgésico do House. Eu quis dizer que ia ser legal se o Bane fosse viciado no mesmo analgésico do House. Vicodin.

Basicamente, ele sentia dor o tempo inteiro por causa de uma doença degenerativa do puta monte de porrada que ele levou [Correção: viajei na maionese aqui, não sei daonde tirei essa história de doença] e o remédio não apenas aliviava a dor, como fazia com que ele ficasse mais resistente aos golpes do Batman, já que, bem, ele NÃO SENTE DOR.

Outra coisa que ajudou muito foi o fato de fazerem ele ter sido treinado pelo mesmo mestre do Batman. Precisa inventar o “Derrota-Batman-Fu”? Ser um exemplo grego clássico de preparo físico e muscular? Inventar que ele ficava puxando ferro enquanto tirava PhD em Astrofísica Teórica? NÃO. Por que ele consegue lutar pau-a-pau com o Batman? Porque ele passou pelo mesmo treinamento que o Batman. Ponto.

Quanto à questão dele ser inteligente, a questão toda se resume a “ele é inteligente”. Não é um Stephen Hawking ou um Neil deGrasse Tyson ou um Beakman. Ele é inteligente o bastante para liderar um grupo de terroristas e seguir um plano direito. Ele sabe falar Klingon? Não. Ele precisa falar Klingon? NÃO.

Enfim, jogaram fora um monte de lixo e mantiveram o mínimo necessário: um cara forte o bastante para enfrentar o Batman com um plano bom o bastante para estar sempre um passo à frente do Batman.

Que é, no fundo, a essência do personagem, ou o aparente propósito pelo qual criaram ele: alguém que desafiasse o Batman em dois níveis: físico e intelectual.

E, agora, aquilo que realmente fez TODA a diferença, a magia cinematográfica que realmente salvou e engrandeceu o Bane: a voz dele.

Você olha pro Spawn-Mucha-Lucha dos quadrinhos, e você imagina um cara com a voz do Homer ou do Patrick. Você olha pro cara do filme, você imagina uma voz meio Schuarza, ou ainda meio Stallonesca. Mas aí seus ouvidos são agraciados que aquele sotaque britânico smexy…

Pronto.

Você sabe que ele é bom. Você sabe que ele tem o completo controle da situação. Você sabe que ele é alguém que merece ser seguido numa operação terrorista.

Sério, não sei quem decidiu fazer essa coisa fria, calculista e britânica, se foi o Tom Hardy ou o Nolan, mas eles merecem um abraço. Que, se você tinha alguma dúvida que esse vilão conseguiria enfrentar o Batman, bem, agora você não tem mais nenhuma. E não é por causa da quantidade de veias saltadas nos braços dele, ou a quantidade de pêlos em torno dos mamilos dele, ou ainda por causa das citações da teoria das supercordas em aramaico. É porque ele é gente que faz - e que mostra que sabe o que está fazendo.

Engraçado, pois é o oposto dos dois vilões do Segundo, onde um é o caos e o outro deixa as decisões para a sorte e o acaso.

Resumindo: um filme bom baseado em uma HQ não é aquele que faz a HQ ao pé da letra, mas aquele que sabe jogar fora tudo que é ruim na HQ e contar sua própria história, mas sem desrespeitar o material original.

No caso do Bane, não havia muito o que respeitar mesmo, então foda-se.

Até tinha uma molecada de trinta anos fã de Batman na minha sessão reclamando da origem do Bane no filme, durante os créditos. Deu vontade de mostrar que o Bane da HQ é só uma resposta desesperada da DC ao sucesso do Spawn e do Venom (tirei isso do cu, não pesquisei mais que as datas de lançamento, podem me criticar à vontade) e que a origem lixo dele nos quadrinhos que vá a merda. Se a questão são personagens com medinho de morcego, prefiro o Panthro.

Enfim, depois de toda essa lambeção pra cima do Bane, vem agora minha outra crítica a algo relacionado a filmes de super-herói baseado em HQs.

Spider-man.

Mais especificamente, vamos falar de algo que eu abomino no universo do Spider-man: o atirador de teias.

Eu ODEIO o conceito do atirador de teias.

Consegue me irritar tanto quanto o Bane.

Mas é algo muito mais difícil de criticar, uma vez que existe desde a origem do personagem, nos idos de 1962. O Bane, por sua vez, é lixo dos anos 90, muitos fãs mais antigos e puristas do Batman também odeiam aquela aberração. Mas falar mal do atirador de teia é tipo questionar o incesto na bíblia - sempre esteve lá, você vai é irritar muita gente.

Se bem que eu estou no meu blog, então foda-se. Até porque, ao contrário de Batman que eu li um pouco, eu não li NADA do Spider-man, então vamos para a minha hipocrisia nível um milhão, já que eu não tenho tanta propriedade para falar mal do atirador de teia além do filme, do desenho animado dos anos 90 e o que eu pesquisei nas internets e perguntei para fãs do Aranha que eu conheço.

Seguinte: o atirador de teia é uma coisa muito estúpida. Diegeticamente estúpida.

Não é uma coisa estúpida enquanto um aparato de um herói fictício numa história voltada, a princípio, para crianças. Nesse sentido, é algo absolutamente brilhante. Ele permite a premissa de que, para você ser “quase” que nem o Spider-man, basta ter os atiradores de teia. Oficiais, da Hasbro. Ou seja , é algo extremamente “brinquedável”, como a capa do Superman, o escudo do Capitão América ou o anel do Lanterna Verde.

QUASE que nem o Spider-man. Quase.

Mas, indo além do ponto de vista capitalista do mundo real, ele ajuda com a fantasia de ser um super-herói - coisa que todos nós queremos ser. Se eu tivesse um atirador de teia, ia ser uma pessoa mais feliz. Não ia usar pra me balançar de prédio em prédio ou lutar contra o crime, mas usaria, e muito, para calar a boca e os celulares de gente escrota no cinema/ônibus/metrô. Iria usar pra lutar contra gente bosta.

Tendo dito isto, ele é um elemento muito burro dentro do universo do Aranha.

Não estou questionando ele conseguir construir o negócio, já que isso é importante para mostrar que o Parker é inteligente e consegue construir coisas (não que não existam outras duzentas mil formas de mostrar o mesmo), estou questionando o químico que (dependendo da versão) ele criou para as teias.

Sim, meu problema é o fluído de teia. E não é pelo paralelo que ele faz com esperma (como visto naquela famosa capa da Mary Jane coberta de fluído de teia). Minha birra com o negócio é que ele gera dois grandes problemas para o Aranha, a meu ver.

O primeiro, é que ele é “rastro”. Digamos que, basicamente, qualquer um (vilão, herói ou J. J. Jameson) consegue descobrir quem é o Spider-man por causa do fluído de teia. Nem estou pensando no caminho de teias à lá "João e Maria" que ele larga por NY, estou falando de conseguir uma amostra, analisar os químicos e observar quem compra altas quantidades disso. Pronto, você achou o Peter. The end.

O segundo, e muito mais importante, é a questão de que ele torna o Spider-man “comum”. A partir do momento que alguém consegue uma amostra do fluído de teia, é possível fazer a “engenharia reversa” (reverse engineering, não sei se existia o termo em português, mas agora existe) e replicar a torto e direito o fluído. Podemos ter Spider-cops, Spider-Thieves, Spider-Girl-Scouts e Spider-Playboy-Bunnies (alguém talentoso desenha esse último pra mim, por favor).

Ok, vamos dizer que é preciso o “senso-aranha” pra poder usar corretamente a teia e não sair se arrebentando pelos prédios. Mas, só com o fluído, podemos fazer, digamos, armas não-letais para as forças policiais do mundo. Ou uma versão médica para fechar ferimentos em emergências. Ou ainda uns estilingues muito loucos.

Mas tudo bem, só porque podemos fazer um puta monte de outras coisas com o fluído de teia, não quer dizer que poderia haver um outro herói que zumbeteasse por NY com a eficiência do Aranha.

Isso só quer dizer que poderíamos ter heróis MELHORES que o Aranha.

Pra começar: Iron Man. Se ele quisesse, o Tony Stark podia fazer um atirador de teia e acoplar na armadura dele. Pronto, outro herói com teias.

O Banner, também, podia fazer um atirador de teias pro Hulk. Que, obviamente, não ia ter o problema de se machucar chocando-se com prédios e afins.

O Hank Pym, esse escroto, podia se tornar o “Homem-Formiga-Só-Que-Útil”, tendo umas teiazinhas sei lá pra quê.

Ou o professor Xavier podia arranjar alguém pra fazer atiradores de teias para os X-Men. Pensa só: Wolverine com teias de aranha.

Ou Nick Fury podia ter todo mundo da SHIELD com atiradores de teias. Inclusive o Coulson. Seria o melhor personagem do universo Marvel, o Spider-Coulson.

Aqui estão eles, os Aracno-Avengers!

Tô me sentindo o criador do Bane, falando essas merdas.

Enfim, todo mundo teria uma porra dum atirador de teias. Logo, o Spider-man seria só um moleque tonto que sabe balançar por aí.

Depois de todo esse monte de ódio contra o atirador de teias, vamos ao que interessa: os “filmes de origem” do Aranha. Quem não viu The Amazing Spider-man, aí vem spoilers.

No Spider-man de 2002, do Sam Raimi (de agora em diante chamado simplesmente de o Original), eles tiveram a magnífica idéia de sumir com essa bosta e fazer com que ele simples e magicamente disparasse teias dos pulsos. The end.

Afinal de contas, se existe uma aranha geneticamente modificada que deu super-poderes para o Tobey Maguire, ela ter dado um poder a mais não é um problema para a suspensão de descrença. Funcionou.

Agora, no The Amazing Spider-man (de agora em diante chamado de o Reboot), eles resolveram manter a porra do atirador de teias.

Muito bem, antes de continuarmos, vamos voltar a falar de expectativas. Eu tinha certeza que o Reboot ia ser uma pilha de lixo. E não conseguia criar a menor vontade de ver no cinema, pelo menos não mais que “como nerd, tenho que ir, senão estaria traindo a raça”. Só na semana de estréia que fiquei mais animado pra ver, em grande parte por causa do novo Peter Parker, que parecia muito bom nos trailers e naquela aparição na San Diego Comic-con.

Mas o que mais me incomodava era a porra do retorno do atirador de teia. Nossa, como eu tinha certeza que isso ia estragar o filme.

Pois bem, depois de ver o filme, devo dizer que eu gostei bastante dele. Pelo menos, mais do que eu achava que ia gostar. E o grande responsável por isso foi…

O novo Peter Parker.

Esse Andrew Garfield mandou muito bem. Mas não estou aqui para falar dele.

Estou aqui para falar que a porra do atirador de teia não ajudou em merda alguma. Não foi o que estragou o filme (esse mérito vai para o design do Lagarto), mas fodeu forte com a minha suspensão de descrença.

Querem saber como?

Assim:

No Reboot, a criação do químico não é responsabilidade do Peter, provavelmente por que devem ter pensado algo como “acho que o público vai questionar um moleque desses ter inventado o fluído de teia”. Então, deixaram a honra para o pai dele. Mas quem que produz em massa o fluído para nosso amigo da vizinhança?

A OSCORP.

Essa mera CORPORAÇÃO MULTINACIONAL BILHARDÁRIA. Que poderia facilmente fazer (se é que já não faz, sendo essa CORPORAÇÃO MULTINACIONAL BILHARDÁRIA e coisa e tal) um tipo de assinatura química para todos as encomendas de fluído e assim chegar no Aranha no dia seguinte que começam a aparecer bandidos presos em teias.

Sem contar a questão daonde está vindo a grana pra comprar essa porra (porra - fluído de teia - viram o que eu fiz aqui?).

Enfim, eu fiquei pensando nisso assim que apareceu o primeiro pacotinho de fluído na casa dele. Provavelmente vai ser o plot do filme novo com o Duende Verde.

Mas, ei, pelo menos ele voltou a ter o atirador de teias. Ficou mais parecido com a HQ.

De fato. E FICOU PIOR.

CARALHO.

Mesmo que não fosse algo que já é tonto nas HQs, nem sempre é bom trazer um coisa completamente intocada dos quadrinhos para o cinema. Às vezes é importante alguém parar e falar: “sabe, isso não é bom para o filme, vamos limar isso”.

Por isso que tiraram os uniformes da maior parte dos X-Men. Não ia dar pra levar a sério o Hugh Jackman com uniforme amarelo.

Caso alguém queira contestar.

Ah, e antes que alguém me venha com o glorioso e altamente acéfalo argumento de que “então, seguindo sua lógica, o filme do Spirit ou da Liga Extraordinária são bons, já que limaram um monte de coisas para o filme”, vamos falar o seguinte:

Estou falando de ALGUNS elementos. ALGUNS. Não tudo. Que é o que aconteceu nesses filmes. E em outros. Basicamente, só pegaram os nomes dos personagens e fizeram outra coisa, outra história.

O importante é, ao fazer uma adaptação, saber pegar a essência de cada elemento, ou melhor, de cada personagem e de cada evento da história, e então trabalhar a melhor versão da história para a nova mídia que você está adaptando a história.

Qual que é a premissa do Bane, no fundo? Um vilão que compete tanto intelectualmente quanto fisicamente com o Batman. Aliás, um vilão que supera ele.

E é isso que o Nolan e o Hardy fizeram. Aliás, acrescentemos a Thalia Al’Ghul (Marion Cotillard) nessa conta, já que boa parte do plano foi dela.

E qual é a premissa do atirador de teia? Um modo do Spider-man lançar teias e balançar de lá pra cá. Ou seja, NÃO É UM PERSONAGEM. NÃO É UM EVENTO DA HISTÓRIA. O personagem em questão, o Aranha, tá lá. O Aranha não é menos Aranha só porque ele magicamente solta teias automaticamente dos pulsos no Original. Ele é menos Aranha lá porque agora comparamos o Tobey com o Andrew e ficamos espantados de como chegamos a aceitar ele como Peter Parker.

Enfim, tá na hora de acabar com este post, resumindo tudo.

O importante é o propósito do elemento na história. Se você precisa de um vilão que supere o Batman, não deixe a criação nas mãos de um moleque de treze anos que você achou num fliperama em 1992. Se você precisa de um modo para Aranha soltar teias e balançar de prédio em prédio, não crie um ponto sem nó que TODOS precisam ignorar para que o universo funcione.

É tipo a história do cara que nasceu com um pênis no meio da testa. Todo mundo em volta dele fingia que não tinha nada lá, mas tinha. E isso fazia com que ele se sentisse um bosta. Até o momento que ele conseguiu encontrar sua essência e fazer carreira em filmes pornô.

Ou sei lá.

Alguém pensa em outra metáfora, que eu cansei.