quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

A grande competição de “Quem tá mais na merda?”

Dei uma sumida básica, mas agora estou de volta. Problemas dos mais variados sabores e odores, de um resfriado leve até questões economico-familiares, passando por uma forte instabilidade intestinal e o mais fino exemplar da (in)competência do trabalhador brasileiro. Sem contar um bloqueio criativo poderoso.

“Ah, mas eu tenho que acordar todo dia quatro e meia da manhã pra ir pro trabalho, mesmo se eu estiver com uma virose crônica e diarréia explosiva, e se o motorista do ônibus faz merda, eu que perco o dia no trampo, não podendo assim ajudar a pagar o tratamento de aneurisma hepático da minha mãe. E, mesmo assim, acho tempo pra atualizar o meu blog. Isso que meu computador nem tem teclado. Ou monitor.”

É mesmo?

Foda-se.

Você não odeia gente assim? Aquele tipo de Zé Povinho (do inglês Jose Little People) que, não importa o que você comente da sua vida, ele demonstra como a “versão dele” é pior e mais miserável. Esse tipo de gente me dá vontade de pegar uma lixadeira angular para concreto e ir lixando o nariz do infeliz perguntando se agora ele tá miserável o bastante.

Isso quando não é a famosa versão “mas tem criancinha passando fome na África”.

Nossa.

Caralho.

Putaquepariuqueraiva.

Sabe, alguém tem que dizer isso. Em voz (caixa) alta. Para todo mundo ouvir.

A PORRA DAS CRIANCINHAS MORRENDO DE FOME NA ÁFRICA QUE SE FODAM!

Recebi reclamações quanto à minha habilidade com o Photoshop, então resolvi me esforçar neste.


Obrigado.

Ok, agora sendo um pouco mais politicamente correto: O que as crianças passando fome na África tem a ver com o meu problema imediato? NADA. Mesmo. É uma coisa horrível (as criancinhas com fome)? É. Todo mundo deveria fazer alguma coisa para ajudar? Talvez, acho que sim. Resolve a minha prisão de ventre? NÃO.

Então com licença que eu tenho coisas mais urgentes requerindo minha atenção. Não quero participar da sua competição de “Quem tá mais na merda”.

Eu, sinceramente, não entendo o que motiva os infelizes que transformam tudo em QTMNM. Quer dizer, eu sei o que motiva essa corja retardada, mas, para mim, não faz sentido.

Acredito que existam três motivos básicos.

O primeiro é “sou um pobre garotinho, ninguém me ama”.

Eu até entendo o que motiva essas criancinhas querendo atenção. São criancinhas chamando por atenção. Só isso. No fundo, todos nós queremos um pouco de atenção, até por isso que compartilhamos nossos problemas com os outros e buscamos ajuda.

Mas no caso dos attention whores que transformam tudo em QTMNM, eles querem atenção única e exclusiva para eles, e através da pena. Isso é muito triste. E patético.

“Olhem para mim, sou um pobre coitadinho digno de pena, me amem”. Ou melhor, “Olhem para mim, sou MAIS pobre coitadinho que ele, MAIS digno de pena que ele, me amem MAIS QUE ELE”.

Nem sei mais o que falar dessa coisa lamentável que assola nossa vida. Acho que todo mundo conhece alguém assim, e imagino que vocês estão com a cara desse babaca estampada no seus pensamentos.

Acho que a única solução para lidar com esses imbecis é o famoso “Então, por que você não se mata?”

Basta chegar no idiota, logo depois dele choramingar que a vida dele é mais infeliz que a sua e perguntar “Então, por que você não se mata?”

Pronto. Problema resolvido. Próximo.

O segundo motivo é “meu pinto é maior que o seu”.

Parece com o primeiro, mas existem diferenças sutis. Acho que o melhor exemplo é o “quanto tempo levei pra chegar na praia”.

“Nossa, fui pra Santos neste feriado, peguei oito horas de trânsito”.

“Isso não é nada, teve um Reveillon que fui pro Guarujá e fiquei parado quase onze horas”.

“Teve uma vez que fui pra Ubatuba no Carnaval e levou catorze horas.”

E tem gente que acha que o BBB celebra a mediocridade humana. Esses tipos de diálogo são muito piores. As pessoas sentem um prazer visceral em ter sofrido mais que o outro em alguma coisa banal, como o trânsito ou a sala de espera do proctologista.

E isso é um tipo de competição de quem tem o pinto maior (não é exclusivo de homens, mulheres também têm um pinto metafórico, nesses casos). É um tipo de lógica onde quem agüentou mais é mais forte, mais resistente, mais adulto, mais preparado pra vida. O cara que foi no dia seguinte e chegou em uma hora na praia? Ele é um fraco. Agüentar o trânsito fortalece o pênis. Deixa ele mais veiudo.

Como lidar com esses escrotos? Basta contar a história mui real do menino que espantou um urso polar com um soco no focinho do bicho. ENQUANTO A PORRA DO URSO ESMAGAVA SEU CRÂNIO COM OS DENTES. E ele sobreviveu.

Pronto. Ninguém é mais macho que esse garoto. Nem o Chuck Norris. Nem o Clint Eastwood. Pode bater no pinto desse moleque com um bastão de adamantium que o bastão entorta. Próximo.

O terceiro e último motivo é “existem problemas maiores que o seu”, também conhecido como “queria estar vivendo durante a ditadura mas agora não passo de um intelectualzinho chato de merda”.

Esses são os pentelhos que sempre levantam alguma questão política ou social para relativizar seu problema. Tipo sua mãe quando falava das já citadas criancinhas passando fome na África quando você não queria comer quiabo, mas a porra do tempo inteiro e para qualquer coisa. Esses boca-aberta que, quando você comenta, por exemplo, de uma crise de asma que você teve e ele comenta o índice de mortalidade por tuberculose.

Na verdade o bostão só quer chamar atenção para o próprio intelectualoidismo, só quer mostrar que é antenado e inteligente. De certo modo, ele só quer chamar atenção para o próprio pênis intelectual.

(Caso alguém ache que estou com uma fixação muito grande com rolas hoje, vá reclamar com meu amigo Banksy).

Piada original por Weird Al Yankovic

Como resolver esses merdas?

...

Sinceramente, não sei. Convivi com gente assim por quatro anos de faculdade, e saí de lá só com raiva desses porras, mas nenhuma solução. Acho que o melhor é perguntar ou porque ele não tá lá então resolvendo a questão ou o que isso tem a ver com o meu problema. Mas o ideal é só dar as costas e ir embora.

Ok, qual é o menor múltiplo comum desses três tipos de competidores do QTMNM? Eles querem tirar o foco do seu problema (ou de qualquer outra pessoa da conversa) e colocá-lo no próprio umbigo.

Eles querem mostrar que tem alguém mais na merda que você, sejam eles mesmos, sejam as criancinhas manetas do Nepal costurando tênis Nike com os próprios cabelos.

Eles não se importam com você. Ou com o seu problema.

Logo, você não precisa se importar com eles.

Vá se importar com pessoas que ouvem você quando você tem um problema. E saiba ouvir elas quando elas tiverem um problema. Resumindo: seja um cara legal, e ande com pessoas legais. Não precisamos desses cuzões. A não ser que queiramos testar a aplicabilidade de lixadeiras angulares de concreto em narizes. Aí, tudo bem.

Um comentário:

  1. E isso é diário né? Isso que fode. Tem horas que não dá vontade de falar nada porque você SABE que o FDP vai fazer um comentário pior.

    Tipo o "é caro de foder". Nem olhei na cara. Mas a vontade foi dizer "Não perguntei.".

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