quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

A Nintendo e a falácia Highlander

Conforme prometido, retorno à Falácia Highlander, e começo com a aplicação dela à uma das empresas que mais gosto/venero/dou dinheiro no mundo: a Nintendo.

Não sei se é porque sou fã da Nintendo, mas sempre senti um certo ressentimento por boa parte dos fãs de games e da mídia especializada contra ela. Algo beirando o preconceito. Não importando o que acontecesse no mercado, seja o Wii batendo recordes de vendas, seja o 3DS tendo vendas aquém do esperado, era como se a Nintendo estivesse sempre errada. Pessoas acusando os produtos da Nintendo de serem fracassos mesmo quando todos os números demonstrassem o contrário.

O que eu faço com o meu salário todo mês

Enfim, não vou entrar nessa briga dos números no momento, nem discutir o real valor daquilo que a Nintendo trouxe para a indústria. Vou dissertar sobre o que me irrita nessa merdaiada, que é a filosofia que “se não é um game para mim, não é um game de verdade”. Por exemplo: “O Wii não é um console HD, logo ele não é um console desta geração.”

Bem, acho que os Baby Boomers que não ouviram Beatles ou Rolling Stones também não fizeram parte daquela geração. Tipo, eles vieram de uma fenda espaço temporal, não nasceram na época em que nasceram. Esses surdos interdimensionais não merecem a certidão de nascimento que possuem.

Ok, eu sei que o próprio presidente da Nintendo falou disso, e que, no fundo, essa divisão de gerações é mais usada como estratégia de marketing que realmente marcar uma época de lançamento dos produtos, mas ainda assim. Eu me irrito com essa coisa de desconsiderar o Wii nas discussões sobre a indústria só porque ele não é HD.

Ou um dos meus favoritos: “Não tem gráficos realistas, é pra criança.”

Fala isso para um fã do impressionismo (ou qualquer estudioso de arte contemporânea) pra levar um pedala nas oreba, vai.

Sim, eu sei que nesses dois argumentos existe uma questão tecnológica, mas também existe um lado econômico e um lado estético também.

Sabe, nem todo mundo tinha grana para comprar uma TV de alta definição, por isso fazer um console sem HD e bem mais barato funcionou.

Nem todo mundo quer viver num mundo marrom e cinza com luzes exageradas, algumas pessoas querem (ou melhor, conseguem) apreciar uma paleta de cores variada ou estilos artísticos mais complexos.

Nem todo mundo quer comprar o mesmo jogo de futebol todo ano. Nem todo mundo admite distorcer a mitologia grega para acomodar um marombado enfiando o pinto em todo mundo. Nem todo mundo quer ficar atirando em nazistas zumbis.

Algumas pessoas querem jogar boliche sem sair de casa. Ter momentos nostálgicos com o Mario. Juntar todos os dois trilhões de Pokemons. Ou ter certeza que o jogo que comprou para o filho de três anos não vai mostrar pra ele cabeças explodindo ou carros atropelando putas.

Nada contra esses jogos. Eu jogava GTA viciosamente pra PC quando ainda era em 2D. Já dei risada de cenas absurdas de God of War. E fiz N competições de International Superstar Soccer do Nintendo 64 na época da oitava série.

E, quando era mais moleque, também tinha meus preconceitos contra certos jogos. Até hoje tenho um certo aperto no estômago quando começam a falar bem de Final Fantasy (quem viveu a época Zelda vs FF sabe do que estou falando) e ainda tenho vontade de socar quem fala que o Sonic é melhor que o Mario (tenho três palavras pra vocês: Shadow The Hedgehog. I win.) ou quem tem a audácia de comparar Street Fighter com Mortal Kombat (só pra constar, vejo mais diferenças entre o Ryu e o Ken que entre todos os personagens de Mortal Kombat. É uma competição de rasteiras).

Mas (quero acreditar que) eu cresci. Percebi que eu gosto de games X e tem pessoas que gostam de games Y. E só tenho dinheiro pra comprar um console. E só tenho tempo pra jogar N games por ano. Então, quando vou comprar um console novo, vejo qual vai me divertir mais no meu escasso tempo. Por isso, compro consoles da Nintendo. Porque lá tem os jogos que eu mais gosto. Como Zelda, Mario e Pokemon. The end.

E outras pessoas chegaram à mesma conclusão. Assim como muitas outras preferiram jogar Gears of War, God of War ou War of War. Não é preciso haver apenas um tipo de jogo, não existe apenas um tipo de gamer. Tem espaço pra todo mundo, crianças.

Aliás, esse é o problema. Crianças. A Nintendo sempre foi acusada de ser “infantil”, com suas cores vivas e personagens estilizados. Acho que isso tem muito a ver com o fato de que a Nintendo era uma empresa de brinquedos (entre outras coisas) quando entrou no mercado de games, enquanto que seus principais concorrentes vieram do ramo de tecnologia e gadgets, coisas “adultas”.

Agora é a hora que eu meto o dedo na ferida.

Procurar imagens de "feridas" no Google me traumatizou pra vida

Videogames são brinquedos.

De novo.

Videogames. São. Brinquedos.

E, o mais importante dessa afirmação vem agora:

Brinquedos não são só para crianças.

De novo, de novo, de novo:

BRINQUEDOS NÃO SÃO SÓ PARA CRIANÇAS.

Não sou o Michaelis nem o Aurélio (o Houaiss é bloqueado), esses velhos desatualizados, mas aqui no meu blog eu sou mais que isso, sou o Lorde da Semântica Absoluta, então eu digo: brinquedo é todo e qualquer objeto, lúdico ou não, que pode ser utilizado por pessoas de qualquer idade com a finalidade de brincar e se divertir.

Bola de futebol da Nike oficial do Barcelona? Brinquedo. Asian Ball-Jointed Dolls? Brinquedo. Sportsheets Door Jam Sex Sling? Brinquedo. Marcador permanente e parede branca? Colher e brócolis? Saco de farinha? Brinquedo, brinquedo, brinquedo.

Videogame? Brinquedo também.

Mas esses “adultos” que nos cercam com suas regras do que é certo ou não, o que é educado ou não, o que é pra criança ou não, só querem continuar vomitando suas regras e nos impedindo de nos divertir.

O pior é que esses “adultos”, na minha opinião, tem a maturidade de um moleque de 14 anos.

No final das contas, essa birra toda contra a Nintendo pode ser resumida em “Angústia Adolescente”.

Portanto, molecada, aqui vai uma lição do tio Vitor:

Ouçam com atenção ao tio Vitor.

Cara! Nem tudo que você gosta tem que mostrar que você cresceu ou que você é macho pra caralho o tempo inteiro!

Mas, quando você é adolescente e está tentando encontrar seu lugar no mundo (uma vez que ninguém te entende), você busca símbolos que reafirmem a identidade que você quer para si (tô me achando o tio Freud agora, te contar). Assim, games deixam de ser só um hobby ou uma distração, se tornam um meio de expressão de si mesmo.

O problema é quando “contaminam” o seu meio de expressão. Com garotas. Ou crianças. Ou pior: seus pais.

Daí o ódio contra a Nintendo. Ela teve sucesso em atrair outros públicos. Ela contaminou o meio. Fudeu com tudo. Deu um DS pra mamãe treinar o cérebro.

Ou, como outros gostam de argumentar, a Nintendo não cresceu. Continuou focando no público infantil com coisas como Pokemon e Mario. As duas franquias de games que mais venderam na história (um download não é necessariamente uma venda, caso alguém queira discutir este ponto comigo). Obviamente, para terem conseguido chegar nesse ponto, só crianças compraram os jogos.

Sabe, chega de dançar em volta do assunto. Vamos ao que interessa:

Molecada, hora de crescer e aceitar que existem outras pessoas no mundo, e existem empresas que vendem para essas pessoas. Larguem a mão de ficar achando que tudo que não têm músculos ou armas ou gráficos realistas é idiota - simplesmente não é pra você. Cala a boca e me deixa jogar Kirby, essa explêndida e mui magnífica bolota rosa, em paz.

Puta que pariu.

Agora, se você ainda acha que games de verdade são só de um tipo ou só para um determinado público, ok. Você está no seu direito. Você acredita na Falácia Highlander.

Assim como eu estou no meu direito de qualificar vocês como “criancinhas retardadas”.

Que diferentemente de crianças excepcionais, que merecem todo o amor e carinho do mundo, vocês precisam é de umas boas palmadas. Do mundo real.

Um comentário:

  1. Tem público pra tudo. Veja bem: Twilight tem um público enorme.

    Mas é, eu detesto jogos pintudos e amo FF e Sonic :B Mesmo assim, acabei de comprar um Wii... porque tem Sonic Colors e Final Fantasy BRINCADEIRINHA xD

    De qualquer forma, acho que todo mundo é atraído por um game pelo conteúdo. Eu adoro RPG e Puzzle, mas me divirto com games do tipo Soul Reaver.

    Só tenho pena das pobres almas que não vêem nada além de FIFA Soccer e War of something.

    ResponderExcluir

Antes de discordar, veja o nome deste blog.