quarta-feira, 2 de maio de 2012

A arte de "recoisar"

Sumi. De novo. Estava terminando Tales of the Abyss. De novo.

Eu avisei, não avisei? Que eu ia acabar Tales of the Abyss de novo? Pra ver o dungeon secreto (que, inclusive, é a porra do Abyss do título)? Era isso que eu tava fazendo, ao invés de atualizar o blog.

Gastei mais cem horas no mesmo jogo. Jogando ele de novo.

Acho que vocês já perceberam, mas sim, eu tenho um problema.

Eu basicamente tenho o QI de um Teletubbie.

Até poderia argumentar que a série Tales é pensada de modo a terminarmos os jogos várias vezes, com seus dungeons secretos e side quests que não dão pra completar na primeira vez que você joga. Existe, inclusive, um sistema de gastar sua “Grade” acumulada (após cada batalha, em Tales, você recebe uma “nota” baseada no seu desempenho na luta, medindo coisas como a quantidade de dano que você levou, o maior combo que você fez, etc) ao iniciar um jogo novo pra modificar algumas coisas no jogo novo (como ganhar o dobro de experiência, por exemplo).

Mas a real é que eu realmente gosto de “rejogar” (essa palavra sequer existe, pra se ter uma noção do probleminha da criança aqui) games, rever filmes e reler livros.

Tinha um colega meu da faculdade que falava que isso é perda de tempo, pois mal temos tempo em uma vida pra ver todos os filmes bons e ler todos os livros bons que existem, quanto mais perder tempo revendo eles.

Pode até ser, mas eu não consigo deixar de “recoisar” as coisas (cansei de ficar especificando as atividades por verbo).

Eu acabei Tales of the Abyss duas vezes. Ocarina of Time umas oito, em três plataformas diferentes. Li Senhor dos Anéis umas oito (sete antes de lançarem os filmes, depois deles, só uma) (sim, sou hipster de Tolkien). Vi a trilogia boa de Star Wars pelo menos seis vezes (se você não sabe qual é a trilogia boa, se mata). Já assisti cada episódio da primeira temporada de My Little Pony: Friendship is Magic umas três vezes (estou preparando umas maratonas solitárias da segunda, agora que ela acabou). Enfim, antes que isso vire uma competição (afinal, conheço alguém que viu o primeiro Harry Potter umas oito vezes no cinema - e não estou julgando, acho isso muito legal), melhor eu parar de me orgulhar da minha nerdice.

Ok, muito da minha “recoisagem” das coisas (eu sou MUITO culto) tinha a ver com falta de grana/acesso a coisas novas quando eu era moleque. Eu não conseguia comprar todos os jogos que queria, nem todos os livros, nem alugar todos os filmes, por isso ficava  “recoisando” (bacharelado em comunicação, a gente vê por aqui) o que eu tinha.

Mas não existe essa desculpa hoje em dia, ainda mais com a internet. Aliás, eu até tenho outro jogo de 3DS na fila, o Resident Evil: “Revelaitons” (se você entendeu esta piada, você é BEM nerd, ou sabe usar o Google), mas eu preferi postergar ele em favor de terminar de novo Tales of the Abyss.

Enfim, tudo isso pra chegar no ponto que eu queria: é muito satisfatório reviver experiências culturais.

Acho que todo mundo tem um filme/livro/game favorito que gosta de ficar voltando e “recoisando” (gostaria de agradecer a Academia Brasileira de Letras por todo o apoio). Nem que seja o famoso “se filme [insira nome de filme aqui] está passando na TV, páro tudo pra assistir ele”.

E não acho que essa atitude deva ser condenada, como meu colega de faculdade fazia. Sempre fico fascinado com a nerdice alheia, e “recoisar” (sobre a questão da ABL, “coisar” já é uma palavra que faz parte do vocábulário oficial dela - mais conhecido como a norma culta - mas “recoisar” não) obras culturais é algo admirável, do meu ponto de vista.

Acho muito legal que algumas pessoas consigam gostar de algo a ponto de querer reviver a experiência proporcionada pela obra em questão. Claro que é bom não exagerar, mas é divertido encontrar pessoas cujo escopo de conhecimento aprofundado vai além de tetas, futebol e Big Brother.

E existe uma vantagem em quem “recoisa” (ainda no assunto ABL, “estrupo” virou norma culta em 2011, busquem no vocabulário do site) as coisas, que elas acabam memorizando/percebendo melhor certos detalhes ou ainda enxergando certas entrelinhas que a pessoa que vive tudo só uma vez não percebe ou lembra errado. Aliás, uma coisa que me irrita profundamente é quem só coisou determinada obra uma única vez e fica afirmando como verdade algo que NÃO ACONTECE, ou esquece de passagens cruciais da história. Sim, estou falando de vocês, toscos, que esquecem a importância do Tom Bombadil na nomeação dos pôneis do Meriadoc. Bastardos.

Enfim, acho que estou me perdendo do ponto. De novo.

Queria poder dizer que esta também é uma crítica aos roteiristas de Lost, mas nunca assisti.

E eu realmente estou querendo evitar o final “auto-ajuda vazia” clássico, onde eu basicamente falo que é legal “recoisar” (sim, eu sei que eu estou escrevendo muito mais com estes parênteses do que se eu simplesmente especificasse os verbos, mas agora me empolguei com a piada) obras culturais, mas com a devida moderação.

Então vamos tentar isto:

Acho que “recoisar” (devo admitir que no meio do caminho me ocorreu a palavra “consumir”, mas achei mais divertido continuar coisando) coisas como filmes, livros games e outras “obras com histórias” nada mais é que nos dar um spoiler. E spoilers nos deixam felizes - com um ódio infinito do filha da puta que nos spoileou, mas felizes com o nosso futuro na Terra, afinal ele se tornou uma incógnita menor. Então, ao consumirmos a obra em primeiro lugar, nosso “eu do passado” dá um spoiler para o “eu do futuro” e assim nosso “eu do futuro” evita a raiva e toda a dúvida e a insegurança decorrentes de não saber se os Avengers ganham ou não no final.

Afinal de contas, o que levaria alguém a reler O Assassinato no Expresso Oriente senão pra conferir se a solução, onde o assassino estava escondido na despensa do vagão restaurante o tempo inteiro, realmente foi pensada desde o começo?

2 comentários:

  1. Há pouco tempo revi o Túmulo dos Vagalumes (animê, não o live action) e o Massacre da Serra Elétrica (o antigão), e notei que não posso confiar na minha memória.
    Como vi Hotaru no Haka e li Gen meio que junto eu misturei as duas histórias e acabei montando um novo filme na minha cabeça (muito mais triste, denso e melhor), revi e fiquei meio decepcionado.
    Texas Chainsaw Massacre foi a mesma coisa, lembrava como um filme extremamente assustador e perturbador, mas quando revi achei besta, com cenas sem sentido e um ritmo lento.
    Recoisar as coisas ajuda a esbofetear a memória e mostrar que algumas coisas não são tão boas quanto o seu cérebro acha, fora que ainda não criaram algo melhor que a trilogia boa de Star Wars, De volta para o Futuro, Pulp Fiction, Psicose, Exorcista, etc.
    Melhor rever algo que vai te deixar de bom humor do que ver algo novo que já se sabe que será uma *&$§.

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  2. Olha, eu recoiso o tempo todo quando gosto muito de algo. Já vi várias e várias vezes alguns filmes, joguei "n" vezes o mesmo jogo, reli mais um monte de livros e hqs... sempre com o intuito de descobrir algo novo. Pode ser sim um soco na memória como o Koizumi escreveu, mas, no meu caso, é pra exaurir o que mais tiver ali pra pegar de informação.
    Por exemplo, jogar o mesmo jogo 634535 vezes pra ver todos os Easter eggs, por exemplo. Já joguei e terminei Portal 2 4 vezes. Ontem, na 4ª vez, achei um lugar novo que não vi das três primeiras vezes.
    Concordo em parte com seu colega de faculdade, sobre não termos tempo pra fazer tudo e acabamos perdendo coisas até melhores do que aquelas que estamos recoisando. Mas quer saber? Se vai divertir do mesmo jeito, então não importa se é uma novidade ou um recoisamento.

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