quarta-feira, 9 de maio de 2012

Do potencial do Hulk enquanto personagem


Para quem ainda não assistiu os Avengers, desculpa, mas aí vêm spoilers.

Se bem que, se você não viu ainda e queria evitar spoilers, se fudeu, esses filmes têm que ver na primeira semana, senão você leva spoilers mesmo.

Acho até que vou começar a colocar como toque de celular coisas como “O Agente Coulson morre” ou “o Hulk enche o Loki de porrada”. Seria eu falando, bem alto, spoilers de filmes. Só pra irritar quem não viu.

Enfim, saí numa tangente antes mesmo de entrar no assunto. Deve ser meu novo recorde.

Ou como era chamado na primeira versão do roteiro, "Iron Man and Pals" 

Voltando.

Depois de assistir os Avengers, resolvi rever os filmes-trailer dele, ou seja: Iron Man, Incredible Hulk, Iron Man 2, Thor e Captain America (só pra constar, estou usando os nomes em inglês para manter uma unidade com o fato que eu prefiro chamar de Iron Man que Homem de Ferro. E eu sou metido). Queria ver como que foi o planejamento geral da Marvel pra história dos Avengers.

Mas, principalmente, queria confirmar que o Ruffalo é mesmo o “the best fucking Hulk ever”, como todo mundo (incluindo eu e os monges tibetanos) está afirmando.

E, sim, o Ruffalo é mesmo o melhor Hulk/Banner de todos.

Mas o que mais me incomodou não foi a atuação do Edward Norton, mas o roteiro tonto do filme (já, já volto neste ponto).

O filme me fez ficar pensando sobre o personagem do Hulk/Banner, e, como uma pá de sites e podcasts tem falado sobre o filme, calhou de eu descobrir mais coisas sobre o personagem, além de uma pesquisa básica na Wiki.

E cheguei a uma conclusão muito simples: o Hulk é um incompreendido. Enquanto personagem.

Alguém vai e faz o Iron Man Trollface que eu tô com preguiça.

Vamos começar pelos filmes.

Ou melhor, vamos começar com o filme do Ang Lee.

E pelo fato que eu gosto do filme do Hulk do Ang Lee. Sério. Mesmo. Sem sarcasmo aqui. E não, não gosto dele “ironicamente”, que nem eu gosto dos filmes do Ghost Rider, que de tão ruins ficam bons.

É que eu não encaro ele como um filme do Hulk. Ele não é bem um filme do Hulk. É um filme do Ang Lee. E isso fez toda a diferença. Me fez apreciar o filme.

Mas quem procura um filme do Hulk lá não acha nada, e se frustra.

Dar a direção do filme do Hulk para o Ang Lee foi uma decisão equiparável a dar a direção dum filme do Batman para o Woody Allen, dum filme do Wolverine para o Almodóvar ou dum filme de Star Wars para o George Lucas. Ou seja, uma péssima idéia. São coisas incompatíveis. É fácil falar isso agora, anos depois, mas, em retrospecto, alguém devia ter tido a visão de falar “esse cara não é o tipo de diretor que vai fazer o blockbuster pipoca que o público espera”.

E foi o que aconteceu. Não "recoisei" (muito orgulho dessa referência a outro post meu, vou te contar) o filme (ainda), mas me lembro dele tentar ser um tipo de “Hulk, o sensível”. Que é um assunto interessante, podendo ser trabalhado direito, quando você tira do contexto de super-herói e torna uma história sobre um cara angustiado com o que a vida transformou ele.

Mas não funciona com o Hulk.

A frase é “Hulk esmaga”, e não “Hulk reflete e sofre em angústia”.

Por isso que ninguém gostou. Foi uma confusão de objetivos e expectativas, mais ou menos que nem fazer trabalhos para [insira nome de cliente aqui].

Os roteiristas queriam um filme de ação tonto, o Ang Lee queria uma pegada sensível de um personagem atormentado e o estúdio queria dinheiro. No fim, deu no que deu.

Enfim, concluindo sobre o primeiro filme do Hulk: é um filme (fraco, mas ainda assim bonzinho) do Ang Lee. Assistam O Tigre e o Dragão, Brokeback Mountain e em seguida assistam ao Hulk, vai fazer mais sentido.

Menos o Poodle-Hulk. Aquilo, ninguém explica.

Agora vamos ao segundo filme, The Incredible Hulk. O do Edward Norton.

Esse sim é blockbuster pipoca. Porrada, porrada, porrada.

Quando eu assisti no cinema, achei divertido. Legal. Aquele tipo de filme que você não precisa pensar. E ele fala “Hulk smashes” no final. Valeu o ingresso.

Sem contar que eu fui ver o filme com um espírito de “quero gostar do filme do Hulk, o do Iron Man foi legal pra caralho”.

Mas, nesta segunda vez que assisti, achei uma bosta. Muito ruim. MUITO RUIM PRA CARALHO MESMO ALPHA PLUS.

Sim, tem uma certa influência do Hulk bom do Ruffalo, mas mesmo assim, esse filme é muito tosco.

E na minha opinião, o problema não é, como já disse, o Norton, que tem mais cara de contador fazendo hora extra que de cientista. Nem a Liv Tyler, nem o Abomination castrado, nem o fato que o Banner não fica nervoso em nenhum momento e nem todos os problemas de lógica e coerência da história.

Nem é o Brasil, que tem a tendência de estragar tudo.

O problema é que o filme tenta ser King Kong (com umas pitadas de A Bela e a Fera), quando o Hulk é, na verdade, O Médico e o Monstro.

Esse romancezinho mela-cueca do Hulk com a Betty Ross é de querer morrer afogado no próprio vômito. Nossa, como esse nhénhénhé cansa. Aquela cena do Hulk na caverna com ela é nível Julia Roberts. Puta merda.

Sim, eu sei que o amor é lindo.

Mas a história ficar minhocando em cima desse romancezinho, e o “lado humano” do Hulk ser a paixão pela Betty Ross é uma bosta. Ponto.

Não quero continuar falando disso.

Vamos para a questão O Médico e o Monstro. Obra que eu li, ao contrário de qualquer HQ do Hulk.

O Médico e o Monstro, num resumo beeeem simplificado, é sobre um senhor respeitável (o médico, Dr. Jekyll) que cria uma poção que permite ele liberar o lado “não-civilizado” dele (o monstro, Mr. Hyde), que sempre esteve lá, nas entranhas dele. Até o ponto que o monstro toma conta da consciência do médico.

Ou seja, é uma história sobre o conflito do lado ético e civilizado da consciência de um homem (vamos dar o nome aleatório de “Superego”) contra o seu lado primitivo, animal e egoísta (vamos dar o nome aleatório de “Blanka”). Nesse conflito do Superego com o Blanka, o pobre Jekyll acaba cedendo cada vez mais para seu “lado negro”, até o ponto que ele se mata.

Um exemplo do que acontece na cabeça do Dr. Jekyll. O Superego dele é daltônico, diga-se de passagem.
Transferindo agora isso tudo para o Hulk, podemos ter uma história muito melhor.

Não, não estou falando que o Banner tem que se matar para a história funcionar. Até porque, como ele mesmo disse, o Hulk cuspiu a bala.

O que faria essa merda toda funcionar e criaria um personagem muito mais interessante é o Banner ter esse “lado negro” dentro dele o tempo inteiro, mas que ele só consegue liberar ao sofrer o acidente com raios gama e virar o Hulk.

Seria como se o Hulk fosse lá e fizesse tudo o que o Banner tem vontade de fazer, mas reprime.

O Banner tá de saco cheio de militares pentelhos? Hulk vai lá e enche de porrada. Banner quer romance com Betty Ross? Hulk vai lá e copula com ela. Cortam o Banner no trânsito? Hulk vai e corta o carro do filho da puta no meio. E assim por diante.

“Então seria, basicamente, Um Dia de Fúria, mas com um cara verde?”

Sim. Exato. Perfeito. Melhor filme de origem do Hulk possível. Com uma cena extendida e bem explícita do Hulk fornicando com a Betty Ross, fica melhor ainda.

E é por isso que o Hulk dos Avengers funciona.

Não, esse Hulk não acasala com ninguém no filme, e, até onde eu saiba, não vai ter nenhuma cena de relações carnais na meia hora de cenas cortadas que vão ser adicionadas no DVD.

Mas o Hulk do Rufallo seria o “estágio seguinte” da relação Superego vs. Blanka, onde eles se entendem e encontram um meio termo para conviver. Basicamente, o Banner aceitou e aprendeu a conviver com a própria raiva e, quando quer/precisa, libera o Hulk pra descarregar o stress.

E, para melhorar a coisa toda, o Hulk ainda tem um papel de “último mecanismo de sobrevivência” do Banner, onde ele brota do nada caso ele sinta que a vida do Banner corre risco.

Com esse detalhe a mais para diferenciar ele do Dr. Jekyll, a relação Banner/Hulk ganha uma camada de complexidade a mais. Ele não é o King Kong, não é a Fera, não é o Mr. Hyde nem é um jovem atormentado e sensível dum filme do Ang Lee. Ele é o Hulk. Porra.

Novamente, nunca li uma HQ do Hulk. E, me baseando no que eu pesquisei nas internets, tenho certeza que vou me decepcionar. Prefiro esse personagem que eu acabei de criar na minha cabeça. Ele é mais profundo que o pires do Hulk do filme do Edward Norton e mais “Blankesco” que o Hulk mimimi do Ang Lee.

Só espero que não rebosteiem tudo no próximo filme, tentando fazer algum romancezinho e transformando o Hulk num Crepúsculo Esverdeado. Se bem que criar esse tipo de expectativa em relação a Hollywood é que nem esperar que Hollywood não cague tudo ao fazer uma adaptação ou uma continuação.

Por isso que eu tenho sonhos e pesadelos com o filme do Freakazoid. Espero que façam algum dia, mas com certeza vão cagar tudo.

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