quinta-feira, 24 de novembro de 2011

A Falácia Highlander.

Não sei quanto à vocês, mas eu, quando criança, lá pela primeira série, era muito fã de bolacha Passatempo. Gostava muito mesmo. Chocolate alpino. Bolacha branca com recheio escuro (em nota não relacionada, isso dá uma boa série de vídeos pornô). Desenhos de animais felizes e coloridos. Muito bom. Fantástico. Do jeito que bolacha deveria ser.

Mas, certo dia, na escolinha, vi um coleguinha com uma bolacha diferente. Trakinas.

Achei aquilo um absurdo. Pra começar, o recheio era rosa. Cor de viado. Com certeza aquele moleque de sete anos de idade ficava chupando pica todo dia depois da aula. Era rosa porque era recheio de morango. Que, como todo mundo sabe, é um recheio ineficiente para o sistema digestivo humano, ao contrário do chocolate alpino - aliás, ele é inferior só de não ter sido concebido nos Alpes Suíços. Sem contar que dlgum designer de bolachas da Kraft metido a artista teve a BRILHANTE idéia de colocar o chocolate na bolacha. “Ai, como sou criativo e revolucionário, mamãe!”. Imbecil. A Nestlé sim sabe o que está fazendo, com sua bolacha tradicional e visionária, que possui o melhor do que há no universo das bolachas recheadas.

Mas o mais nojento era o desenho das bolachas. Cabeças humanas. Obviamente, a Kraft estava tentando agradar ao público canibal. Ou seja, eles só estão olhando para uma minoria da humanidade, uma minoria CRIMINOSA, pois o canibalismo é crime. Nós vivemos em uma sociedade civilizada, que não apóia esse tipo de absurdo. Nós somos o topo da cadeia alimentar e, como tal, devemos demonstrar nossa superioridade sobre os “irracionais”, ingerindo alimentos com reproduções pictográficas deles, para que, assim, eles saibam sempre onde devem ficar. Onde é o lugar deles. NO NOSSO ESTÔMAGO.

Sem contar outros problemas, como a fonte usada para o nome da marca, o formato redondo da bolacha (quadrados com formas arredondadas parecem maiores nas mãos, logo são superiores), a tabela nutricional, enfim, tudo naquela bolacha me revoltava.

Decidido a demonstrar para o mundo que eu, o Glorioso Rei do Correto, estava certo, resolvi escrever uma carta para a revista Exame, listando a total incompetência da Kraft em analisar o mercado de bolachas, e que obviamente a Kraft ia falir por conseqüência de tamanha estupidez concentrada num único produto. O mais legal ia ser quando todos percebessem que eu estava certo e o único meio de fazer bolacha direito é o modo Passatempo. Bolacha branca com recheio de chocolate (uma coisa interracial, tipo Blacks on Blondes, alguém anota aí), e não qualquer chocolate, mas chocolate alpino, num formato quadrado com bordas arredondadas e com desenhos de animais.

Foto resgatada da época.

Vocês acabaram de ver a Falácia Highlander em ação. É um conceito muito simples: “Só pode haver um”. Neste exemplo, só pode haver um tipo de bolacha. E, como vocês devem ter percebido, é um conceito absolutamente estúpido.

Mas, como toda santa estupidez que perdura neste mundo, as pessoas fazem questão de manter essa lógica viva. Principalmente quando relacionado à tecnologia. Quem acompanha esses universos sabem do que eu estou falando, coisas como “o Wii vai ser um fracasso, não possui gráficos HD”. Ou “o Chrome vai vencer a guerra dos browsers”. Ou ainda “O iPad é uma idéia estúpida e não vai vender nada pois não há espaço para esse tipo de gadget, as pessoas não precisam disso.

É uma coisa tão entranhada no mundo da tecnologia (tanto que seu nome é uma referência nerd) que a primeira vez que eu ouvi o termo foi num episódio dos Angry Mac Bastards, e, quando fui pesquisar sua origem, a referência mais antiga que eu achei foi num artigo sobre dois modos diferentes de arquitetura de rede (acho) onde os imbecis ficavam brigando sobre qual era melhor e que a outra devia desaparecer. Aparentemente o criador do termo é um cara chamado Jim Waldo. Ele merece uma salva de palmas.

Se bem que não é uma exclusividade desse universo geek, obviamente. Outros campos de conhecimento humano também são fortemente afetados pela Falácia Highlander.

Onde mais será que só pode haver um?

Voltando à problemática da Falácia Highlander: Ninguém nunca ouviu a frase “o que seria do verde se todos gostassem do azul”? Parece que estou lidando com moleques da primeira série. E sim, parece uma tolice, mas essa frase é verdade. As pessoas tem gostos diferentes e necessidades diferentes, e muitas vezes produtos diferentes resolvem suas vidas.

Mas somos bichos egoístas e com a cabeça enfiada dentro do próprio umbigo. Fodam-se os outros, eu estou certo. É o que todo mundo pensa. Inclusive eu.

Da próxima vez que você ver alguma coisa que parece crônicamente estúpida e de qualidade duvidável, respire fundo e veja se não existe algum tipo de gente que vai achar alguma utilidade para isso. Não fuja para a Falácia Highlander.

Eu tenho toda uma série de teorias para explicar o que leva as pessoas a recorrerem à Falácia Highlander. E eu poderia muito bem explaná-las aqui, mas prefiro ir caso a caso, olhando como as pessoas aplicam ela em diversos campos. Sem contar que assim eu crio temas para mais posts.

Por isso, vou parando por aqui. Já me estiquei demais. Mas eu ainda vou voltar neste assunto. Várias vezes. Até virou tag. [Edição: desencanei da tag] Preparem-se.

Um comentário:

  1. Adorei sua referência de "alguma coisa que parece crônicamente estúpida e de qualidade duvidável" AHAHAHAHAHAHAHA

    MAAAAAAAIIIIIIIISSSSSSS \o/

    ResponderExcluir

Antes de discordar, veja o nome deste blog.